Governo argentino proíbe linguagem neutra na administração pública

A medida foi anunciada nesta terça-feira (27/02) pelo porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni.

  • Foto: Tomas Cuesta/Getty Images

    O presidente da Argentina, Javier Milei, que se elegeu com um discurso de defesa da liberdade, vai vetar o uso da linguagem inclusiva e de “tudo relacionado à perspectiva de gênero” nos documentos da administração pública. A medida foi anunciada nesta terça-feira (27/02) pelo porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni.

    Segundo Adorni, não será permitido usar a letra E, o arroba ou o X, nem o feminino desnecessário, em todos os documentos oficiais. Esses recursos são usados por defensores da linguagem inclusiva para adaptar palavras que se referem a um coletivo ou que só existem na forma masculina ou feminina, buscando contemplar pessoas que não se identificam com esses gêneros.

    A linguagem inclusiva, que era opcional, era usada por alguns órgãos de Estado, como o Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (Inadi), que foi extinto pelo governo na semana passada sob a alegação de que “não servia para nada”. Adorni disse que o governo não vai participar do debate sobre a linguagem inclusiva, pois considera que as perspectivas de gênero foram usadas como negócio político. Ele informou que uma resolução parecida já havia sido adotada pelo Ministério da Defesa e agora seria ampliada para todo o governo.

    De acordo com o comunicado da Defesa publicado nesta segunda, o objetivo da resolução é “eliminar formas incorretas de linguagem que possam gerar uma interpretação errônea” do que se quer comunicar, como “soldada”, “sargenta” ou “soldades”, que seriam uma descaracterização do idioma espanhol. A pasta alega que isso afetaria “a execução de ordens e o desenvolvimento das operações militares”.

    Linguagem neutra é tema polêmico Milei já criticou no passado a linguagem inclusiva, chamando-a de “ideologia de gênero”, e acusando-a de ser um instrumento de “doutrinamento” do “marxismo cultural”, suposto movimento para subverter a ordem social no Ocidente.

    O governo de Milei segue a orientação da Real Academia Espanhola (RAE), uma instituição que normatiza a língua espanhola, que em um documento de 2020 afirmou que o uso da arroba ou das letras E e X como marcadores de gênero inclusivo é alheio à morfologia do espanhol, além de desnecessário, já que o masculino gramatical já cumpre essa função.

    Para a RAE, o sexismo e a misoginia não são características da língua, e sim do uso que as pessoas fazem dela. “[Isso] Não se corrige melhorando a gramática, e sim erradicando preconceitos culturais, através da educação.”

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