Diálogo e unidade é o que propõe a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) de 2021. No entanto, grupos conservadores se manifestam contrários à campanha e ameaçam boicotar o movimento. Esses grupos questionam a inclusão, nesse diálogo, da população LGBTQI+ e o fato da campanha reunir outras religiões.
Durante o lançamento da CFE, na manhã desta quarta-feira (17/2), o arcebispo de Maringá, dom Severino Clasen, defendeu a campanha e disse que os ataques vêm de grupos anticristãos. Além de destacar a importância do diálogo frente à polarização, ele defendeu a vacinação contra a Covid-19 e criticou o armamento. “Precisamos de oração e de vacina em defesa da vida e não armas para matar vidas.”
Desde a década de 1960, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe que a Igreja Católica reflita sobre algum tema durante a Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa. Neste ano, como ocorre em média a cada cinco anos, a Campanha da Fraternidade reúne diversas religiões cristãs.
O texto-base da CFE foi elaborado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). A campanha tem como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor” e o lema “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade”, extraído da carta de São Paulo aos Efésios, capítulo 2, versículo 14.
Com uma mensagem de diálogo frente à polarização, a campanha se tornou alvo de protestos por grupos conservadores. Um dos motivos é a inclusão da população LGBTQI+ e a defesa pelo fim da violência contra esse grupo no texto-base da campanha. O documento cita dados do Atlas da Violência 2020 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a publicação, em 2018 “420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas trans”.
“Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, diz o texto-base. O documento também afirma que mulheres, especialmente as negras e as indígenas, são as maiores vítimas do “sistema de violência” e defende a importância das políticas de defesa dos direitos humanos.
Nesta quarta, no lançamento da campanha, o arcebispo de Maringá, dom Severino Clasen, destacou que o diálogo é o oposto do ódio e que implica em abertura, acolhida e escuta. Para ele, o texto-base revela como a sociedade passa por uma crise pessoal e social, fruto não apenas da pandemia, mas da falta de sensibilidade humana.
“Diálogo, acolhimento das pessoas de outras religiões, situação social, estado e opção de vida. Ao nos fecharmos para o diálogo, o grande chamado da Campanha da Fraternidade deste ano nos desinstala, nos provoca a sermos irmãos e acolhermos os diferentes, pois em todos eles encontramos a imagem e semelhança de Deus”, disse.
Segundo dom Severino, o período da Quaresma ensina para os cristãos que o pecado deve ser eliminado e o pecador acolhido. “Foi essa a missão de Jesus Cristo, que veio perdoar os pecados e não condenar o pecador. Pior ainda como fazem os hipócritas de hoje, que excluem e ainda incitam a discórdia, o ódio e a divisão.”
O padre João Paulo Penco, articulador da CFE na Arquidiocese de Maringá, disse que o diálogo é o caminho para a paz. No entanto, ele afirmou que a escuta vem perdendo espaço para o ódio e a intolerância, o que pode ser percebido pelo índice de violência em crescimento no Brasil. O padre também criticou a política do armamento.
“É lamentável que em um país que se diz cristão, haja tanta violência. É lamentável que se propague uma ideologia do armamento para ofuscar o dever do Estado que é garantir a segurança pública. O próprio Cristo se desarmou e não permitiu que seus discípulos se armassem para se defender”, disse.
Em Maringá, o lançamento da CFE ocorreu nesta Quarta-Feira de Cinzas na sede da Casa de Apoio mantida pela entidade ecumênica Amor ao Próximo. A instituição é mantida por voluntários de diferentes religiões e oferece serviço de acolhimento para pacientes em tratamento de saúde. A casa oferece alimentação, pernoite, atendimento social e psicológico.
Além de representantes da Igreja Católica, participaram do lançamento lideranças de outras religiões. A pastora da Igreja de Confissão Luterana de Maringá, Rosane Pletsch, reforçou a importância do diálogo ecumênico entre todas as religiões.
“Esse diálogo é tão necessário, mas também nos é um pouco caro porque insistimos com as nossas verdades, as verdades das nossas igrejas, das nossas denominações. A gente se esquece que o diálogo é escuta amorosa e transformação de si. No diálogo, a gente entra de um jeito e não sai do mesmo jeito, porque o outro nos tocou, nos fez refletir e saímos um pouquinho melhor.”
CNBB divulgou nota sobre Campanha da Fraternidade 2021
Após os ataques, a CNBB divulgou nota sobre a campanha. No texto, os bispos afirmam que o texto-base da CFE deste ano seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”, diz a nota.
A CNBB reafirmou que a Igreja Católica se mantém fiel à doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e disse que os recursos arrecadados com a campanha “só serão aplicados em situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica”. Em Maringá, os recursos arrecadados já ajudaram mais de 140 projetos sociais. Veja a nota da CNBB na íntegra.
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