Tempo estimado de leitura: 3 minutos
O modelo de contratação por hora, também conhecido como trabalho intermitente, tem ganhado espaço no setor supermercadista. A medida é vista por empresas como resposta à dificuldade de preencher vagas formais, especialmente entre os mais jovens.
No entanto, especialistas alertam para os efeitos negativos da modalidade. A principal crítica é a insegurança financeira causada pela falta de jornada e remuneração fixas. O trabalhador só recebe quando é convocado para atuar, o que torna difícil prever o salário mensal ou planejar o orçamento.
Apesar de contar com vínculo formal, o contrato intermitente oferece direitos trabalhistas apenas de forma proporcional ao tempo trabalhado. Férias, 13º, FGTS e INSS são calculados com base nas horas efetivamente prestadas. Isso pode resultar em rendimentos inferiores ao salário mínimo e em perda de benefícios sociais.
O custo de vida em cidades como Nova Iguaçu, por exemplo, torna inviável sustentar-se com os valores pagos em vagas anunciadas no setor. Com aluguéis partindo de R$ 900, cesta básica acima de R$ 400 por pessoa e despesas fixas como luz, transporte e alimentação, o salário líquido de um trabalhador de supermercado mal cobre os custos básicos.
Além disso, o regime de escala 6×1 — seis dias trabalhados para um de folga — dificulta a possibilidade de ter outro emprego para complementar a renda. A jornada extensa contribui para o desgaste físico e emocional, afetando a saúde dos trabalhadores.
O trabalho intermitente foi incluído na legislação trabalhista em 2017 e teve sua constitucionalidade confirmada pelo Supremo Tribunal Federal em 2024. Ainda assim, entidades sindicais consideram o modelo uma forma de precarização, por reduzir garantias, limitar a negociação coletiva e aumentar a vulnerabilidade social.
A proposta de extinguir a escala 6×1 e reduzir a jornada semanal sem cortes salariais é defendida por sindicatos como alternativa para garantir mais qualidade de vida e produtividade. Dados do setor mostram que grandes redes supermercadistas mantêm crescimento acima da média da economia nacional, o que, segundo especialistas, contraria argumentos de inviabilidade econômica para mudanças na jornada.