Preço do café aumenta quase 40% no mundo todo e deve continuar alto nos próximos anos

O aumento expressivo é atribuído, principalmente, a problemas climáticos que reduziram a oferta e comprometeram os estoques internacionais.

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    Os preços globais do café subiram 38,8% em 2024 em comparação com a média do ano anterior, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado nesta sexta-feira (14).

    O aumento expressivo é atribuído, principalmente, a problemas climáticos que reduziram a oferta e comprometeram os estoques internacionais.

    A valorização do grão arábica tem sido particularmente intensa. Em 2023, seu preço na bolsa Intercontinental Exchange (ICE) aumentou 70% e já acumula alta de mais de 20% em 2024. Especialistas alertam que essa tendência de encarecimento deve persistir, com impactos sentidos por consumidores ao longo dos próximos quatro anos.

    Impacto para consumidores e produtores

    De acordo com a FAO, cerca de 80% do aumento no preço do café será repassado aos consumidores. Na União Europeia, esse repasse deve ocorrer ao longo de 11 meses, enquanto nos Estados Unidos, o impacto será sentido em oito meses. No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) revelou que a inflação do café atingiu 66,18% nos últimos 12 meses, até fevereiro deste ano.

    Ainda assim, o aumento nos preços ao consumidor final tende a ser menor do que o dos grãos crus, uma vez que outros fatores, como transporte, torrefação, embalagem e margens de lucro no varejo, também influenciam o preço final. Na União Europeia, um aumento de 1% no custo do grão cru reflete em apenas 0,24% no preço do café no varejo, efeito que se espalha ao longo de 19 meses.

    Para os produtores, no entanto, o cenário é diferente. Em mercados locais, os aumentos nos preços pagos pelo grão não acompanharam a valorização internacional. A FAO aponta que os produtores de café viram um aumento de 17,8% nos preços na Etiópia, 12,3% no Quênia, 13,6% no Brasil e 11,9% na Colômbia. Isso está bem abaixo dos índices observados nas negociações da bolsa de valores.

    O que fez o café ficar mais caro?

    A alta no preço do café tem múltiplos fatores, que incluem tanto questões climáticas quanto geopolíticas. Entre as principais razões apontadas por especialistas, estão:

    • Condições climáticas extremas: Secas e ondas de calor nos últimos anos afetaram severamente a produção. A falta de chuva levou as plantas a abortarem seus frutos, reduzindo a colheita. Em quatro anos, os custos da indústria com matéria-prima aumentaram 224%, enquanto o preço final do café para os consumidores subiu 110%.
    • Aumento no custo da logística: Conflitos no Oriente Médio elevaram os custos de transporte marítimo e encareceram o envio de café para mercados internacionais, afetando os preços globais.
    • Maior demanda: O consumo de café tem aumentado globalmente, especialmente com a expansão do mercado brasileiro para novos países. Sendo a segunda bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água, a crescente demanda pressiona os preços.
    • Crise no Vietnã: O país, maior produtor mundial de café robusta, sofreu perdas significativas devido ao clima seco prolongado. A produção caiu 20% em 2023/24, e as exportações recuaram 10% pelo segundo ano consecutivo.

    Com esses fatores, tanto o café arábica quanto o robusta registraram altas históricas. Em setembro, o preço do robusta ultrapassou o do arábica pela primeira vez em sete anos, refletindo o impacto generalizado na indústria cafeeira global.

    A FAO alerta que, se as principais regiões produtoras enfrentarem novas reduções na oferta, os preços podem subir ainda mais em 2025, prolongando a pressão sobre consumidores e produtores nos próximos anos.

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