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Em entrevista ao podcast Ponto a Ponto, do Maringá Post, o vereador Mário Hossokawa, um dos nomes mais longevos da política maringaense, fez um amplo balanço sobre sua trajetória, as transformações da cidade e os desafios que marcam o atual momento político. Com oito mandatos na Câmara Municipal e 12 anos acumulados na presidência do Legislativo, Hossokawa compartilhou relatos históricos, bastidores da política local e impressões sobre a gestão do prefeito Silvio Barros (PP).
De pioneirismo a metrópole
Hossokawa relembrou o cenário de Maringá quando iniciou sua carreira política, ainda em 1983. Segundo ele, áreas hoje urbanizadas, como a Zona 4, Zona 5 e Jardim Alvorada, sequer tinham asfalto ou infraestrutura básica. “Cheguei aqui em 1959, quando lugares como a Avenida Colombo eram praticamente inexplorados”, disse.
Ao longo das décadas, o vereador acompanhou obras que moldaram o crescimento da cidade, como a duplicação da Avenida Morangueira e a mudança da rodoviária para a Avenida Tuiuti. Hossokawa citou o ex-prefeito Said Ferreira como responsável por decisões estratégicas, mesmo quando contrárias às recomendações de comissões técnicas, o que, segundo ele, acabou se provando acertado. “Ele enfrentou críticas, mas tomou decisões firmes que deram certo.”
União política e sociedade organizada
Um ponto enfatizado pelo parlamentar foi a união entre classe política e sociedade civil organizada como motor para o desenvolvimento de Maringá. “Houve períodos em que a cidade parou por conta de brigas políticas. Depois, quando prefeitos, deputados e vereadores passaram a trabalhar juntos, a cidade começou a avançar de forma consistente”, explicou.
Para ele, entidades como o Codem — Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, surgido do movimento “Repensando Maringá” — foram fundamentais para criar uma visão estratégica. “Até governadores de outros estados vêm aqui para entender como Maringá funciona”, destacou.
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Polêmica sobre a presidência e desgaste político
O ex-presidente falou também sobre o episódio que resultou em seu afastamento do comando da Câmara. Ele havia sido eleito para seu sétimo mandato como presidente, mas foi impedido de seguir no cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte entendeu que sua reeleição não poderia ocorrer após um marco temporal estabelecido em fevereiro de 2022, mesmo que Hossokawa tivesse obtido quase unanimidade entre os vereadores.
“Foi um desgaste enorme, mas não tenho paixão pelo cargo de presidente. Continuo o mesmo vereador, seja na primeira secretaria ou no plenário”, afirmou. Ele contou que, apesar de decisões semelhantes terem sido permitidas em outros estados, acabou sendo afastado. “Decisão judicial se cumpre, não tem jeito.”
Ofensas, redes sociais e ataques pessoais
Hossokawa também comentou os ataques pessoais que sofreu nas redes sociais durante o último mandato. Ele relatou ter sido alvo de acusações graves, como envolvimento com corrupção, inclusive sendo chamado de integrante de “quadrilha”, embora, segundo ele, sequer estivesse em mandato na época citada nos ataques.
“As pessoas esquecem que eu tenho família. Foi muito doloroso. Quase perdi a eleição por causa disso”, desabafou. Diante disso, decidiu não mais rebater acusações na tribuna. “Agora, qualquer ataque pessoal vai ser resolvido na polícia ou na Justiça.”
Polêmica na Câmara e nova presidência
Perguntado sobre a ampliação do número de cadeiras na Câmara, que saltou de 15 para 23 vereadores, Hossokawa avaliou que a mudança impactou profundamente a rotina do Legislativo. “Vieram novos vereadores com muita energia, mas sem saber exatamente o que é possível fazer. Temos orientado para evitar ilegalidades ou propostas inconstitucionais.”
Ele também evitou comentar sobre polêmicas recentes da atual presidência da Câmara, sob o comando da vereadora Majô, como o caso de altos valores pagos em horas extras a vigilantes. “Prefiro não opinar sobre a gestão de quem está lá agora. Seria desagradável para mim”, justificou.
PPP da Iluminação Pública
Outro tema abordado foi a Parceria Público-Privada (PPP) da iluminação pública. Segundo o vereador, o projeto foi um dos mais debatidos na história da Câmara, tendo seu prazo reduzido de mais de 20 anos para cerca de 13 anos. Mesmo assim, ele se disse insatisfeito com a qualidade das lâmpadas implantadas. “Trocaram lâmpadas na minha rua e eu sequer percebi diferença. Não é a iluminação que eu esperava”, criticou.
Hossokawa revelou que há uma comissão na Câmara estudando o contrato e solicitando a contratação de técnicos especializados para verificar se as luminárias e equipamentos estão dentro das especificações. “Se não estiverem, o contrato precisa ser rescindido.”
Saúde, desafios pessoais e atual cenário político
O parlamentar também compartilhou um drama pessoal: enfrentou uma doença autoimune grave — miopatia muscular necrotizante — que quase o impossibilitou de seguir na vida pública. “Cheguei a ficar numa cadeira de rodas, sem conseguir sequer tomar banho sozinho. Hoje estou bem, levando vida normal, graças a Deus”, disse, visivelmente emocionado.
Sobre o início da gestão do prefeito Silvio Barros, Hossokawa demonstrou preocupação. Segundo ele, Silvio, que ficou 12 anos afastado de cargos públicos, encontrou uma cidade com problemas mais complexos, principalmente nas áreas da saúde, segurança, falta de equipamentos públicos e aumento do número de moradores em situação de rua. “Ele achava que a situação estava melhor. Mas não está. A cidade cresceu, e os problemas aumentaram”, avaliou.
Ainda assim, o vereador diz acreditar na recuperação da gestão a partir do próximo ano. “Estamos ao lado dele para ajudar. Mas, por enquanto, está difícil. Recebemos muitas reclamações, e os servidores ainda estão se adaptando às mudanças.”
Planos para o mandato
Indagado sobre seus planos, Hossokawa afirmou que pretende seguir trabalhando como sempre fez, mantendo diálogo com todas as correntes políticas. “Sou o mesmo, esteja na presidência ou como simples vereador. Continuo à disposição da comunidade para ajudar.”
A entrevista na íntegra pode ser assistida no vídeo abaixo:
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