O maior serial killer de Maringá, Maníaco da Torre vai a júri popular pela morte de Mara, sua última vítima. Denúncia traz agravante de feminicídio

  • Um pedaço de pára-choque azul metálico, sob as torres de energia, e o cadáver de uma mulher morta apenas doze horas antes, foram as principais peças do quebra-cabeça que levaram a Delegacia de Homicídios de Maringá a acusar e prender Roneys Fon Firmino Gomes, o Maníaco da Torre.

    Ele é o maior e mais famoso serial killer de Maringá. Ao delegado Diego Elias de Freitas Almeida, quando foi preso em julho de 2015, chegou a confessar seis assassinatos, mas pode passar de dez o número de vítimas.

    O caso de Edinalva José da Paz, por exemplo, encontrada morta no dia 7 de dezembro de 2010, em que o Maníaco da Torre também foi pronunciado a júri popular no final de 2017, não é parte do rol de confissões.

    Agora, o juiz da 2ª Vara Criminal de Maringá, Devani Manchini, pronunciou o maníaco pela morte de Mara Josiane dos Santos, 36 anos. Em júri popular, o réu vai responder pela ocultação do cadáver e pelo homicídio com quatro qualificações: motivo torpe, por asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio.

    O corpo de Mara foi localizado em uma pequena clareira de uma plantação de milho, ao lado da PR-317, saída de Maringá para Iguaraçu. Enquanto trabalhava na colheita, por volta das 14 horas do dia 27 de julho de 2015, um trabalhador rural avistou o cadáver. A mulher estava nua, deitada com a barriga para cima – mesma posição de outras vítimas.

    Mara não foi deixada sob as torres de energia, local que fica a menos de cinco quilômetros da propriedade em que foi encontrada. Em depoimento à Polícia Civil, o Maníaco contou que não a deixou sob as torres porque havia uma movimentação de veículos nas proximidades. Mas Roneys Fon deixou sob as torres um vestido, uma calcinha, uma bota e um cinto, roupas da vítima.

    Mas a peça chave localizada pelos policiais na noite de 27 de julho de 2015, sob as torres, foi um pedaço desprendido da pintura do pára-choque. A peça azul metálica caiu perto das vestes de Mara quando o maníaco fez a manobra com o carro.

    Os policiais passaram a procurar, por meio de câmeras de segurança, imagens de algum veículo de cor azul metálica, que pudesse ter passado pelo local entre às 19 horas do dia 26 de julho de 2015 e 6 horas da manhã do dia seguinte.

    Na BMW/325i, placas ABW-6060, identificada nas imagens, a peça achada sob as torres se encaixou perfeitamente no pára-choque e a polícia chegou ao Maníaco da Torre.

    Ele teve a prisão decretada pela justiça no dia 30 de julho de 2015 e, no dia seguinte, prestou depoimento, quando admitiu o crime ao delegado e confessou outras mortes. Em juízo, o réu exerceu o direito de ficar em silêncio.

    Outra prova importante na denúncia do Ministério Público, é que foi coletado material biológico de Mara e o exame concluiu pela presença de sêmen. Posteriormente, o exame de DNA concluiu com a verossimilhança entre o material genético coletado na vítima e as amostras do Maníaco da Torre.

    A defesa do réu chegou a pedir um exame psicológico, mas foi atestada a imputabilidade de Roneys Fon Firmino Gomes. Ele se encontra preso, desde agosto de 2015, na Casa de  Custódia de Maringá. O caso chegou a ser noticiado no Jornal Nacional da Rede Globo.

    A confissão do Maníaco da Torre

    Segue abaixo o trecho do depoimento do Maníaco da Torre que foi anexado à pronúncia do réu ao júri popular pela morte de Mara Josiane dos Santos.

