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Com os sensores é possível reduzir o número diário de picadas nos dedos das crianças para monitorar a glicemia e além disso gerar dados que podem ser analisados pelo médico para otimizar o tratamento do diabetes com ajustes nas doses de insulina, medicamentos e alterações no planejamento alimentar.
Monitorar a glicemia da forma correta garantindo um maior tempo no alvo, entender o efeito de cada alimento no organismo e como eles refletem no diabetes tipo 1. Estes são os maiores desafios enfrentados pelas famílias que possuem crianças e jovens diagnosticados com diabetes.
Com o objetivo de oferecer educação a estas famílias que o Instituto da Pessoa com Diabetes (IPD) criou o projeto “Acesso à Monitorização Contínua da Glicemia para Crianças e Adolescentes com Diabetes Tipo 1”. A ação – com duração de 12 meses – inclui a distribuição gratuita de sensores de monitorização da glicemia para crianças e adolescentes de 4 a 14 anos em situação de vulnerabilidade em Curitiba, orientação e capacitação das famílias com médicos endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos, assistente social, entre outros especialistas.
O termo de cooperação, assinado entre o IPD e a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, em julho de 2023, beneficiou 70 crianças e adolescentes em uma primeira etapa, mas deverá alcançar até 150 participantes, até o final de 2024.
A iniciativa foi viabilizada por uma emenda parlamentar que tramitou na Câmara Municipal de Curitiba e possibilitou o repasse de R$ 960 mil do Fundo Municipal Para Criança e Adolescente ao IPD, destinados a compra de sensores de glicose e para a realização de aulas de educação em diabetes às famílias.
Com os sensores é possível reduzir o número diário de picadas nos dedinhos das crianças para monitorar a glicemia e além disso gerar dados que podem ser analisados pelo médico para otimizar o tratamento do diabetes com ajustes nas doses de insulina, medicamentos e alterações no planejamento alimentar.
Além disso, o sensor permite que, quando a criança está na escola, os pais possam monitorar a glicemia em tempo real a distância com os dados que são enviados do aparelho para o celular.
Monitorização glicose e educação
O diabetes tipo 1 afeta cerca de 100 mil crianças e adolescentes no Brasil, colocando o país na 3ª posição no ranking mundial de diabetes infantil. Em Curitiba, conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde, há 3.700 pacientes com diabetes atendidos nas Unidades Básicas de Saúde.
A falta de conhecimento sobre a doença, combinada com o difícil acesso a tecnologias de monitoramento, pode resultar em complicações graves, como problemas cardíacos, cegueira e até morte. O IPD busca reverter essa realidade por meio de diversas ações educativas e de atendimento à população.
Segundo a médica endocrinologista Angela Nazário, presidente do IPD, “a monitorização contínua da glicemia é essencial para que as crianças e adolescentes aprendam a lidar com a doença de forma eficaz, prevenindo complicações e melhorando a sua qualidade de vida”.
Como funciona o projeto
Através da parceria com a saúde pública, médicos endocrinologistas encaminham crianças com diabetes tipo 1 para o projeto. Na primeira reunião, as famílias recebem informações de como a ação funciona. As que manifestam o desejo de participar comprometem-se a estar com a equipe do IPD a cada duas semanas.
No segundo encontro as crianças já recebem o sensor. Ele é colocado sobre a pele, mede a glicemia e envia as informações ao glicosímetro, aparelho que armazena e processa os dados e informa quando é necessário injetar insulina no organismo. As famílias são ensinadas a usar o equipamento e recebem orientações sobre:
- nutrição, para que entendam sobre a função dos alimentos, o que são carboidratos e como agem no organismo;
- comportamento, nas quais uma psicóloga lida com as barreiras que fazem as famílias não seguirem com o projeto e o controle da doença;
- educação, onde se explica o básico da doença, o que é a insulina, os diferentes tipos, armazenamento e injeção, hiper e hipoglicemia, consequências da diabetes mal controlada, além de derrubar os mitos e informações falsas sobre diabetes.
As mudanças são visíveis, como relatam as nutricionistas Thayna Guimarães e Marina Cavalin. “No início, muitas famílias tinham um grande bloqueio emocional em relação ao diagnóstico. Ao longo do projeto, vimos avanços significativos, mas ainda há muito a ser aprendido”, afirma Thayna.
Marina compartilha histórias emocionantes, como a de uma mãe que teve uma crise de pânico ao tentar aprender a contar carboidratos. “Ela se sentia uma fracassada por não conseguir fazer a contagem corretamente. Com o apoio psicológico e nutricional, ela superou essa barreira e aprendeu a cuidar melhor de sua filha”, conta Marina.
Desafios e futuro do projeto
Apesar dos resultados positivos, os desafios permanecem. Michele Monique Maba, psicóloga clínica do projeto, aponta que a resistência das famílias em aderir ao tratamento e cuidar do diabetes é um obstáculo significativo. “É trabalhoso cuidar do diabetes, e muitas vezes as famílias criam um bloqueio emocional para continuar o tratamento”, explica.
Mas ela diz que é extremamente gratificante quando conseguem mostrar a importância da monitorização contínua e veem famílias construindo uma base sólida de conhecimento para enfrentar a doença com confiança. “Se todas as pessoas tivessem acesso à educação em diabetes e aos sensores, o desfecho da doença seria muito diferente”, conclui a nutricionista Thayna, que descobriu a diabetes na infância e trabalha para levar adiante a informação de qualidade que ela não teve quando mais jovem.
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