Por Wilame Prado
Violência nas escolas é a grande pauta brasileira no momento. Após o ataque recente em uma creche em Blumenau (SC), que resultou na triste morte de quatro crianças, uma mescla de medo e propagação de notícias sobre ataques (muitas delas sem fundamento) tem deixado pais e mestres de cabelo em pé. Hoje, no País, há sim um receio de levar crianças e adolescentes para a escola, seja pública ou privada.
Nesse ínterim, meios de comunicação avaliam se propagam notícias envolvendo atos violentos no âmbito escolar e governantes de distintas esferas lutam pela construção da narrativa: é melhor ter um guarda para cada escola, psicólogos infantis a tiracolo ou restringir a informação na internet? Ninguém parece saber muito bem qual caminho seguir.
Há um receio de que a informação propagada acabe estimulando novos ataques, assim como acontece com casos de suicídio. Perceba ser bastante raro ler ou ver notícias sobre suicidas no noticiário brasileiro e do mundo de modo geral: nessas horas, vem à tona o famoso caso do livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, romance epistolar do clássico autor Johann Wolfgang Goethe publicado em 1774 e que teria motivado, naquela época, uma onda de suicídios na Europa. O protagonista do livro comete suicídio por não ter o seu amor correspondido de uma mulher casada. Após o chamado Efeito Werther, a obra de Goethe chegou a ter a circulação proibida em alguns países.
Em Maringá, as notícias sobre ataques a escolas assustaram pais e mestres, como não poderia ser diferente. Algumas escolas assistem ao esvaziamento de alunos, embora isso não seja confirmado oficialmente pelas autoridades políticas e educacionais. Na creche onde eu levo meu filho, na Vila Operária, faz mais de uma semana que é muito fácil encontrar vaga para estacionar o veículo na frente do estabelecimento educacional, algo inédito até então em horário de pico, minutos antes das 8 horas da manhã. Servidores do local não confirmaram, no entanto, um número grande de faltosos: afirmaram haver fluxo normal de alunos presentes, entre 200 e 250 ao dia.
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Uma fonte que não quis revelar o nome e que atua em outro estabelecimento municipal de ensino comentou que já há relato de professores que estão trancando a porta da sala de aula em Maringá. Essa mesma pessoa tem a filha dela matriculada numa escola municipal, local onde foi aplicada uma prova na semana passada. Segundo a menina de 9 anos de idade, cinco colegas de classe faltaram naquele dia: em dias de prova, o número de faltas costuma ser menor.
Esta semana não tem aula para alunos da rede municipal de ensino de Floresta, município da região de Maringá. Na sexta-feira (14), um homem armado com facas artesanais tentou pular o muro de uma escola municipal daquela cidade. Executivo e Legislativo agiram rápido e determinaram cancelamento das aulas para esta semana com menos dias letivos – sexta-feira é feriado de Tiradentes. Alegaram precisarem do prazo para que, já na próxima segunda-feira (24), todas as escolas da localidade passem a contar com a figura de um segurança armado.
A mesma medida foi tomada pelos municípios de Nova Esperança, Mandaguaçu, Sarandi e Astorga, também na região de Maringá. Após uma informação falsa de um possível ataque numa escola em Astorga ser desmentida pela delegada local e prefeitura daquela cidade, outra fakenews chocou o município que fica a 50km de Maringá: a de que um adolescente de 17 anos teria sido contratado como segurança particular em uma escola municipal.
Uma servidora pública que atua na educação municipal de Astorga escreveu para a reportagem do Maringá Post a seguinte mensagem: “Favor entrar em contato com a Prefeitura e com o responsável pela contratação.” Na postagem em que o jovem aparece exibindo o seu colete a prova de balas, um morador questiona se ele teria passado por algum tipo de treinamento para realizar o trabalho na área da segurança.
A nossa reportagem entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Astorga, que desmentiu a informação. Segundo a assessoria, a empresa particular contratada para fazer a segurança nos estabelecimentos de ensino em Astorga exige inclusive CNH e treinamentos que podem ser feitos somente por pessoas maiores de idade.
