A princesa do Japão Mako de Ashino me levou à Expo Imin 110 e as bandeirolas brasileiras e japonesas me trouxeram boas lembranças

  • A presença da princesa do Japão Mako de Ashino, em Maringá, me levou ao Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro no final da tarde desta sexta-feira (20/7). Passava das 17h20 quando cheguei à Expo Imin 110.

    Um torii, pórtico japonês, logo na entrada e descendentes com terno e gravata e máquinas fotográficas penduradas no pescoço garantiram às boas vindas e as primeiras lembranças da cultura nipônica. Como havia tempo antes da cerimônia oficial de abertura, resolvi olhar os pavilhões e conferir detalhes da festa da imigração.

    Ao chegar no pavilhão branco, deparei com uma voz suave que entoava versos japoneses. Não entendi nada da letra, assim como não conseguia pescar nada nas conversas dos mais velhos descendentes que dispensam o português.

    Decidi me atentar à cantora, uma senhora com mais de 70 anos que se apoiava em um andador. Se o corpo não trazia a mesma vitalidade de outrora, a canção parecia agradar à plateia. Descobri que era mais uma das concorrentes ao 33º Concurso Brasileiro da Canção Japonesa.

    E pela grande quantidade de troféus dispostos ao lado do palco, entendi que muitos seriam os cantores e cantoras premiados. Observei também grupos uniformizados e senhoras que dançavam com bandeiras de grupos de imigrantes. Gente do estado de São Paulo e várias cidades paranaenses.

    Os jurados, numa bancada, ouviam atentos às apresentações. Consegui ouvir mais duas ou três músicas. A última, entoada por um senhor, de terno e gravata, sóbrio, em tom agradável. Independente do que cantavam, seguiam um ritmo marcado e afinado.

    Ainda no pavilhão branco, reparei no comércio de kmonos, roupas tradicionais, alimentos de origem japonesa e até DVDs de novelas japonesas, entre outros programas que não terei curiosidade em assistir. Aos mais jovens, eram oferecidos produtos da cultura geek e propostas de empregos no Japão.

    O relógio se aproximava das 17h45 e corri até o pavilhão azul. Faria uma observação rápida antes de aguardar pela cerimônia com a princesa Mako de Ashino.

    Encontrei mais gente falando em japonês, vi estandes com ofertas de viagens para pontos turísticos do Japão, empresas de veículos de marcas japonesas, construtoras de famílias orientais e um ponto de venda de macarrão instantâneo. No local, tinha uma fila enorme de adolescentes.

    Em meio aos estandes, vi empresas interessadas em demonstrar a tecnologia japonesa na indústria química e no setor da medicina. Um grande espaço também foi destinado à educação. Estão lá os desenhos das crianças que participaram de um concurso da Imin 110 e demonstrações de como é a educação japonesa.

    Eu precisava correr, eram 17h50 e não queria perder o começo da cerimônia na arena de shows do parque de exposições. Logo na entrada, ganhei duas bandeirolas, uma do Brasil e outra do Japão. De imediato, veio a lembrança de outras festividades.

    Na Imin 80, em Rolândia, cidade onde nasci, ganhei as mesmas bandeirolas para acenar, da calçada, para o ônibus que levava as autoridades japonesas e o então presidente José Sarney. Lembro como se fosse hoje do aceno presidencial no banco da frente do ônibus. O bigode e a careca de Sarney já eram inconfundíveis.

    Enquanto entrava na arena, com as arquibancadas tomadas, principalmente por descendentes, sorri ao ver uma garotinha brasileira dizer para a vó. “Eu seguro a bandeira do Japão”. Ao lado, dois garotos japoneses dividiam um pote de macarrão com legumes. Na arquibancada, senhores e senhoras com máquinas fotográficas, olhares atentos e muita educação.

    Busquei um lugar na arquibancada e passei a olhar o desfile com roupas produzidas por estudantes de Moda de Maringá, todo inspirado na miscigenação entre os dois países. Sem credencial de imprensa e longe da dezena de jornalistas que ganharam um ponto distante do palco das autoridades, dentro da arena, vieram mais lembranças.

    Voltei à Imin 90, também em Rolândia, onde trabalhava para uma produtora de vídeo e fui designado para gravar toda a cerimônia oficial. Era 1998 e o presidente Fernando Henrique Cardoso foi quem recebeu as autoridades japonesas.

    Tenho que confessar que na Imin 100, quando foi inaugurado o Parque do Japão de Maringá, não participei das cerimônias oficiais. Dias depois, em visita ao parque que se tornou cartão postal da cidade, vi o monumento inaugurado em homenagem aos imigrantes.

    Desta vez, em meio a centenas de descendentes japoneses, resolvi prestigiar a princesa Mako de Ashino, que cumpriu agenda em Maringá desde o final da manhã. Na Acema, ela plantou um ipê branco. Aliás, acho muito legal esta tradição dos japoneses em plantar árvores em ocasiões especiais.

    Quando olhei para o relógio passava das 18 horas e nada da princesa. Aproveitei para observar a entrega de placas em homenagens a familiares dos ocupantes do Kasato Maru, primeiro navio com imigrantes que desembarcou na costa brasileira, de representantes da colônia no Norte do Paraná e ao pioneiro maringaense Kenji Ueta, que registrou a história da cidade em fotos. Ele chegou atrasado à homenagem, mas quando foi até o centro da arena, em passos lentos, foi reverenciado pelos outros homenageados.

    Imaginei que na sequência chamariam a princesa Mako de Ashino para entrar na arena, mas antes decidiram homenagear as crianças vencedoras do concurso de desenhos da Imin 110. Após entregarem os prêmios a dois, dos quatro vencedores, uma apresentação de dança interrompeu o cerimonial e confundiu a todos. Uma gafe perdoável naquele momento.

    O que se aguardava era o anúncio da princesa. Ela subiu ao palco acompanhada de autoridades brasileiras e japonesas. Os presentes ergueram as bandeirolas e saudaram a jovem que, de longe, demonstrava serenidade e respeito. Um sorriso singelo transparecia que a princesa estava feliz em participar das comemorações oficiais.

    O presidente Michel Temer foi representado pelo embaixador Eduardo Saboia. Talvez tenha sido melhor que não tenha vindo para o evento. Vaias poderiam não ser evitadas.

    A orquestra e um grupo de coral foram os responsáveis por entoar os hinos brasileiro e japonês. Com o avançar do relógio e ao som dos tambores do grupo de taiko, resolvi que seria o momento de voltar para a sala 3 do Maringá Post.

    Dispensei os discursos políticos que se seguiriam. Decidi sair com o sentimento de orgulho dos orientais, principalmente os mais velhos, com mais uma celebração da união de dois países tão distantes e diferentes. Parti com as minhas bandeirolas e com as lembranças da infância, da juventude e do respeito que aprendi a cultivar com a colônia japonesa.

    A Expo Imin 110 vai até domingo e a entrada é gratuita, para quem quiser saber mais, acesse aqui a programação completa.

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