A governadora Cida Borghetti, candidata à reeleição pela coligação PP / PTB / DEM / PMN / PMB / PSB / PSDB / PROS, explica os motivos que a levaram a pedir a retirada da candidatura ao Senado do ex-governador Beto Richa, defende a autonomia financeira da Universidade Estadual de Maringá e, em resposta ao prefeito Ulisses Maia, afirma que a solução para o tráfego na região sul da cidade é o Contorno Sul Metropolitano.
A candidata do PP também responde perguntas sobre isenções fiscais e transporte metropolitano, afirma que acredita no projeto do Trem Pé Vermelho, entre Maringá e Londrina, e que pode tentar reabrir o Horto Florestal à visitação pública, estudando uma alternativa viável, caso o prefeito de Maringá desista da ideia de uma intervenção municipal.
Leia a entrevista exclusiva de Cida Broghetti, organizada pelo Maringá Post, que também convidou para fazer perguntas aos quatro candidatos melhores posicionados o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM) Michel Felippe e o reitor eleito da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Júlio César Damasceno, além do prefeito.
Maringá Post – Candidata Cida Borghetti: o candidato ao Senado da sua coligação, o ex-governador Beto Richa, de quem a senhora foi vice, esteve preso por suspeita de corrupção. A senhora pediu a retirada da candidatura dele, mas Richa se mantém candidato. Essa situação prejudica a sua campanha? Por que?
Cida Borhgetti – Solicitei a retirada dele da chapa por infidelidade à coligação e o processo já foi protocolado no TRE. O ex-governador Beto Richa é presidente estadual do PSDB e permitiu que líderes do partido, como o deputado estadual Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa, e o deputado federal Valdir Rossoni, ex-chefe da Casa Civil, entrassem na campanha do candidato Ratinho Jr (PSD). Assim como o seu ex-secretário da Agricultura, Norberto Ortigara, que é um dos coordenadores de Ratinho. E ainda tem o prefeito de Guarapuava, Cezar Silvestri Filho, que coordena a campanha de Richa/Ratinho.
Além disso, a coligação também solicitou, por minha determinação, a saída dele da chapa para que possa se dedicar a defesa da operação Rádio Patrulha, do Gaeco, e da Lava Jato. Não admito nenhuma das situações. Não me afasto um milímetro das minhas convicções. Por isso, acredito que as decisões que tomei engrandecem a minha candidatura e não o contrário.
Maringá Post – Quais as medidas práticas que o seu governo fará para impedir e combater a corrupção e, caso ocorra desvios de conduta, punir os responsáveis?
Cida Borghetti – Como tenho dito, a mudança já começou. Uma das primeiras medidas que adotei ao assumir o governo foi a criação da Divisão de Combate à Corrupção. É uma unidade policial com total autonomia para investigar qualquer denúncia contra servidores públicos ou crimes contra a economia. Em relação a servidores investigados, afastei todos. No meu governo não admito desvios. A partir de uma denúncia concreta, ou a pessoa pede demissão ou é demitida.
Michel Felippe – Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá: A senhora se compromete a não aumentar impostos para empresários e para a sociedade durante sua gestão, caso eleita? E quais as medidas que sua gestão adotará para reduzir, ou pelo menos não aumentar, os gastos públicos nos próximos quatro anos?
Cida Borghetti – Meu governo já é parceiro do setor produtivo. Dei duas demonstrações muito claras de como governo em relação aos empreendedores do Paraná. Em razão da greve dos caminhoneiros, posterguei o recolhimento do ICMS. Agora, propus um projeto de refinanciamento de dívidas tributárias. É uma medida para aliviar o caixa neste período do ano e auxiliar os empresários a colocar seus débitos em dia.
Em relação à carga tributária, nosso governo já demonstrou disposição para o diálogo com o setor empresarial e, havendo necessidade de readequar alíquotas para que empresas paranaenses não percam competitividade, estamos dispostos a fazê-lo. O certo é que não podemos aumentar a carga tributária.