Por meio de nota, a Prefeitura de Astorga informou: “Realizamos a contratação de segurança para todas escolas municipais, estaduais, Apae e Cmei´s. Câmeras de segurança em todas as entradas das escolas, trava elétrica e interfone também foram instalados. Para semana que vem, está previsto curso sobre segurança nas escolas para os professores, e em breve o curso também será oferecido para os pais. Nosso plano de reforma das escolas, que já está em andamento, prevê colocação de grade, e já se estuda no Município a questão de cerca elétrica ou concertinas, além de aumento dos muros e botão do pânico.”
Na terça-feira (18), o prefeito de Sarandi, Walter Volpato, autorizou a contratação emergencial de segurança privada para garantir a tranquilidade de pais, alunos e servidores daquele município. O secretário de Educação, Antonio Del Nero, ouviu diretores de unidades de ensino na semana passada sobre a medida e a iniciativa avançou para ação prática, segundo informa release no site da Prefeitura de Sarandi.
Ainda sobre Maringá
Questionei o vereador Delegado Luiz Alves sobre a possibilidade de a Câmara de Maringá agir com celeridade para que haja segurança privada contratada na porta de cada creche ou escola municipal, assim como já aconteceu em cidades da região. Por áudio, ele, que também é presidente da Comissão de Segurança Pública do Legislativo maringaense, disse que, via Requerimento assinado por ele e também pelos vereadores Alex Chaves e Maninho, já há um pedido oficial para que o Executivo faça isso.
Por meio de nota, emitida na segunda-feira (18), a Prefeitura de Maringá informou que: “está em andamento, desde o início do ano, a elaboração de licitação para contratação de seguranças para as unidades escolares. Para dar celeridade, o município realizou a contratação imediata por meio de atas vigentes. A Prefeitura segue o trabalho para ampliar a proteção dos alunos e servidores com o treinamento e capacitação dos seguranças para atuação nas 116 unidades escolares.”
Por fim, Maringá aposta em outros protocolos de segurança. Segundo a Prefeitura, toda as unidades escolares possuem o Botão do Pânico para acionamento. E, na semana passada, os diretores e equipes escolares participaram de um treinamento para atualização do protocolo sobre a ferramenta. A gestão municipal também realiza a instalação de interfones com câmeras de vídeo, informou.
Relatos de 2 pais
Não pude conferir em todos os estabelecimentos de ensino da cidade se realmente já há seguranças a postos, mas no Cmei onde busquei meu filho, na manhã de terça-feira (18), por volta das 11 horas da manhã, não havia segurança armado na porta do estabelecimento, ou viaturas da PM e Guarda Civil Municipal. No entanto, ao contrário de outras oportunidades, dois portões de acesso no local estavam trancados e precisei me apresentar via interfone antes de liberarem meu filho naquele horário.
Na manhã desta quarta-feira (19), por volta das 7h45, também não havia segurança privada, PM ou guarda municipal naquele Cmei do meu bairro. O filho foi entregue no segundo portão do estabelecimento, onde havia três servidoras municipais recepcionando e encaminhando as crianças para suas respectivas salas de aula.
Em sua coluna veiculada no Jornal do Povo, o articulista Angelo Salgueiro elogiou o efetivo da segurança que passou a se fazer presente em algumas escolas estaduais em Maringá. Segundo ele, foi avistada uma viatura da Polícia Militar em frente ao Colégio Kennedy, na Avenida Mandacaru, por volta das 7h30 da manhã. “O patrulhamento está acontecendo nos colégios estaduais e trazendo um pouco mais de sensação de segurança”, escreveu.
Salgueiro comentou também que a Guarda Municipal tem feito “um trabalho de patrulhamento especial nas creches e escolas municipais, mas somente com a contratação de uma empresa de segurança será possível garantir a segurança em todas as unidades de ensino da cidade. A cidade é grande”, opinou.
20 de abril
Em seu artigo de opinião no Jornal do Povo, Salgueiro confidenciou algo muito sério: a preocupação do filho dele pequeno e de alguns colegas de sala sobre possíveis ataques em escolas nesta quinta-feira (20), fato também comentado por muita gente de meu convívio. Minha mãe, servidora de carreira em uma escola municipal da região, disse acreditar que realmente poderá ocorrer esvaziamento de alunos nesta data, pelo que tem ouvido falar de alunos, pais e mestres.
