Pontos de alagamento em dias de chuva aumentam em Maringá

Uma das regiões que mais têm sofrido com a situação é a da Avenida Kakogawa. Processo de “impermeabilização” do solo é apontado como um dos principais fatores que contribuíram para o avanço do problema.

  • Uma das regiões que mais têm sofrido com a situação é a da Avenida Kakogawa. Processo de “impermeabilização” do solo é apontado como um dos principais fatores que contribuíram para o avanço do problema.

    Por Victor Ramalho

    O problema ficou famoso em grandes metrópoles do Brasil, como São Paulo ou Rio de Janeiro e, durante muito tempo, se pensou que era algo distante de nossa realidade. No entanto, Maringá, que tem apenas 3% da população da capital paulista, também vem sofrendo, mais especificamente nos últimos anos, com alagamentos em zonas urbanas em dias de chuva mais intensa.

    Conforme um levantamento feito pela reportagem, entre 2020 e 2023, houve registros de alagamentos em Maringá em, ao menos, oito ocasiões diferentes, todas após temporais. Em todas as situações, ao menos duas regiões da cidade mostraram-se mais propensas a situação, como as Avenidas Colombo e Kakogawa. No temporal do dia 3 de março, os alagamentos se repetiram. 

    Embora não seja possível apontar um único fator que contribuiu para o cenário encontrado atualmente, a adversidade tem relação direta com o crescimento urbano e populacional. O Maringá Post conversou com o professor de Engenharia Civil e coordenador do programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Sandro Lautenschlager, que apontou alguns motivos que levaram Maringá a desenvolver pontos de alagamento.

    De acordo com o especialista, o que se observa na cidade atualmente é um processo chamado de “impermeabilização do solo”, algo que já ocorre há vários anos. Em uma linguagem mais simples, é como se medida em que a cidade se desenvolve com as edificações, os locais para onde a água escorre ficam cada vez mais limitados.

    “Com os prédios, asfalto e poucas áreas verdes, algo que é comum em grandes metrópoles, não sobram muitos lugares onde a água pode infiltrar no solo. Se voltarmos alguns anos no tempo, muitas edificações tinham espaços que não eram pavimentados e a água da chuva se infiltrava no solo por ali mesmo. Hoje, a maioria dos prédios faz essa coleta da água com calhas e despeja tudo nas vias públicas, sobrecarregando os sistemas de drenagem”, diz o professor.

    Sandro tem explica que os sistemas de drenagem atualmente funcionando em Maringá foram projetados em um cenário diferente do atual. Normalmente, as galerias pluviais são pensadas em um sistema de “parceria” com os caminhos naturais, ou seja, o solo absorve uma parte da água e as galerias auxiliam com o restante. Mas hoje, as galerias precisam fazer quase todo o serviço.

    “Há cerca de 50 anos, quando os sistemas de drenagem de Maringá foram projetados, havia um ‘coeficiente de retorno’, como chamamos. Em tese, nós considerávamos que 60% da água da chuva era absorvida pelas galerias pluviais e o restante naturalmente pelo solo. Hoje, temos pontos da cidade onde as galerias precisam fazer a coleta de 100% da água da chuva.”, explica o especialista.

    “Precisamos atuar na causa e não apenas na consequência”

    O professor coordena, há vários anos, um grupo de pesquisa dentro da UEM que estuda o ciclo da água no meio urbano. Ele diz que medidas emergenciais que normalmente são discutidas, como aumento das galerias ou das bocas de lobo, não solucionariam o problema em definitivo.

    Segundo ele, é preciso buscar caminhos para que a água volte a infiltrar diretamente no solo. Ele usa o Parque do Ingá, atualmente a maior área verde de Maringá, como exemplo.

    “Algumas pessoas realmente dizem ‘vamos aumentar o tamanho das bocas de lobo’ ou falam em colocar tubulações mais largas na galeria, para aumentar a capacidade de absorção, mas isso não solucionaria o problema. A natureza nos mostra que o solo é um importante aliado nesse processo. Vamos pegar como exemplo o Parque do Ingá, que é o mais próximo que temos em termos de absorção de água da chuva em um modelo ideal. Com a área verde, com o solo, a água da chuva cai, é absorvida, mas não de forma imediata. Existem as árvores, as folhas que retém parte da água e só as liberam depois, de forma gradativa, dando tempo para o solo absorver. Precisamos fazer com que a água volte a infiltrar no solo e não seja coletada apenas pelas galerias”, finaliza.

    Grupo de trabalho avalia a questão dos pontos de alagamento em Maringá

    Em janeiro deste ano, a Prefeitura de Maringá designou um grupo de trabalho para avaliar ações para sanar o problema dos alagamentos na cidade. A equipe é formada por técnicos de várias secretarias municipais, como as secretarias de Mobilidade Urbana, Limpeza Urbana, Instituto Ambiental (IAM) e Instituto de Pesquisa e Planejamento (Ipplam), além de convidados da sociedade civil.

    O objetivo da formação do grupo é a realização de estudos de medidas que podem ser tomadas em médio e longo prazo. Conforme a diretora-presidente do Ipplam, Bruna Barroca, as pesquisas vão embasar futuros relatórios com sugestões de medidas para combater o problema.

    “Maringá tem crescido muito, fora as adversidades de tempo, como as chuvas severas que tivemos nos últimos meses. Isso demanda um sistema próprio captação de água e é nisso que estamos trabalhando. Os técnicos estão levantando dados, fazendo estudos e pretendemos transformar essas medidas em projetos de lei, que antes serão discutidos com a população”, disse.

    Uma das medidas estudadas é a construção dos “Jardins de Chuva”, espaços que visam facilitar o escoamento da água no solo. A ideia é que lugares como esse sejam implantados inicialmente em prédios públicos. O projeto, no entanto, ainda está sendo analisado, assim como outras soluções.

    A expectativa é que o primeiro relatório de trabalho deste grupo técnico seja finalizado nos próximos 45 dias.

    Foto: Ilustrativa/Reprodução/Twitter

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