Tempo estimado de leitura: 4 minutos
Por Edson Calixto Junior
O príncipe está morto. E não um príncipe qualquer.
Ele mesmo se autodenominou, em determinado momento da carreira, o “Príncipe das Trevas”. Ozzy Osbourne chegou ao estrelato com uma música inovadora, intensa e cheia de significados. A plateia aplaudiu. Os críticos o reverenciaram. Para ele, tudo não passava de uma brincadeira.
O “Sábado Negro”, as letras que falavam de religião, drogas e conflitos interiores — muitas vezes com uma estética provocadora, sombria, até satânica — ficaram para trás. Ou melhor: entraram para a história do rock.
Ozzy, o mestre da loucura (outra de suas definições), trazia em si uma série de questionamentos existenciais — como boa parte dos popstars. No fundo, era como se ele gritasse por respostas, por sentido, por redenção… ainda que de forma caótica.
Veio o morcego. A mordida. O escândalo.
Mas também veio a TV — e com ela, o lado humano de Ozzy. Ele se mostrava um bom pai, um marido presente. E revelou uma personalidade bem distante do roqueiro revoltado e atormentado que o público imaginava.
De certa forma, os holofotes também mostraram um homem relativamente simples, apesar das excentricidades.
Mas com Deus não se brinca. E à luz dessa compreensão, fica claro: não há espaço para a luz quando as trevas são invocadas. Em outras palavras: não se brinca com o sagrado.
Há muitos artistas como Ozzy que expressam, em suas letras, o grito de um mundo sem respostas. Um mundo que busca sentido onde menos sentido há — na anarquia, na descrença, na fuga de si mesmo.
Ozzy foi criado na fé anglicana. Em algum momento, declarou:
“Eu não sou satanista. Eu acredito em Deus. Sempre acreditei.”
Talvez isso explique a ironia — ou o conflito — de usar um pesado crucifixo pendurado no peito. E assim, de forma teatral e às vezes debochada, Ozzy encarnava o homem desesperado por salvação, perdido entre demônios internos e externos. E ele desempenhava esse papel como poucos.
Era extravagante? Sim! Performático ao extremo. Brincava com símbolos cristãos, mas nunca os rejeitava por completo. Em vez de zombar da fé, parecia estar em uma luta silenciosa com ela — tentando, talvez, compreender um Deus que o mundo dele parecia ter abandonado.
A voz gutural de Ozzy se calou nesta terça-feira. E eu me lembrei das muitas vezes em que questionei esse tipo de “arte” diante de amigos e colegas jornalistas que se diziam metaleiros — termo ainda usado para os fãs de heavy metal.
Assim como Ozzy, acredito que muitos deles sejam como o filho pródigo da parábola: perdidos na confusão do mundo, mas ainda com o coração buscando, de forma torta ou tímida, o caminho de volta. Pessoas que talvez estejam pedindo ajuda — mesmo sem saber.
Ozzy era um artista. Mas, acima disso, era um ser humano. Com dúvidas, dores, traumas… e, quem sabe, esperanças secretas.
E se é verdade que ele tocou em temas sombrios, também é verdade que Jesus tocava em feridas muito mais profundas do que qualquer som metálico poderia alcançar.
Porque não há treva tão densa que impeça a Luz de entrar. E se o Cristo morreu por mim, por você, por nossos amigos e inimigos… então, sim: Ele também morreu por Ozzy Osbourne.
Mesmo que a plateia não tenha aplaudido esse último ato.
EDSON CALIXTO JUNIOR é escritor, teólogo e jornalista. Trabalhou na Rádio CBN, Diário do Rio Doce e Rede Novo Tempo de Comunicação. Foi assessor de imprensa na Assembleia Legislativa do Paraná (2003 – 2010). Bacharel em Administração de Empresas pela FGV, com MBA em Gestão, atualmente é servidor público federal.
SIGA-NOS em facebook.com/emdiacomonossotempo.
ACESSE nosso canal em youtube.com/@pontodeencontroentrevista.
Comentários estão fechados.