A falta de um diagnóstico preciso pode levar pessoas disléxicas a quadros de ansiedade e depressão, alertam especialistas.
A Dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta cerca de 8 milhões de brasileiros, segundo dados da Associação Internacional de Dislexia (IDA, na sigla em inglês), e tem sido cada vez mais frequente observar a incidência de questões ligadas à saúde mental, em decorrência da falta de apoio da sociedade.
Por impactar, principalmente, a capacidade de leitura e escrita, a condição costuma ser percebida na infância, durante o processo de alfabetização, ainda que também possa ser diagnosticada na fase adulta.
“Muitas pessoas com Dislexia acabam ficando frustradas e até com sentimento de inadequação no seu dia a dia. As barreiras impostas pelo ambiente acadêmico ou corporativo faz com que essas pessoas demorem muito mais tempo para executar as mesmas atividades que seus colegas, o que pode levar ao estresse e isolamento, entre outros sintomas”, explica Juliana Amorina, Diretora-Presidente do Instituto ABCD, referência em Dislexia e transtornos de aprendizagem.
Esses sinais podem, inclusive, se transformar em problemas mais sérios, como ansiedade crônica — generalizada ou social, por exemplo —, depressão ou mesmo abuso de substâncias tóxicas.
De acordo com a sua experiência de atendimento em consultório, o psiquiatra Gustavo Estanislau, membro associado e pesquisador do Instituto Ame Sua Mente, estima que cerca de 50% das crianças com Dislexia apresentam problemas relacionados à saúde mental.
A situação se torna sensível a partir do estigma da sociedade, que se reflete nos ambientes escolares e familiares. Professores, pais e demais pessoas envolvidas na educação das crianças muitas vezes não possuem conhecimento adequado sobre as limitações causadas pela Dislexia. “O que acaba não ajudando no senso de validação do indivíduo, impactando a autoestima dessas pessoas”, ressalta Estanislau.
Tratamento e prevenção
Segundo Juliana, o primeiro passo para evitar que condições como ansiedade e depressão aconteçam é oferecer apoio à pessoa disléxica.
“Daí vem a importância da identificação precoce e o diagnóstico. Só assim será possível que a criança ou o adolescente se compreenda melhor e descubra, com apoio especializado e inclusão escolar, formas de lidar com suas características específicas”, explica.
Essa ajuda pode ser realizada com métodos educativos diferenciados ou tecnologias assistivas, por exemplo. O importante é contribuir para que a pessoa disléxica veja novas possibilidades para desbloquear seu potencial.
Para Gustavo, a psicoterapia é uma alternativa bastante eficaz no processo de acompanhamento dos quadros de ansiedade ou depressão. O estímulo a outras atividades que não apresentem tantos desafios para o paciente também podem contribuir nessa jornada.
“Uma criança, em determinado momento, quando enfrenta muitas dificuldades na escola pode, por exemplo, reforçar a autoestima por meio de atividades físicas, dança ou arte. Esses são caminhos que valorizam outras habilidades, ao aliviar as dificuldades do dia a dia, garantindo que ela se sinta válida em suas ações”, conclui o especialista.
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