Internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde o dia 27 de julho, o neurocirurgião Lucas Pires Augusto, 32 anos, morreu devido a complicações provocadas pela Covid-19 no sábado (8/8), véspera do Dia dos Pais. Antes de ser transferido para a UTI de um hospital em Maringá, o médico desabafou em uma rede social. “Peguei essa doença fazendo o que amo, cuidando dos meus pacientes com amor e dedicação. Faria tudo outra vez.”
Saudável, Pires não tinha nenhuma comorbidade, segundo a família. O Neurocirurgião atuava na linha de frente de combate ao coronavírus no Instituto de Saúde Bom Jesus, em Ivaiporã, na região norte do estado. Durante a rotina de trabalho o médico ajudou a tratar pacientes que apresentavam sequelas neurológicas da contaminação do coronavírus.
O jovem médico deixa a mulher, Camila, e dois filhos, Beijamin, de apenas 2 anos, e Isabella, que recém completou dois meses de vida.
Em nota, o Instituto de Saúde Bom Jesus se solidarizou com os familiares e amigos e Lucas. “Neurocirurgião, Dr. Lucas deixa amigos e colegas e em sua passagem por Ivaiporã, embora encurtada pela fatalidade, ficará marcada pelo exemplo de grande dedicação profissional”, disse o hospital.
Pires aceitou o emprego na área da neurologia em Ivaiporã devido a proximidade com Maringá e em razão do atraso dos planos, por conta da pandemia. O jovem médico havia sido aprovado em uma bolsa de estudos na Flórida, nos Estados Unidos, e iria realizar o sonho de trabalhar fora do país.
Com um futuro promissor, o jovem médico já somava ao currículo histórias ricas na profissão. Durante a residência em neurocirurgia na USP Ribeirão Preto (SP), Pires fez parte da equipe responsável pela cirurgia de separação das gêmeas siamesas, Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que nasceram unidas pela cabeça em 2018.
Entre intervenções, internações e recuperação, o processo de separação total das gêmeas levou quase um ano. Elas foram totalmente separadas em outubro de 2018, após cinco cirurgias de sucesso realizadas por especialistas do Brasil, incluindo Lucas, e até dos Estados Unidos.
Entre os profissionais que participaram da cirurgia de separação das gêmeas, Lucas Pires foi o segundo a morrer devido a complicações do novo coronavírus. A primeira morte dos médicos da equipe foi do médico norte-americano James Goodrich, em março.
Criado em Cataguases (MG), Pires se formou em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2013. Homem de fé, o médico fazia parte da Igreja Batista Reformada. Na publicação que viralizou nas redes, Pires cita um trecho de Romanos, capítulo 8, versículo 28. “Sei que meu Deus é soberano sobre todas as coisas”.
Lucas foi o oitavo médico a morrer no Paraná devido a complicações da Covid-19. Em nota o Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR) lamentou a perda do jovem médico e destacou uma homenagem feita por uma colegada de turma de Pires.
“Queridos Benjamin e Isabela, O pai de vocês foi para outra dimensão hoje, ficar mais pertinho de Deus. Ele deixa o plano terreno como um herói. Nunca se esqueçam disso: por amor à profissão, ele perdeu a própria vida cuidando de outras vidas”, escreveu a médica Valéria Cristina Scavasine.
Em junho, o boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Maringá revelou que o número de casos de coronavírus dobraram entre trabalhadores da saúde no intervalo de apenas uma semana em Maringá. Na ocasião 123 profissionais estavam infectados, número 105% maior em relação ao registrado em 8 de junho, quando eram 60 trabalhadores da saúde com a Covid-19 na cidade.
O secretário municipal de saúde de Maringá, Jair Biatto, também foi vítima do novo coronavírus. Além de secretário, Biatto atua como médico intervencionista nos leitos de Unidade de terapia intensiva (UTI), e atendia pacientes com suspeita de Covid-19 no hospital Bom Samaritano. Biatto conseguiu se recuperar do novo coronavírus.
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