Apenas 12% dos prefeitos eleitos no primeiro turno são mulheres, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O número é praticamente igual ao registrado em 2016, quando 11,7% dos prefeitos eleitos eram mulheres. No entanto, os dados não representam a realidade do Brasil, já que mais de 51,8% dos brasileiros são mulheres, segundo o IBGE. Além disso, elas representam a maioria do eleitorado.
Das 30 cidades que formam a Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), apenas quatro elegeram prefeitas mulheres em 2020, mesmo número registrado nas eleições de 2016. Foram eleitas Suzie Pucillo (PP), em Astorga, Edna Contin (PSD), em Floraí, Enfermeira Ivonéia (Cidadania), em Mandaguari, e Dra Geny (PV), em Santo Inácio.
Astorga, distante 49 km de Maringá, a eleição vai ficar para a história. Suzie Pucillo (PP) foi a primeira mulher que disputou o cargo na cidade e venceu com 5.663 votos, o que representa 38,62% dos votos válidos. “Mulheres na política. Elas querem, elas podem, Astorga precisa”. Essa é a frase que estampou a camiseta de campanha e o resultado das urnas.
Advogada, administradora de empresas e palestrante, Suzie conclui o primeiro mandato como vereadora na Câmara de Astorga enquanto se prepara para assumir a prefeitura. Ela concorreu pela primeira vez a um cargo eletivo em 2012, como candidata a vereadora. Na época, obteve 417 votos, a quinta maior votação, mas não foi eleita. Em 2016, com 416 votos, foi eleita vereadora.
Além da baixa representatividade, quando são eleitas as mulheres enfrentam dificuldades para atuar em um ambiente predominantemente masculino. Durante o período na Câmara, Suzie Pucillo percebeu que as opiniões e ideias dela não eram ouvidas pelos colegas homens.
“Enquanto vereadora, fui muito discriminada na Câmara. Nessa legislatura éramos em duas mulheres e tudo que nós falávamos às vezes sentíamos, principalmente da mesa diretora e do presidente, que não nos davam ouvidos”, afirma.
Na visão de Suzie Pucillo, que é presidente municipal do Progressistas (PP), para garantir maior participação das mulheres na política é necessário acabar com a ideia de buscar mulheres apenas para cumprir a cota de 30% das candidaturas. “A mulher tem que conquistar seu espaço, mas os presidentes masculinos de partidos às vezes colocam a mulher apenas para cumprir cota. Tem que fazer reuniões, orientar e buscar desenvolver o potencial da mulher.”
A partir de 2021, Suzie afirma que terá alguns desafios no comando da cidade como a limpeza pública, que segundo ela não é realizada no município. De acordo com a prefeita eleita, serão necessárias ações na área de habitação, com a construção de casas populares para famílias de baixa renda, investimentos na saúde para redução das filas para consultas e exames e incentivos para geração de emprego e renda.
Mandaguari elegeu a segunda prefeita da cidade
Em Mandaguari, distante 31 km de Maringá, a Enfermeira Ivonéia (Cidadania) foi eleita com 11.622 votos, o que representa 57,86% dos votos válidos. Durante a trajetória política, foi a terceira vez que se candidatou à prefeitura. Com a vitória, se tornou a segunda mulher responsável por administrar a cidade. A primeira mulher prefeita, Maria Inês Botelho, foi eleita há 24 anos e administrou a cidade entre 1997 e 2000.
Ivonéia nasceu e foi criada em São João do Caiuá, distante 98 km de Maringá. Formada em enfermagem, ela se mudou para Mandaguari em 1994 para trabalhar no hospital geral da cidade. Seis anos após se mudar para a cidade, em 2000, ela disputou uma cadeira na Câmara de Vereadores e foi eleita. Em 2004, Ivonéia foi reeleita com 1.113 votos e se tornou a vereadora mais votada da história da cidade.
Servidora pública há 26 anos, ela diz acreditar que o contato com as pessoas a levou para a política. Apesar disso, Ivonéia conta que nem sempre era compreendida por outros políticos homens, principalmente quando foi vereadora. Ela sempre escutou frases como “você é mulher, não é capaz” ou “só carisma não administra”, apesar de administrar um comércio de embalagens na cidade.
“Com o passar do tempo e o trabalho que vamos desenvolvendo, nós mulheres começamos a mostrar o outro lado da moeda. Mas para que tudo isso aconteça, primeiro sofremos por coisas que não têm necessidade”, afirma a prefeita eleita de Mandaguari. Segundo ela, as mulheres poderiam ter uma participação maior na política, mas algumas ainda sentem medo. Além disso, existem homens que não aceitam ter uma mulher em espaços de poder.
De acordo com Ivonéia, a solução para a falta de representatividade das mulheres na política passa por um convite maior dos partidos. A legislação eleitoral define que as mulheres devem ocupar pelo menos 30% da chapa de vereadores, mas a prefeita eleita afirma que a mulher ainda se sente inferiorizada e precisa do apoio partidário.
“Algumas mulheres me dizem: “nossa Ivonéia não sei como você tem coragem de enfrentar esse bando de homens”, e olha que tenho uma votação expressiva entre as mulheres. Esse negócio que mulher tem ciúmes de mulher, eu não acredito”, diz.
Para os próximos quatro anos, Ivonéia afirma que terá muito trabalho na Prefeitura de Mandaguari. Ela explica que a cidade precisa elaborar o Plano Diretor, para fortalecer o desenvolvimento econômico do município. Como enfermeira, na saúde ela sabe que será cobrada, principalmente em relação à demanda de consultas e exames e nas estratégias de combate à pandemia do coronavírus.
Para as mulheres, Ivonéia pretende implantar o programa “creche corujinha”, para que as mães que trabalham à noite tenham onde deixar os filhos. Além disso, ela pretende criar horários diferenciados para que as mulheres possam fazer exames como preventivo e mamografia.
Comentários estão fechados.