Democracia é uma pauta. Talvez mais do que isso, é um assunto social que vai desde os corredores acadêmicos às mesas de reuniões informais. Entretanto, é um assunto delicado que incita paixões, afinal, por mais que o interlocutor diga que não entende nada de política, política e um movimento de vida, que influencia diretamente seu avatar social, gera projeções e representações importantes, movimenta paixões e formas de vida. Ou seja, é um assunto delicado política e sociologicamente.
De toda forma, democracia é um assunto que, ao mesmo tempo, tem forma, não vem da mera vontade de sujeitos aristocraticamente definidos, na verdade, a democracia ocidental existe justamente como contraponto a esse sistema e por isso esse conceito precisa ser desmistificado, já que se, ao mesmo tempo, é um assunto tão popular e maltratado.
Você já deve ter ouvido alguém falar aquela história que a democracia não funciona, porque se você vota em alguém o partido puxa os votos pra outro candidato, ou mesmo aquela questão que fulano não tem partido e é neutro. Esses dois elementos são perigosíssimos para a formação democrática, isso porque talvez o erro que esteja por trás dessa afirmação é justamente o fato de que não estamos mais em Atenas de 2500 anos atrás, de tal forma, democracia não é a vontade da maioria, essa é uma afirmação forte, mas seu fundamento vem justamente da teoria da democracia parlamentar moderna.
A ideia de democracia moderna se concentra primordialmente em uma tradição filosófica iluminista, principalmente a partir de um pensador chamado Immanuel Kant, de tal maneira, a democracia a qual estamos inseridos é uma forma de representação de vontades. Isso é fácil de imaginar, afinal, na atividade legiferante, os deputados que votamos são uma tentativa de exercer nossa vontade em sociedade.
Mas ao mesmo tempo, a democracia parlamentar moderna ela tenta justamente impedir a expressão de vontade, e por um motivo importante, que é a noção que as ditaduras tem um exercício de vontade centralizado, por uma única pessoa. Nesse caso, se a representação da vontade fosse exercida pela maioria teríamos um corpo hipotético ditatorial, afinal, maioria não significa integralidade, assim, se a vontade da maioria fosse a representada, teríamos uma formula perigosa, a substituição de uma vontade de uma pessoa, pela vontade de uma pessoa por representação de pensamento, o que deixaria fora do exercício democrático aqueles não representados pela força representativa.
Entenda o problema, maioria e minoria em uma universalidade estatal é muita gente de todos os lados, sendo assim, a superação de um pelo outro é prejuízo pra muita gente. Justamente por isso a democracia moderna ela obriga a participação de todos os estratos de pensamento social e faz, proporcionalmente, que eles estejam no debate político justamente para que, no final eles tenham que negociar, e nessa negociação a lei não seja uma vontade, e sim um grande acordo, que não represente a vontade de ninguém.
A isso se da o nome de pluripartidarismo, isso mesmo, o partido implica nessa importância, afinal, como um sistema com tanta gente e com tantos pensamentos pode representar tudo? O partido tem essa função, ele representa um conjunto de ideias que o membro da sociedade se filia, mas e se o partido trai seus eleitores, ora, se isso acontece ele perde o apoio e não volta a ser eleito, parece fácil demais, mas na verdade, a ideia é que a democracia se faz e amadurece com tempo e não com imediatismo, isso parece difícil de entender nos dias de hoje.
Dai vem a questão, se um único candidato recebe muitos votos a democracia não entende sobre ele, afinal uma pessoa não pode ter vontade direta na democracia, mas um corpo de pessoas, assim a democracia le isso como um grande corpo de pessoas que se filiam ao pensamento que aquele candidato representa. Sabendo que na democracia se mais gente é representada precisamos de mais membros de um partido para representa-los o coeficiente partidário entra em jogo, e para proteger os interesses daquele estrato de pessoas aumenta a representação daquele partido que o candidato tão bem votado foi eleito. Essa é a ideia de representação, quanto mais gente mais proporcional as cadeiras no congresso nacional, mas importante ao mesmo tempo é que as baixas representações também estejam lá, justamente porque existem.
Imagino que ao mesmo tempo que isso esclareça muita coisa, também apresenta vários questionamentos, bem, concordo, mas democracia se faz com o tempo, e não com imediatismo, ao longo do tempo, poderemos discutir juntos esses problemas, mas precisamos primeiramente entender esse fundamento.
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