Pré-candidata à Prefeitura de Maringá, a vereadora conversou com o Maringá Post nesta quinta-feira (28). Na visão dela, cidade precisa trabalhar melhor políticas já existentes para reinserção social das pessoas em situação de rua: “90% delas não querem estar ali”.
Por Victor Ramalho
Após uma vida inteira dedicada à pesquisa sobre desigualdades sociais na região metropolitana de Maringá, Ana Lúcia Rodrigues (PDT) decidiu levar para o meio político o que desenvolveu em campo. Eleita vereadora em 2020 com 2.707 votos, a parlamentar se destacou no legislativo ao propor projetos voltados à assistência de pessoas em situação de rua, que foram objetos de sua observação na coordenação do Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde permaneceu por mais de 30 anos.
Apesar de alguns projetos terem causado polêmica e, até mesmo, terem resultado em ameaças, ela manteve a bandeira das causas sociais erguida. Agora na condição de pré-candidata à Prefeitura de Maringá, Ana Lúcia voltou a conversar com a reportagem nesta quinta-feira (28), para participar da Série de Entrevistas do Maringá Post com os prefeituráveis.
Entre os vários assuntos abordados na entrevista, a pré-candidata voltou a falar, claro, sobre medidas para cuidar da população em situação de rua. Na visão da parlamentar – e também pesquisadora do setor -, os moradores de rua estão muito longe de ser o principal problema que Maringá enfrenta atualmente, diferente do que é apontado por outros pré-candidatos.
Segundo a vereadora, a questão é “simples” de resolver. Ela aponta para a necessidade de tirar do papel políticas de reinserção social já existentes. Ana Lúcia considera ainda que o problema é menor do que o apontado pelo senso comum e, para isso, ela faz uma comparação entre o tamanho da população maringaense e a quantidade de pessoas que vivem nas ruas.
“Se os moradores de rua forem lidos como o maior problema que a cidade tem, então temos uma leitura muito enviesada da realidade. Ele é um problema grave, sem dúvidas, mas não é, nem de longe, o maior dos problemas, pois para resolver essa questão basta vontade política e investimentos. Em um universo de 420 mil moradores, estamos falando de cerca de mil pessoas nessa situação. Se uma gestão com R$ 3 bilhões anuais de orçamento não tiver investimentos em um conjunto de políticas setoriais para responder a necessidade de reintegração dessas pessoas, de fato será um problema a ser arrastado por anos, como já vem sendo”, disse.
De acordo com a pré-candidata, o caminho para resolver a questão passa por um trabalho coletivo entre Educação, Saúde e Assistência Social. O setor de Segurança Pública, para ela, “nem precisa participar desse processo”.
“Nós já temos políticas públicas sobre esse setor que estão dormindo na gaveta. É preciso lidar com essa situação de maneira racional, eu trabalho com a população de rua há anos e posso dizer que 90% dessas pessoas não querem continuar nas ruas, apesar do que os desinformados dizem. Elas não escolhem estar nas ruas, elas estão por questões extremamente complexas de suas vidas. A Segurança Pública nem precisa participar desse processo. Uma pessoa em situação de rua precisa de Saúde, de Assistência Social, de emprego e renda, enfim, de várias pastas articuladas em torno de ações de reinserção. É muito simples de resolver, desde que exista vontade política”, completou.
Ainda na entrevista, Professora Ana Lúcia classificou o transporte coletivo como o setor mais problemático de Maringá e que demandaria mais atenção de sua gestão, caso eleita. Para a mobilidade urbana, a parlamentar considera ser necessário iniciar uma discussão sobre a tarifa-zero e também sobre a implantação de modais mais modernos, como o veículo leve sobre trilhos (VLT). Confira a entrevista completa abaixo:
- Neste momento, como está a questão política? A senhora é apontada como pré-candidata por muitas lideranças, mas já está decidida a disputar o Executivo?