Na escola onde minha mãe trabalha, tem havido rodadas de orações de um grupo de evangélicos e uma excessiva insistência neste assunto em praticamente todos os grupos de Whatsapp ligados à educação municipal.
“Professores e demais funcionários, por favor, ficar muito atento a qualquer fala ou sinal de atos violentos dentro da escola e comunicar à coordenação para fazer os registros indicados pelo MP, com objetivo de evitar acontecimentos de violência na escola. Não é para alarmar ninguém, mas para todos terem acesso ao que fazer e para quem ligar, se for necessário”, consta um dos recentes avisos oficiais da Secretaria de Educação daquela cidade.
20 de abril foi o dia do massacre escolar de Columbine, nos Estados Unidos, que acabou com 15 estudantes mortos e que completa 24 anos. Sobre o tema, não é difícil encontrar vídeos no Instagram e no TikTok, além de textos no Twitter e no Facebook. A data também é o aniversário do ditador alemão Adolf Hitler, nascido em 1889 e responsável pelo Holocausto, considerado o maior ato genocida de todo o século 20 e que ceifou a vida de aproximadamente seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Ataques em escolas são bastante comuns nos Estados Unidos, onde há maior liberação de armas para civis. Amigo que já morou e atuou como jornalista naquele País, o apresentador do Cidade Alerta (RIC Record), Nader Khalil, disse que noticiava diariamente os malfadados ataques a ambientes escolares, ou pelo menos tentativas frustradas de jovens norte-americanos daquele país. Segundo a BBC, houve uma média de 1,5 tiroteio em massa por dia nos EUA de 1º de janeiro a 27 de março deste ano.
Um problema federal
A informação, ou a desinformação, está na mira do Governo Federal, que prometeu restrições severas em redes sociais de qualquer estímulo a ataques violentos. Na terça-feira (18), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, divulgou balanço apontando a retirada do ar de 756 perfis, em diferentes redes sociais, que influenciavam ou estimulavam ataques violentos nas escolas, como os ocorridos nos últimos dias.
O presidente Lula também fez declarações sobre o assunto: disse que haverá R$ 3,1 bilhões em recursos para Estados e municípios promoverem um ambiente escolar mais seguro. Infraestrutura, equipamentos de segurança, ações de formação e suporte à implantação de núcleos de apoio psicossocial em escolas estão no pacote. E corroborou: não se pode transformar escolas em presídios de segurança máxima.
Ainda de acordo com o presidente do Brasil, é preciso cuidar da saúde mental nas escolas, não apenas dos alunos, mas também dos pais. Para ele, segurança e muros altos não resolverão o problema, e criticou os games violentos, dizendo que jogos de tiro ensinam crianças a matarem. A fala contra videogames dividiu opiniões, pois muitos discordam que a violência seja culpa dos games ou mesmo da televisão.
O QUE FAZER EM CASO DE AMEAÇA DE ATAQUE A ESCOLAS
– Especialistas afirmam que ameaças não devem ser ignoradas. Por isso, é importante que os pais e escolas procurem a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça para denunciar qualquer tipo de ameaça
– Não compartilhe mensagens, vídeos, fotos ou áudios com as ameaças
– As autoridades precisam ser notificadas sobre qualquer tipo de ameaça, pois quem as produz ou compartilha também pode responder criminalmente
– Pais, alunos e escolas devem manter diálogo estreito sobre alertas, receios e medidas adotadas. A transparência das ações é importante para aumentar a sensação de segurança
– Fique atento e informe ao colégio qualquer mudança no comportamento dos alunos
COMO DENUNCIAR
– Como parte da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça lançou um canal no site para que sejam denunciados sites, blogs e publicações nas redes sociais. O site para denúncia é o www.mj.gov.br/escolasegura
– No caso de ameaça, é possível ligar para o 190, canal da polícia que permite que qualquer pessoa forneça informações sobre delitos e formas de violência, com garantia de anonimato
– Denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, sendo possível também enviar mensagens de texto, áudios, fotos, arquivos multimídia, links ou URLs. O denunciante não precisa se identificar, ficando sob anonimato
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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