Estágio depois dos 60: idosa mostra que nunca é tarde para aprender e contribuir

Aos 62 anos, Márcia Regina Ribeiro Álvares Espinosa faz faculdade de pedagogia e é estagiária na Secretaria de Educação de Fazenda Rio Grande.

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    A vida de Márcia Regina Ribeiro Álvares Espinosa, de 62 anos, é agitada. Sua rotina, que poderia se dividir apenas entre a casa, família e as atividades da igreja, ainda tem espaço para a faculdade de pedagogia e para um estágio na Secretaria de Educação do município de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.

    Isso mesmo, acima dos 60 anos e já com tempo de serviço para aposentadoria, ela tem muito orgulho em se identificar como estagiária.

    Márcia faz parte dos mais de 50 mil idosos matriculados no ensino superior no Brasil, de acordo com informações do Censo da Educação Superior de 2022, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Desse total, 26,6 mil são mulheres e 24,7 mil são homens.

    No Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR), estes estudantes acima de 60 anos podem também buscar encaminhamento para estágio e vivenciar uma profissão, como fez a Márcia. Para os especialistas da instituição, as vantagens são inúmeras tanto para os futuros, mas já experientes, profissionais como para as empresas.

    Hoje, são pessoas, em geral, bastante comprometidas. Além disso, segundo a supervisora operacional do Centro de Serviços Compartilhados do CIEE/PR, Ilsis Cristine da Silva, ter diversidade no ambiente de trabalho inclui a integração de diferentes gerações, o que é fundamental para o sucesso das organizações.

    “Os estudos e o estágio após os 60 anos é uma prática que tem se tornado cada vez mais comum e importante, ao que permite as novas experiências profissionais, o desenvolvimento de habilidades e a plena atividade no mundo do trabalho. Essa iniciativa é positiva tanto para os estagiários quanto para as empresas, por promover a inclusão e promover a conexão da vasta experiência e sabedoria acumulada ao longo da vida com outros colaboradores de diferentes gerações.”, explica Ilsis.

    Um novo começo aos 60 anos

    O comprometimento de Márcia é reconhecido pelas colegas de estágio, de 23 e 32 anos, e pela professora que ela auxilia, que está com 42 anos, no dia a dia das atividades com as crianças do Centro de Educação Infantil. “Cheguei a ter medo de como seria recebida por colegas muito mais novas, mas a única “queixa” é que elas sempre querem poupar a estagiária mais velha no momento de pegar algum objeto ou uma criança mais pesada no colo”, comenta.

    Já no mundo de trabalho, ela acredita que existe um certo etarismo. Por isso, seu plano para abril do ano que vem, quando termina a graduação, é prestar concursos públicos. Apaixonada por educação e alfabetização, ela conta que ainda quer trabalhar por mais pelo menos 10 anos ou, ainda, enquanto a cabeça deixar e o corpo tiver saúde.

    Por enquanto, ela ainda sente o aperto no coração pelo fim próximo da vida de estagiária “Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, esse estágio me deu a oportunidade de trabalhar mais direto com as crianças, junto com os pequenos, vivenciar mais da área. As crianças têm muito amor por nós. Trabalhar para mim é um prazer”, comenta.

    Apoio da família
    Com formação em magistério, ela trabalhou em sala de aula de 1992 até o início dos anos 2000, quando decidiu, com seu marido Ricardo, tentar uma vida melhor fora do Brasil. Ao voltar dos Estados Unidos, 14 anos atrás, sua formação inicial já não abria tantas portas.

    Depois de tentar algumas faculdades e não conseguir concluir, quatro anos atrás, começou a cursar pedagogia com o incentivo dos filhos e do marido. “Para me motivar, minha filha pagou as minhas primeiras duas mensalidades da faculdade. Ter minha família ao meu lado nessa nova etapa foi essencial para eu seguir em frente”, ressalta.

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