Minha disposição é reduzir os gastos públicos, entendendo que a máquina pública é que precisa se ajustar àquilo que a sociedade tem condições de financiar com o pagamento de tributos. Desde que assumi, reduzi em mais da metade o gasto com voos fretados, também já mandei recolher carros e celulares corporativos dos secretários, criamos sistemas via internet para realização de audiências judiciais com presos, poupando policiais e viaturas do serviço de escolta.
Iniciamos o processo para a contratação de aplicativos de transporte. A nossa meta é usar carros da frota oficial que estão em serviço administrativo em atividades que atendam diretamente a população. Já temos veículos que foram direcionados para a Divisão de Combate à Corrupção e a Patrulha Maria da Penha.
A Ilha das Cobras é agora um Parque Estadual, que abrigará uma espaço para ensino e pesquisa, e a Granja do Canguiri está sendo usada para treinamento de professores e diretores da rede estadual. Meu compromisso é cortar aquilo que é dispensável para investir no que faz diferença na vida das pessoas.
Júlio César Damasceno – reitor eleito da Universidade Estadual de Maringá: Como a senhora pretende atuar no que diz respeito à reposição do quadro de servidores nas universidades paranaenses e qual a sua opinião sobre Autonomia Universitária?
Cida Borghetti – Defendo a autonomia administrativa e pedagógica das nossas universidades. Proponho, inclusive, a avançar nesta questão e debater a independência financeira das instituições, que ainda não há. Apenas a título de ensaio, poderíamos estudar, em conjunto, uma nova configuração para a disponibilidade de recursos orçamentários para o ensino superior, nos moldes do que cabe a outros poderes, ao Ministério Público e a Defensoria Pública.
Nesta hipótese, o gestor de cada uma das sete universidades passa a responder de forma plena pela definição e aplicação dos recursos que recebe do Estado. Com relação ao quadro de pessoal, as universidades as estaduais têm cerca de 15 mil servidores e recebem aproximadamente R$ 2 bilhões por ano em recursos do caixa estadual.
A folha consome algo como 90% deste valor, senão mais. Em razão destes dados, vamos avaliar quais as prioridades de contratação. Sendo necessárias, faremos. Mas sempre respeitando os preceitos de transparência em relação à folha salarial e os limites de gastos da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Maringá Post – Aproveitando a pergunta do reitor eleito da UEM, a instituição tem cerca de 30 prédios inacabados. A senhora pensa em disponibilizar mais recursos e resolver o problema no curto prazo?
Cida Borghetti – Em oito anos, o volume de recursos para as universidades estaduais saiu de R$ 800 milhões para R$ 2 bilhões. Se incluirmos as verbas públicas para ciência e tecnologia, o orçamento chega a R$ 2,5 bilhões. Precisamos avaliar onde está o problema. Se na falta de dinheiro ou na gestão dos recursos.
Ulisses Maia, prefeito de Maringá – Qual o compromisso da governadora eleita com o Contorno Sul, trecho viário que passa pelo perímetro urbano com intenso tráfego de carros e caminhões que se utilizam da Avenida Sincler Sambatti vindos de diversos pontos do Estado? A avenida acabou se tornando uma extensão de rodovias com pedágio e a prefeitura está elaborando o projeto de um novo Contorno Sul na avenida, que terá um custo aproximado de R$ 200 milhões.
Cida Borghetti – Quem conhece Maringá sabe que a solução definitiva para a questão do tráfego pesado dentro da cidade é a construção do Contorno Sul Metropolitano, uma obra sob responsabilidade do governo federal e que em breve deve ser licitada novamente. No governo do Estado, estamos trabalhando por isso.
Nós também já aportamos recursos solicitados pela prefeitura de Maringá, da ordem de R$ 12 milhões, para recuperação do Contorno Sul. Estou disposta a buscar recursos junto ao governo federal em parceria com a nossa bancada no Congresso. Também irei analisar os estudos e a prefeitura sabe que a nossa equipe de governo do Estado está à disposição para ajudar no que for melhor para a cidade.
