Pesquisas Eleitorais e o Método Científico

Muito se tem falado sobre os resultados das pesquisas eleitorais, mas pouco se tem falado sobre o método científico para realização das pesquisas.

  • Muito se tem falado sobre os resultados das pesquisas eleitorais, mas pouco se tem falado sobre o método científico para realização das pesquisas. Antes de mais nada temos que entender o conceito de universo e amostra. Toda pesquisa que tem uma amostra busca em certa medida representar seu universo. Essa representação carrega dois indicadores importantes, a margem de erro e o nível de confiança. A margem de erro usualmente utilizada costuma variar de 2 a 5% e o nível de confiança de 90 a 95%.

    A margem de erro é mais fácil de entender, são os famosos 2% para mais ou 2% para menos em relação ao valor encontrado (no caso para intenção de voto). O nível de confiança representa quantas vezes em 100 aquela mesma pesquisa, sendo realizada da mesma forma, terá o resultado dentro daquela margem de erro. Com isso, logo de saída informo que não há pesquisa 100% confiável, todas pressupõe algum tipo de viés ou erro. Cabe aos pesquisadores minimizarem esses vieses. Uma pesquisa 100% confiável é a que apresenta 0% de margem de erro e 100% de nível de confiança, para isso acontecer a pesquisa não pode ser realizada com uma amostra, precisa ser realizada com todo o universo, ou seja, com a população inteira. No nosso caso seriam milhões de pessoas, ou seja, inviável economicamente.

    Outro elemento que influencia o tamanho da amostra é o próprio tamanho da população/universo. Quanto maior o universo, maior a amostra. No entanto, para universos muito grandes como a população de um país, ou para um universo desconhecido (infinito, por exemplo), utiliza-se uma fórmula onde a partir de um certo ponto, quanto mais se aumenta o tamanho do universo, a amostra não aumenta mais (pois tornaria a pesquisa inviável). Exemplo, uma pesquisa com universo de 100 mil pessoas e uma pesquisa com universo de 100 milhões de pessoas, utilizando a mesma margem de erro e o mesmo nível de confiança, resultam em uma amostra praticamente iguais.

    O ‘número mágico’ de amostra que os institutos têm utilizado para realizar suas pesquisas é o de 2400, esse tamanho de amostra pressupõe 2% de margem de erro e 95% de confiança. Essa amostra serve para pesquisas em cidades de 100 mil habitantes, bem como para a China que tem mais de 1 bilhão de pessoas. O que quero dizer é que fazer uma pesquisa onde o universo é gigantesco e a territorialidade é imensa, como o Brasil, é um desafio enorme que envolve muitos outros fatores e pontos de atenção.

    Mais um elemento a ser destacado é a estratificação. Para buscar ser mais fidedigna possível a amostra deve respeitar a proporção do perfil/estratos da população. Geralmente os estratos envolvem as variáveis sexo, renda, idade e região (nem sempre religião!). É aqui que mora um dos grandes problemas, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não delimita claramente como deve ser realizada essa estratificação e controle da proporcionalidade. Quanto mais rigorosa for a estratificação, mais fiel será a pesquisa, porém, sua coleta será mais complexa, demorada e cara.

    Todos nós sabemos que essas características de perfil são fortes indicativos de maior ou menor intenção de voto em algum candidato e o TSE não deixa claro como deve-se realizar esse controle, muito menos indica um valor mínimo ou máximo de margem de erro e nível de confiança. O que é exigido é que a margem de erro e o nível de confiança sejam informados, mas é possível fazer uma pesquisa com margem de erro alta e nível de confiança baixo e divulgar esses resultados livremente.

    Esses são alguns dos critérios técnicos que não estão falando ao palpitarem sobre as pesquisas eleitorais. Existem também as questões sociais, comportamentais e psicológicas que podem explicar algum desvio nos resultados. A qualidade, atualização e confiabilidade do banco de dados do universo é outro fator importante, bem como o método de coleta (pessoal ou telefone). Não caberia em um único post abordar todos esses elementos. O que me chama atenção é o despreparo de toda essa mídia que muitas vezes está mais preocupada em efervescer a discussão ao invés de discutir racionalmente os fatos e critérios científicos. Gostaria de saber quando, onde, como, por que deixaram de acreditar na ciência e permitiram que a política das narrativas dominasse o palco.

     

    Prof. Vitor Koki da Costa Nogami

    Departamento de Administração – DAD

    Universidade Estadual de Maringá – UEM

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