O Brasil precisa de mais médicos? Evidente que sim. Existem algumas regiões do país que têm menos profissionais de saúde do que seriam necessários para atender a população.
É esse argumento que norteia a liberação de novos cursos de Medicina pelo país.
E o atual governo tenta sustentar esse discurso para seguir uma política mercantil iniciada anos atrás, principalmente no governo de Michel Temer – mas que, na prática, começou com Dilma Rousseff, na primeira versão do “Mais Médicos”.
Para não cansar o leitor, e focar apenas no problema atual, analisemos o anúncio feito esta semana: o Paraná terá quatro novos cursos de Medicina.
Estes quatro novos cursos fazem parte de um pacotão de 5,7 mil novas vagas que serão ofertadas por faculdades particulares em todo o país.
No Paraná, as cidades que poderão concorrer ao edital que permitirá a abertura das vagas são: Francisco Beltrão, Paranavaí, Cornélio Procópio, Ponta Grossa, Jacarezinho, Ivaiporã e Apucarana.
Como mencionei, a justificativa do Governo Lula é que algumas regiões do país têm menos médicos do que seriam necessários. Por isso, essas cidades teoricamente estariam qualificadas para abrigar os novos cursos de Medicina.
Porém, sejamos honestos: abrir vagas nestas cidades vai resolver a falta de profissionais de saúde nas cidades que têm poucos médicos?
É pouco provável. Considerando especificamente a realidade do Paraná, a ampliação de cursos de Medicina serve ao propósito de fortalecer a rede particular de ensino superior, com um curso que atende apenas uma elite econômica que pode pagar mensalidades que custam cerca de 3 vezes mais que a média salarial do brasileiro.
Além disso, os novos profissionais formados nessas novas faculdades de Medicina irão abandonar esses municípios tão logo puderem, porque o que faz essas cidades contarem com poucos profissionais não é a ausência de médicos, mas a falta de condições de trabalho.
A maioria das pequenas e médias cidades brasileiras que sofre com a falta de médicos não possui a estrutura mínima necessária para garantir que o profissional faça o seu trabalho. E isto leva o profissional a migrar para os grandes centros.
Note a lista das cidades que poderão se candidatar a ter esses novos cursos de Medicina. Todas elas estão próximas de centros maiores e que já formam médicos – médicos estes que, hoje, poderiam atender os municípios carentes de profissionais. Mas não o fazem porque não encontram estrutura na rede pública de saúde e nem clientela suficiente para atendimento particular e por convênio.
Na prática, o que a abertura de novas vagas promove em estados como o Paraná é, primeiro, a mercantilização do ensino superior de Medicina e, num segundo momento, uma desvalorização do profissional com efeitos de médio e longo prazos, que só buscará as pequenas cidades quando, na concorrência nos grandes centros, não encontrar oportunidades de trabalho.
Foto Ilustrativa
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