Ulisses Maia – As construções dos viadutos na BR-376, no distrito de Iguatemi, e na PR-317, no Shopping Catuaí, assim como a duplicação do trecho Maringá-Iguaraçu, serão iniciadas e concluídas em seu governo?
Cida Borghetti – Os compromissos que assumi com Maringá eu estou cumprindo. Reafirmo que vou realizar todas estas obras e já adotei medidas concretas para isso. Nesta sexta-feira (21/09), por exemplo, lançamos o edital para construção do viaduto no acesso ao distrito de Iguatemi. A concorrência fica aberta até 25 de outubro, com valor máximo de R$ 24,7 milhões.
O edital para a construção do viaduto na Avenida Colombo, nas proximidades do Shopping Catuaí, foi publicado no dia 14 de setembro. As obras serão realizadas com recursos do governo do Estado, prova de que retomamos a capacidade de fazer investimentos públicos de grande importância.
Também quero agilidade na elaboração do projeto final da duplicação da PR-317, entre Maringá e Iguaraçu, para que possamos iniciar o processo licitatório o quanto antes. Este é um projeto que será licitado na modalidade de Regime Diferenciado de Contratação, o RDC. Aliás, agradeço aos empresários de Maringá pela contribuição que deram para a realização do anteprojeto desta obra, que deve receber investimento acima de R$ 200 milhões. Conto com o voto dos maringaenses para que possamos inaugurar todo este conjunto de obras juntos.
Maringá Post – Pegando a deixa do prefeito, há um impasse a ser definido na questão rodoviária da região de Maringá sobre os dois cruzamentos com semáforos na BR-376, em Sarandi. A candidata tem uma solução para a questão e poderia dizer em quanto tempo consegue executar a proposta?
Cida Borghetti – Hoje, essa questão está sendo discutida na Justiça. De toda forma, solicitei estudos para a equipe do governo do Estado e temos quatro alternativas de intervenção para resolver a situação, em parceria com a prefeitura. Estou determinada a atender o legítimo anseio da população de Sarandi e trabalhando tecnicamente para termos a proposta mais viável e dentro das exigências legais.
Havendo consenso na esfera judicial em relação a alguma das soluções que oferecemos, quero submeter a ideia à população, em audiência pública. Apesar de ser uma obra complexa, estou empenhada em realizá-la e faremos isso no meu próximo governo, com o apoio dos moradores de Sarandi.
Maringá Post – Ainda com relação à mobilidade na região, a senhora acredita na viabilidade do projeto do Trem de Passageiros entre Maringá e Londrina? Fala-se no Trem Pé Vermelho há quase trinta anos, mas pouco, muito pouco avançou até então. Como pretende trabalhar a questão para, finalmente, o projeto sair do plano das ideias?
Cida Borghetti – Tenho plena convicção de que o Trem Pé Vermelho é fundamental para o desenvolvimento regional. Há um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) aberto e acredito que em breve podemos avançar neste projeto. Quando este PMI foi lançado, o Brasil entrou em uma profunda crise econômica. Isto atrasou o processo.
Hoje, temos grupos de investidores nacionais e estrangeiros estudando a questão ferroviária no Paraná, após lançarmos a proposta de construção de uma nova linha férrea entre o Litoral do Estado e Dourados (MS). Não deixo de sonhar com aquilo que pode ser nossa realidade no futuro, e acredito que o nosso trem vai virar realidade.
Ulisses Maia: Em relação a subsídios e isenções fiscais:
1) Será estendido para o transporte coletivo metropolitano de Maringá, nos moldes concedidos pelo Governo ao transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba?
Cida Borghetti – Entendo que o transporte coletivo de qualidade é uma solução sustentável para mobilidade urbana e para o trânsito em qualquer cidade. Lembro que quando deputada estadual aprovei a lei que regulamenta as regiões metropolitanas do Paraná. Portanto, esta área terá total atenção do nosso governo, reforçando o perfil municipalista que marca a minha administração.