Ana Lúcia: “Eu estou no cenário eleitoral desde 2016, quando fui candidata a vice-prefeita junto com o Humberto Henrique, depois eleita vereadora em 2020, em 2022 me coloquei à disposição novamente e é sempre essa a minha condição. No ano passado assumimos a presidência do PDT em Maringá e a vice-presidência estadual, então eu tenho um compromisso muito grande com o partido. Meu nome está à disposição e, de fato, o projeto estadual do PDT é ter nomes na majoritária em pelo menos os 30 maiores municípios do Estado, logo, estou disposta sim a sair como candidata a prefeita”.
- Como tem sido as conversas com outras legendas? Já temos o desenho de uma possível coligação pensando em 2024?
Ana Lúcia: “Nós sabemos que temos, pelo menos, uns quatro grupos anunciados e se articulando visando a disputa. O PDT, junto com outras 9 legendas, pensamos em formar uma frente, pois nós queremos estar no jogo. Temos pelo menos 4 nomes nessa frente que também colocam seu nome à disposição para ser a candidatura única da frente. Temos articulado para termos, dentro dessa frente, um único nome concorrendo a prefeito ou prefeita e que os demais partidos apoiem. Juntos, temos uma visão muito lúcida de que a gente chegaria ao segundo turno com esse arranjo. Só esse ano, já fizemos duas reuniões e, no início de outubro, faremos uma nova reunião de análise da conjuntura atual, para irmos nos firmando como frente”.
- Hoje você tem uma postura de bastante independência na Câmara, embora também tenha uma relação muito cordial com a atual gestão. Considerando que se lance como candidata, seguiria uma postura de situação, oposição ou independência da atual gestão?
Ana Lúcia: “A minha postura como vereadora em relação a gestão atual já é independente. Não sou da base, em muitos momentos me coloquei contrária a alguns encaminhamentos. Na maior parte dos momentos votei favoravelmente nas matérias, por entender que eram propostas benéficas para a cidade. Acho a gestão Ulisses Maia infinitamente melhor do que as anteriores, todavia, ela também deixa muito a desejar. Há uma série de questões que estarão na agenda política do ano que vem e também na minha pauta. Se eu acreditasse que a gestão caminha para um rumo 100% condizente com o que acredito, eu apoiaria num processo eleitoral, mas não é isso que muito provavelmente irá acontecer. Eu, por exemplo, terei muitas críticas a fazer. Há um ponto que posso citar que são as obras, pois há muitas delas que ainda precisam ser concluídas. Como vereadora, acompanho esse processo de perto e há um problema muito grande no processo licitatório da prefeitura que, na minha avaliação, é um problema administrativo, as equipes dos setores são muito pequenas e são setores cruciais, então vejo que há muito a ser feito”.
- Na visão da pré-candidata, qual o maior problema que a cidade enfrenta atualmente? E como fazer para resolver isso?
Ana Lúcia: “Acredito que uma cidade que cresce na proporção de Maringá precisa proporcionar um setor de mobilidade urbana que atenda essas necessidades, e esse atendimento precisa se dar por meio do transporte coletivo, que considero um dos pontos mais cruciais. Acredito que o contrato feito na gestão Silvio Barros com a TCCC, que é praticamente inquebrável, que garante todos os bônus para a empresa e o ônus é dividido com a cidade. Se o contrato é inquebrável, por conta da multa bilionária, é preciso verificar algumas questões e se antecipar. Penso que esse subsídio que hoje o município paga à empresa pode ser convertido em tarifa-zero para o usuário, então é uma discussão que tem que ser levantada. Também vejo outros problemas na estrutura da cidade, como a questão do saneamento básico, mas penso que a mobilidade é um problema que vai nos estrangular futuramente se ações não forem tomadas imediatamente”.
- Outros pré-candidatos, já ouvidos por nós, falam muito da questão da população em situação de rua, alguns considerando como um dos principais problemas que Maringá enfrenta na atualidade. Você trabalha por esta causa há muito tempo. O que pensa sobre o assunto?