    “[…]. Que diferentemente do que alegou em sua declaração prestada na data de ontem, confirma que no dia 27/07/2015, por volta das 00h00, com seu veículo BMW de cor azul metálico, de placas ABW 6060/PR, pegou a pessoa de MARA JOSIANE DOS SANTOS, a qual estava na av. Brasil, próximo a av. São Paulo, sabendo que estava em local onde costuma praticar prostituição. Que combinou o valor de R$80,00 (oitenta reais), para fazer sexo no interior do veículo, que Mara Josiane solicitou que o interrogado parasse o carro, numa rua próximo onde estavam e que a rua era escura e poderiam manter relações ali. Que disse a ela que iria achar um lugar próximo, com rua escura e iria parar o carro, mas decidiu seguir pela av. Brasil, sentido centro, e chegando na Praça Raposo Tavares, entrou na avenida Joubert de Carvalho, onde se dirigiu a rua Furtado Mendonça; sendo que parou na av. Furtado de Mendonça, próximo a av. Brasil. Que Mara Josiane tirou a roupa que vestia, a qual descreve como um vestido e uma bota de cano médio, abaixo do joelho; que a seguir após estar nua, o interrogado solicitou que Mara Josiane fizesse sexo oral, porém sem preservativo, que Josiane se recusou a fazer sexo oral sem preservativo. Que começaram a discutir, Josiane tentou tirar a chave do carro; que nesta hora viu uma viatura da PM, que temeu a Polícia Militar, pois imaginou que se JOSIANE saísse do carro nua e a Polícia a avistasse, poderia ser preso.”

    “Que neste momento, por estar temeroso a estrangulou com suas mãos, que neste momento não pretendia matá-la, apenas desmaiá-la. Que na hora ela ficou se debatendo, tentando se defender, mas o interrogado aplicou bastante força; o que fez com ela desmaiasse. Que quando ela desmaiou o interrogado percebeu que ela já estava morta. Que o interrogado seguiu sentido estrada da Roseira, em frente ao Posto G10, onde entrou num carreador de um milharal e seguiu até próximo a torre de alta tensão. Local este onde pretendia deixar a vítima, mas acabou mudando de ideia, pois percebeu movimentação de carros próximo ao local. Que em razão disso, teve que dar ré no veículo sobre a plantação de milho e ali mesmo, dispensou partes das roupas da vítima e saiu do local sentido PR 317. Que ao chegar a PR 317, seguiu sentido a cidade de Astorga e logo depois que passou o trevo da Construtora Sanches Tripoloni, cerca de um quilômetro mais a frente, entrou numa propriedade rural a direita, onde havia uma plantação de milho. No local estacionou o veículo e retirou a vítima do interior do veículo, ainda nua; pegando-a pelos braços, por trás, e a arrastou para dentro da plantação de milho até uns vinte metros de onde parou o veículo. Que neste local, deixou a vítima de barriga para cima e arrumou o corpo com cuidado. Em seguida, ainda sobre o corpo rezou pedindo perdão pelo seu ato e pela vítima. Então retornou ao veículo e voltou para sua residência, seguindo pela av. Morangueira. Perguntado ao interrogado se utilizou algum instrumento para estrangular a vítima, respondeu que “foi apenas com sua mãos” […]”.

    “Que sua mãe era garota de programa e foi assassinada na cidade de Campo Mourão quando o interrogado tinha sete anos de idade, tendo o autor deste crime sido identificado, mas nunca sido preso, o que, segundo o interrogado, gerou um trauma que o motivou a assassinar diversas garotas de programa na cidade de Maringá, assassinatos estes que começaram a ser praticados a partir de ano de 2007; Questionado sobre como escolhia suas vítimas, respondeu o interrogado que escolhia aleatoriamente entre garotas de programas que faziam pontos, principalmente, na Av. Brasil na cidade de Maringá; Perguntado se todas as garotas de programa que “pegou” foram assassinadas, disse que não, que com algumas delas se relacionava, pagava e as deixavam ir embora tranquilamente, esclarecendo que a maioria  das suas vítimas foram mortas devido ao fato de terem se recusado a fazer o que o interrogado mandava; Que o método utilizado para matá-las era através de esganadura, geralmente dentro do carro; Esclarece ainda que para não ser arranhado pelas vítimas, não deixando dessa forma vestígios sob as unhas delas, por diversas deitava o banco do carro de forma que dificultasse a reação das mesmas; Que após os crimes serem cometidos os corpos eram levados, na maioria das vezes, para a estrada da Roseira ou suas proximidades, onde eram deixados, geralmente sem roupas, com a barriga virada para cima, dizendo ainda que, em seguida, realizava uma oração para as vítimas pedindo perdão pelo que havia feito; Que após os crimes cometidos acompanhava tudo pela televisão, geralmente com sentimento de remorso, e, apesar de não saber o nome das mulheres que matava, afirma que todos os corpos de mulheres encontrados na região da “torre” localizada na Estrada da Roseira foram deixados por ele; Disse ainda que no princípio o local preferido era exatamente embaixo da “torre”, mas que com o passar do tempo o local passou a ficar “manjado”, motivo pelo qual começou a deixar os corpos em outros locais […]”.

    Comentários estão fechados.