Na medida da necessidade, podemos discutir algum outro subsídio. Lembro que o Estado já concede isenção de ICMS do óleo diesel. Na minha próxima gestão quero construir o modelo de gerenciamento do transporte coletivo metropolitano para o Estado, com base no Estatuto das Metrópoles e a participação de todos os municípios.
2) A Companhia Aérea Latam requisitou redução da alíquota do ICMS do combustível para voltar a operar em Maringá. É possível atender essa demanda?
Cida Borghetti – Mantemos no governo do Estado um programa de estímulo ao aumento de voos regionais. Qualquer empresa que se enquadre nos critérios pode pedir redução no ICMS sobre a querosene de aviação. O programa prevê redução de dois pontos percentuais no imposto para cada nova cidade atendida com voo regular. Estamos conversando com a Latam. Eu mesma já recebi a diretoria da empresa, ainda quando estava vice-governadora. A nossa equipe está debruçada sobre esse assunto, tratando dessa questão com toda a responsabilidade e cuidado que o caso merece.
3) O Porto Seco de Maringá está fechando. Um dos problemas é que o Porto de Itajaí (SC) oferece taxas mais acessíveis e o torna mais atraente para desembaraço aduaneiro. Seria possível melhorar as condições de competitividade da estação aduaneira de Maringá por meio de subsídios e isenções tributárias?
Cida Borghetti – O Porto Seco é uma concessão federal administrada por empresa privada que trata o negócio com foco no seu mercado. Não é com subsídios públicos que conseguiremos reverter uma decisão corporativa. Já estamos trabalhando para que outra empresa consiga operar o Porto Seco, mantendo o terminal aduaneiro em plena operação.
Maringá Post: A região de Maringá não conta com nenhum parque ecológico estadual. O Maringá Post defende que o Horto Florestal de Maringá seja transformado em um Parque Estadual, onde poderá ser instalada a sede regional de órgãos como a secretaria de Meio Ambiente, o IAP e o Instituto das Águas.
Depois de 15 anos fechado, acreditamos que a área precisa ser reaberta à população, mas com a estrutura adequada para realização de visitas monitoradas, dentro de projetos de parceria com instituições de ensino superior. A candidata assume o compromisso de criar um parque ecológico estadual em Maringá?
Cida Borghetti – Se dependesse apenas da minha vontade, não há dúvida de que teríamos uma solução para esta área. Mas as coisas não são tão simples como muitos políticos prometem. Durante a última campanha eleitoral, lembro que o atual prefeito prometeu que reabriria o Horto Florestal por conta do município, com recursos próprios. Ainda estamos aguardando alguma atitude.
Caso o prefeito tenha desistido da ideia, o Governo do Estado pode sim avaliar qual é a intervenção possível, inclusive com a anuência dos proprietários. Prometer transformar a área em parque estadual seria enganar a sociedade maringaense. A regulamentação do sistema nacional de unidades de conservação é bastante rígida quanto à criação de um parque. A norma exige, entre outras coisas, uma zona de amortecimento, que é uma área de entorno com pesadas restrições às atividades humanas. Mas estou aberta ao diálogo.
Vamos avaliar uma forma de manejo possível. A população de Maringá sabe que pode contar com meu empenho para que toda a cidade possa usufruir deste belo espaço da melhor maneira.
Maringá Post: Nos últimos anos, o governo do Paraná atendeu a um pleito do segmento agropecuário e reeditou o programa estadual de conservação de solos e águas (Prosolo), um tema em relação ao qual já foi uma referência nacional e até mesmo internacional. Considerando que tal assunto é fundamental para a sustentabilidade do setor, como ele será tratado no seu governo?
Cida Borghetti – Vou manter este importante programa que protege as grandes riquezas do nosso Estado: solo e água. Até agora, o trabalho chegou a 178 microbacias e, ainda neste ano, iniciaremos em mais 70. Isso vai acontecer tão logo a legislação eleitoral permita o repasse de recursos para prefeituras.
- Leia também o que responderam os candidatos a governador Ratinho Júnior (PSD), João Arruda (MDB) e Dr. Rosinha (PT).
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