Adolescentes que leem em papel têm melhor compreensão do que os que leem em telas

Pesquisas sugerem que o papel está associado a um maior foco e concentração, especialmente em textos expositivos e informativos.

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    Um relatório recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que adolescentes que leem livros em formato físico apresentam desempenho superior em compreensão leitora em comparação com aqueles que leem exclusivamente em dispositivos digitais.

    O estudo, publicado pelo jornal El País e baseado nos dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018, analisou a relação entre os formatos de leitura e a competência de leitura entre alunos de 15 anos.

    Desempenho superior

    Os dados apontam que, em média, estudantes que leem livros físicos obtêm 46 pontos a mais nas provas de leitura em comparação com aqueles que “quase nunca” leem livros. Para os que leem apenas livros digitais, o ganho médio foi de 26 pontos. Já os que combinam os dois formatos obtiveram 44 pontos extras. A pesquisa também destacou que alunos que leem textos mais extensos (101 páginas ou mais) têm um desempenho superior de 31 pontos em relação aos que leem textos curtos (10 páginas ou menos).

    Por que o papel favorece a compreensão?

    Pesquisas sugerem que o papel está associado a um maior foco e concentração, especialmente em textos expositivos e informativos, que exigem mais esforço cognitivo. Pablo Delgado, pesquisador da Universidade de Valência, argumenta que a leitura em papel minimiza a “distração mental” (mind wandering) e favorece a atenção plena. Em um experimento com 132 universitários, Delgado demonstrou que leitores de papel apresentaram menos distrações durante a leitura do que aqueles que utilizaram telas.

    Nicholas Carr, autor do livro “Superficiais: O que a internet está fazendo com nossas mentes?”, também alerta sobre o impacto da multitarefa digital. Ele argumenta que o ambiente virtual favorece interrupções constantes, dificultando a concentração profunda necessária para a reflexão e a compreensão de conteúdos mais complexos.

    Fatores culturais e o impacto no aprendizado

    Além do formato de leitura, o estudo destacou a influência do ambiente familiar no desempenho dos estudantes. O conceito de home literacy environment (ambiente de aprendizado no lar) ressalta que a presença de uma biblioteca em casa e o exemplo de pais leitores têm impacto direto na habilidade de leitura dos filhos.

    José García Clavel, da Universidade de Múrcia, observa que adolescentes que leem em papel frequentemente replicam hábitos culturais de suas famílias, o que pode explicar parte de seu melhor desempenho acadêmico.

    Por outro lado, alguns especialistas, como Daniel Cassany, da Universidade Pompeu Fabra, apontam que a leitura em telas requer uma postura mais ativa e autônoma dos estudantes, e que é necessário aprofundar os estudos para compreender plenamente as diferenças de impacto entre os formatos.

    Leitura digital e o futuro da educação

    Embora o estudo da OCDE reforce os benefícios da leitura em papel, pesquisadores como Mariano Fernández Enguita, da Universidade Complutense de Madri, defendem que o formato digital também oferece vantagens significativas, como acessibilidade, variedade de conteúdos e ferramentas de busca. Ele alerta para a importância de integrar mídias digitais ao ensino sem desconsiderar seu potencial pedagógico.

    Outro relatório relevante publicado em 2023 pela Universidade de Stavanger, na Noruega, reforça que, em avaliações cronometradas, leitores de papel tendem a obter melhores resultados em textos longos e complexos. Contudo, para textos curtos e objetivos, as diferenças entre os formatos são menos significativas.

    A preferência por livros físicos continua desempenhando um papel importante na compreensão leitora, mas o uso de tecnologias digitais na educação não deve ser descartado. O equilíbrio entre os formatos e a adaptação às necessidades dos alunos são caminhos promissores para garantir um aprendizado mais eficaz e inclusivo. Enquanto o debate sobre papel versus telas persiste, o foco deve permanecer na promoção do hábito da leitura em qualquer formato.

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