A Câmara de Vereadores de Maringá aprovou nesta terça-feira, por unanimidade, o nome do pioneiro Aniceto Gomes da Silva para nominar a ciclovia da Avenida Brasil em toda sua extensão. Aniceto chegou antes da existência de Maringá, ajudou a criar os quarteirões hoje conhecidos como Maringá Velho, era conhecido por ser “amigo” do presidente da Companhia Melhoramentos, Arthur Thomas, e teve seu destino traçado por um pacote de dinheiro que achou quando ainda era um rapazote.
A homenagem estará completa quando o projeto virar Lei assinada pelo prefeito Ulisses Maia (PSD).
A homenagem foi uma sugestão da família de Aniceto e virou projeto por iniciativa do vereador Cristian Marcos Maia da Silva, o Maninho (PDT).
A aprovação por unanimidade foi uma forma de reconhecimento dos vereadores a uma pessoa presente na história de Maringá desde o primeiro dia, aliás, antes do primeiro dia, pois Aniceto chegou antes de nascer aquela porção de terra que hoje é conhecida como Maringá Velho.
Durante a sessão, com a presença de descendentes do homenageado, Maninho fez um breve relato da vida de “seo” Aniceto, e nesse caso vale lembrar que é quase impossível resumir 95 anos de uma vida em alguns minutos. “Seo” Aniceto morreu em 2016 com 94 anos quando passava uma temporada na cada de uma filha em Manaus, a capital do Amazonas.
Mas, até seus últimos dias, um dos prazeres do velho Aniceto era contar histórias do moço Aniceto, gabava-se não somente de ser o último dos primeiros moradores de Maringá, como também por ter sido amigo pessoal do todo-poderoso Arthur Thomas, diretor-gerente da Companhia de Terras Norte do Paraná (Melhoramentos), empresa que colonizou o norte e o noroeste paranaenses.
Aliás, ele veio para o lugar onde foi criada Maringá a convite de Mr. Thomas e montou a primeira padaria da cidade também por força do gestor inglês.
Simples garçom, mas amigo de Mr. Arthur Thomas
Aniceto sempre foi do tipo que gostava de contar o que viu, e viu muito. Afinal foram 74 anos em Maringá. Ele viu surgir a primeira construção, o Hotel Campestre – onde acabou sendo um dos primeiros funcionários -, a chegada dos primeiros moradores, os primeiros acontecimentos, o nascimento do Maringá Novo, as primeiras construções, primeiras eleições, chegada da energia elétrica, até que a cidade se transformasse na metrópole que é hoje. E nesta metrópole, ele veio morar no Centro, onde, ao lado da mulher, a também pioneira Sebastiana Perioto, criou seis filhos.
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“Cheguei a Maringá uns dois dias antes de o Maringá Velho ser inaugurado”, contava o desbravador. Isto foi em 1942. “Aqui só tinha passarinho, onça e mato, muito mato. Logo fiquei com vontade de ir embora, mas fui ficando porque não tinha para onde ir”.
Pacote de dinheiro
Antes de vir para a mata onde nasceu Maringá, Aniceto Gomes ficou famoso por um exemplo de honestidade, tão famoso que foi conhecido na Inglaterra e chegou aos ouvidos de Mr. Thomas.
O exemplo foi dado quando o jovem de 19 anos recém-chegado de Caruaru (PE) trabalhava como carregador de malas em um hotel de Ourinhos, no Estado de São Paulo, e, ao arrumar um quarto, percebeu que alguém tinha esquecido um pacote. Saiu pelas ruas procurando o cliente, um fazendeiro de Minas Gerais, soube que ele e outros fazendeiros tinham embarcado no trem. “Entrei no trem, procurando, e só achei o homem quando já estava fora de Ourinhos”.
Depois de fazer a entrega, Aniceto ficou sabendo que o pacote era de dinheiro. E foi recompensado com uma polpuda gorjeta.
O exemplo de honestidade foi muito comentado, cruzou o Atlântico e chegou aos ouvidos de Arthur Thomas, em Londres, que quis conhecê-lo em sua vinda ao Brasil.
Assim, o nome do pioneiro sempre esteve associado a uma amizade que pareceria impossível levando-se em contas as diferenças de cultura, de bolso e de idioma.
“Ele ficou meu amigo, pediu que eu viesse para Londrina com ele, mas eu não quis e ele me deu um cartãozinho todo escrito em inglês”.
O carregador de malas nunca soube o que estava no cartão, mas seu destino já estava traçado. Poucos dias depois, teve uma briga com o patrão e perdeu o emprego. Foi aí que lembrou-se do cartão em inglês. Pediu a um professor para traduzir e ficou sabendo que tinha um emprego garantido no Paraná, onde a Companhia de Mr. Thomaz estava criando várias cidades.
Embarcou para Londrina e foi encaminhado para Maringá, que na verdade ainda não existia. Com a inauguração do Hotel Campestre, que era da Companhia e gerenciado pelo desbravador José Inácio da Silva, que mais tarde ficaria conhecido como Zé Maringá, tornou-se o primeiro garçom.
Mas, Mr. Thomas ainda boliria no destino de Aniceto. Na sua viagem seguinte ao Brasil, o empresário inglês veio ao lugar que mais tarde ficaria conhecido como Maringá Velho, onde seus corretores recebiam compradores de terras para a abertura de grandes fazendas no norte e noroeste do Paraná.
Ao chegar, descobriu que a equipe que transportava mantimentos esquecera-se de trazer pão. A solução foi chamar o garçom do Hotel Campestre, que fazia pão para os hóspedes todos os dias.
“Quando Mr. Thomas soube o que aconteceu, me chamou ao escritório. Lá eu confessei que não estava satisfeito com meu trabalho e ele mandou demarcar uma data para que eu construísse uma padaria. Depois, comprou a madeira e poucos meses depois inaugurei a padaria, que foi a primeira de Maringá”.
O primeiro padeiro da cidade ganhou dinheiro, mas decidiu mudar de ramo devido às dificuldades para a chegada do trigo até Maringá. Vendeu a padaria, comprou uma pequena fazenda na região de Cianorte e depois tornou-se dono de hotel no Centro de Maringá, na Rua General Câmara, que depois ganhou o nome do pioneiro Basílio Saltchuck).
O nome do pioneiro está associado ao início da hotelaria no “Maringá Novo”. Ele construiu o Hotel Lincoln, na Basílio Saltchuk, próximo de onde hoje está o Supermercado Cidade Canção.
Com ar de quem viu Maringá sair do zero e chegar ao que é hoje, Aniceto Gomes sempre demonstrou satisfação por ter participado e ajudado a fazer a história da sua cidade, tanto na fase inicial, quando era apenas um jovem garçon longe de seu torrão natal, quando depois, quando tornou-se empresário.
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