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No domingo (1º), portadores de esclerose múltipla (EM), voluntários da pesquisa de doutorado do Departamento de Educação Física (DEF), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), promovem o 1º Encontro dos Amigos Múltiplos.
“O objetivo do evento é reunir pessoas que convivem com a doença, inscritas ou não na pesquisa, além de seus parentes e amigos, para uma tarde de troca de experiências para marcar o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, comemorado em 30 de agosto”, explica a funcionária pública Ana Carolina Françozo, voluntária da pesquisa e organizadora do evento.
O encontro será realizado das 15h às 17h, na Praça do Antigo Aeroporto de Maringá, na Avenida Gastão Vidigal, zona 8.
Segundo Françozo, como as pessoas que convivem com a doença não se conhecem, o intuito é promover o entrosamento e o apoio mútuo. “Não programamos nenhuma atividade neste primeiro encontro; apenas vamos fazer uma roda de conversa e um piquenique para que as pessoas possam contar suas histórias, desde o momento em que receberam o diagnóstico até os dias de hoje e, assim, possam compartilhar as dificuldades que enfrentam”, detalha.
A funcionária pública explica que desde que se prontificou a ser voluntária do estudo vive um misto de sentimentos. “Ao mesmo tempo que eu fiquei animada por poder contribuir com a pesquisa científica, conhecer pessoas com comorbidades e em sofrimento me causou muita ansiedade. Fiquei alguns dias me sentindo ‘culpada’ por estar tão bem e ter uma vida ativa e tranquila. O diagnóstico da EM, sete anos atrás, me fez mudar em vários aspectos, tanto comportamentais quanto emocionais. Tenho muito claro que minha forma de pensar pode piorar o meu quadro, por isso estou sempre vigiando meus pensamentos. Minha expectativa é incentivar os meus futuros colegas de alguma forma, para que eles descubram novas paixões e talentos dentro da realidade que vivem”, vislumbra Françozo.
Pesquisa científica
Os voluntários estão participando da pesquisa “Exercício físico em indivíduos vivendo com esclerose múltipla: aspectos psicofisiológicos”. Esta é a tese de doutorado do acadêmico Cleverson José Bezerra Guedes, do Programa de Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física (PEF). Ele está investigando se o exercício físico pode ocasionar melhorias nos aspectos imunológicos, psicológicos e funcionais em indivíduos que estão vivendo com a doença.
Segundo Guedes, na semana passada, os 33 voluntários selecionados para participarem da pesquisa começaram a fazer os exames de sangue no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas (Lepac) da UEM e irão passar pelos testes físicos na próxima semana. Os exercícios físicos devem iniciar na segunda semana de setembro. Os voluntários farão treinos de musculação duas vezes por semana no Bloco M05, do câmpus sede da UEM. Todas as atividades, acompanhamentos e exames são gratuitos aos participantes.
O pesquisador conta que se inspirou para fazer o estudo da influência do exercício físico na evolução da doença em razão da trajetória de vida de sua orientadora, a professora Luciane Cristina Arantes. Ela teve o diagnóstico de esclerose múltipla há 13 anos e acredita que a doença tem evoluído de forma lenta porque pratica atividade física com regularidade. Com sua pesquisa, Guedes quer comprovar cientificamente que os hormônios liberados durante os exercícios físicos têm o poder de retardar a evolução da esclerose múltipla.
“Vamos desenvolver um protocolo de treinamento durante três meses, já coletamos exames de sangue para verificar alguns hormônios que têm ação sobre o sistema nervoso central. A literatura mostra que quando você se exercita são liberadas, pela contração dos músculos, neurotrofinas, proteínas que têm ações benéficas sobre o sistema nervoso central, principalmente ajudando a impactar na diminuição da progressão da esclerose múltipla e na melhora da capacitação motora deles”, detalha Guedes.
Ele complementa ainda que a pesquisa também vai avaliar os aspectos psicológicos dos voluntários, com aplicação de questionários. “O projeto prevê a avaliação física e emocional dos participantes, vamos checar todas essas variáveis. Nossa intenção, após os três meses de pesquisa, é que o treinamento se torne um projeto de extensão da UEM, caso tenha adesão do grupo”, diz o pesquisador.
Guedes salienta que este é o primeiro estudo científico sobre o assunto que está sendo feito no Brasil. “Antes de iniciar a pesquisa, fiz um levantamento na literatura e não encontrei nenhum estudo sobre o mesmo tema, com todo o rigor que estamos tomando, com o cuidado de coletar sangue para análises regulares e realizar avaliação física e psicológica.”
A professora orientadora do projeto, Luciane Cristina Arantes, conta que a primeira vez que teve o sintoma não conseguiu preencher a matrícula do filho e, no dia seguinte, perdeu a visão do olho direito. Ela procurou oftalmologistas e depois neurologistas, mas exames não identificaram nenhuma doença, apenas um médico suspeitou de que poderia ser sintomas de esclerose múltipla.
“Exatamente três anos depois dos primeiros sintomas, eu tive paralisia. O lado direito do meu corpo parou de funcionar, fiquei com dificuldade de falar, o movimento não saía, nem para pegar um copo de água, até que perdi todos os movimentos do lado direito do corpo. Comecei o tratamento e, no dia seguinte, já estava fazendo exercícios físicos, com o incentivo do meu médico de que como eu já havia tido episódios de remissão, como a volta da visão, as chances de voltarem os movimentos eram grandes, o que aconteceu”, conta Arantes, complementado que nunca parou de fazer exercícios, nem mesmo quando estava em surto. “Todos os médicos se surpreendem com a boa condição física que eu estou quando veem meus exames”, comemora Arantes.
“A ideia neste estudo é reunir os aspectos biológicos, fisiológicos e psicológicos das pessoas que convivem com a doença. Cada um dos voluntários tem um tipo de deficiência física, resultante de um surto da doença, algumas conseguem recuperar o movimento outras não. Vamos tentar descobrir se os exercícios de musculação influenciam na melhora motora, pois temos percebido que pessoas que não fazem atividade física têm mais sequelas da doença, mesmo em casos de grau leve da doença”, diz Arantes.
A orientadora conclui seu pensamento declarando o que espera da pesquisa. “Minha expectativa é que no mínimo sirva de incentivo para que essas pessoas pratiquem exercícios físicos, pois a liberação de hormônios que temos na corrente sanguínea faz um bem geral para o organismo para qualquer pessoa. Agora, se estas pessoas ainda conseguirem melhorar alguma sequela, vai ser maravilhoso, vamos divulgar no Brasil inteiro”, finaliza Arantes.
O estudo conta ainda com a coorientação da professora Fernanda de Souza Teixeira e o apoio do mestrando Éliton Miranda da Silva, além dos membros do Grupo de Estudos de Psicologia do Esporte e Desempenho Humano (GEPEDH).
Serviço
1º Encontro dos Amigos Múltiplos
Data: 1º de setembro de 2024 (domingo)
Horário: das 15h às 17h
Local: Praça do Antigo Aeroporto, na Avenida Gastão Vidigal
Mais informações: (44) 93300-6840
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