Ana Lúcia: “Se os moradores de rua forem lidos como o maior problema que a cidade tem, então temos uma leitura muito enviesada da realidade. Ele é um problema grave, sem dúvidas, mas não é, nem de longe, o maior dos problemas, pois para resolver essa questão basta vontade política e investimentos. Em um universo de 420 mil moradores, estamos falando de cerca de mil pessoas nessa situação. Se uma gestão com R$ 3 bilhões anuais de orçamento não tiver investimentos em um conjunto de políticas setoriais para responder a necessidade de reintegração dessas pessoas, de fato será um problema a ser arrastado por anos, como já vem sendo. Nós já temos políticas públicas sobre esse setor que estão dormindo na gaveta. É preciso lidar com essa situação de maneira racional, eu trabalho com a população de rua há anos e posso dizer que 90% dessas pessoas não querem continuar nas ruas, apesar do que os desinformados dizem. Elas não escolhem estar nas ruas, elas estão por questões extremamente complexas de suas vidas. A Segurança Pública nem precisa participar desse processo. Uma pessoa em situação de rua precisa de Saúde, de Assistência Social, de emprego e renda, enfim, de várias pastas articuladas em torno de ações de reinserção. É muito simples de resolver, desde que exista vontade política”.
- Todos os pré-candidatos que conversaram com a reportagem foram unânimes em apontar a Saúde como um setor problemático em Maringá. Que medidas você pensa para o setor?
Ana Lúcia: “Quanto a Saúde, realmente, talvez seja uma das maiores reclamações da população. No entanto, precisamos considerar o seguinte: muito do que temos de problema nesse setor atualmente diz respeito à Saúde básica. É preciso fazer rearranjos no sistema para o atendimento básico. Mas, para fazer esses arranjos, é preciso rever questões básicas, como o pagamento do piso da enfermagem e dos técnicos, que as gestões pelo Brasil vivem a fugir dessas responsabilidades. Se estamos falando de Saúde Básica, precisamos valorizar os nossos servidores. Há condições de trabalho que precisam ser melhoradas. Quando tivermos um corpo de servidores que não precise mais lutar a todo instante por questões básicas, certamente o atendimento irá melhorar”.
- Sabemos que ainda é cedo, mas já conseguimos falar em propostas concretas para o ano que vem?
Ana Lúcia: “Precisamos dizer que para uma cidade sustentável economicamente e também ambientalmente, a mobilidade precisa ser garantida via transporte coletivo. Podemos dizer que ônibus é algo obsoleto, uma cidade plana como Maringá pede um veículo leve sobre trilhos (VLT). Eu tomaria isso como uma questão muito importante. Se conseguirmos implantar tarifa-zero e transporte de massa de qualidade, que estimule as pessoas a deixarem seus carros em casa, será um grande avanço. Isso é gestão municipal, busca de recursos e gestões integradas com outras cidades, uma vez que penso que podemos integrar cidades do entorno, como Marialva e Sarandi nessa rede de transportes, sempre dialogando também com o governo estadual”.
Sobre a Série de Entrevistas do Maringá Post com os pré-candidatos a prefeito
Iniciada no dia 11 de setembro, a Série de Entrevistas do Maringá Post se propõe a ouvir todos os pré-candidatos à Prefeitura de Maringá. Dois pré-candidatos serão entrevistados por semana, com as reportagens indo ao ar nas segundas e quintas-feiras, sempre às 12h. Até o momento, já foram ouvidos Homero Marchese (Republicanos), Humberto Henrique (Solidariedade), Sidnei Telles (Avante), Doutor Batista (União Brasil) e Flávio Mantovani (Solidariedade).
A ordem das entrevistas foi definida a partir da disponibilidade de agenda dos entrevistados e o calendário completo das publicações do mês de setembro pode ser conferido neste link. A agenda das entrevistas do mês de outubro será divulgada nos próximos dias.
Foto: Arquivo/CMM
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