A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio a indústria paranaense, que tinha expectativas de forte crescimento para 2020. Passado o susto inicial, o setor vem recuperando gradativamente sua capacidade produtiva e já espera fechar o ano com menos dificuldades do que as enfrentadas nos últimos meses.
É o que revela, nesta entrevista, o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Carlos Valter Martins Pedro, que defende ainda medidas que permitam ao setor, em longo prazo, melhores condições de competitividade.
- Qual foi o impacto da pandemia para a indústria do Paraná?
A indústria paranaense começou 2020 com grande expectativa de crescimento. A pandemia, no entanto, foi um fato completamente inesperado, que afetou a vida de todas as pessoas, comprometeu as atividades de diversos setores e fez com que praticamente todas as empresas fossem obrigadas a refazer seus planos. Com as medidas restritivas adotadas para conter a propagação do vírus, houve uma forte queda na demanda por diversos produtos não essenciais, o que fez com que a produção industrial paranaense caísse 30,6% somente em abril. Nos meses seguintes, houve uma boa recuperação, fruto da grande diversidade do setor industrial paranaense. Ainda que alguns setores tenham sido mais impactados, como o automotivo, outros, como o alimentício, não tiveram seu desempenho tão afetado, mantendo bom nível de produção.
- Mesmo em meio a essas dificuldades, como a indústria encontrou formas
de apoiar o combate à pandemia?
Entre outras coisas, esta pandemia mostrou claramente o quanto o Brasil está
se tornando dependente de itens produzidos em outras partes do mundo. Boa
parte dos equipamentos essenciais utilizados por profissionais de saúde não
era produzida no país e, com o aumento da demanda internacional, começou a faltar. Isso fez com que a indústria nacional se mobilizasse, adaptasse suas
linhas de produção e começasse a fabricar vários desses itens. Em nosso
Estado, um dos principais exemplos aconteceu na indústria do vestuário.
Empresas que fabricavam roupas, bonés e outras peças começaram a produzir máscaras e aventais médicos. Indústrias metalmecânicas, por sua vez, investiram em pesquisas para desenvolver respiradores nacionais. O Sistema Fiep trabalha pela indústria, em todo o Paraná, e se envolveu ativamente nesse processo, tanto com investimentos diretos quanto com o conhecimento técnico do Senai e do Sesi para auxiliar as empresas. Além de contribuir com a saúde pública, essas iniciativas foram importantes para dar fôlego às indústrias, ajudando na manutenção de muitos empregos. E mostraram que a indústria brasileira possui uma capacidade empreendedora e produtiva que precisa ser valorizada e incentivada.
- Quais são as perspectivas para a indústria nos próximos meses?
A economia brasileira já vem dando sinais mais intensos de retomada e a
indústria acompanha esse movimento. No Paraná, o setor voltou a contratar e
tem observado um aumento importante nas encomendas, especialmente com
as expectativas de vendas no fim do ano, que é o período de maior atividade
no comércio. Com isso, o Índice de Confiança do Empresário Industrial
Paranaense, que mede as expectativas dos industriais para seus negócios,
atingiu, em setembro, seu maior nível em sete meses, voltando aos patamares
registrados antes do início da pandemia. Dados como esse mostram que a
indústria vem recuperando gradativamente sua capacidade produtiva e, mesmo com todos os obstáculos, deve encerrar 2020 com um desempenho bem mais positivo do que se imaginava no começo da pandemia.
- Em longo prazo, o que a indústria precisa para aumentar sua
competitividade?
Precisamos urgentemente reduzir os altos custos que pesam sobre a indústria. Um estudo do Movimento Brasil Competitivo revelou que o setor produtivo brasileiro gasta, ao ano, R$ 1,5 trilhão a mais do que gastaria se exercesse suas atividades nas mesmas condições da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). São vários fatores que elevam os custos de produção no país, desde as deficiências de infraestrutura até o excesso de burocracia, passando pelas dificuldades de acesso ao crédito ou os elevados custos para contratação de mão de obra. E, nesse conjunto de problemas estruturais, um dos que mais pesa é o sistema
tributário, que faz com que se acumulem impostos ao longo das cadeias produtivas, encarecendo significativamente o produto brasileiro e penalizando o consumidor. Com tudo isso, a indústria tem dificuldades de conquistar espaço no mercado internacional e, no mercado interno, sofre com a concorrência de importados, que chegam aqui com preços competitivos. Por isso, o país precisa seguir com uma agenda séria de reformas e medidas que melhorem o ambiente de negócios, o que se reverterá em empregos, renda e, consequentemente, mais desenvolvimento econômico e social.
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