O Ministério Público, por meio da 13ª Promotoria de Justiça de Maringá, responsável pela proteção ao meio ambiente, vai apurar a seca do lago do Parque do Ingá. O pedido de investigação foi apresentado pelos estudantes Gustavo Brogim Leal, de 16 anos, e Maria Eduarda de Souza Almeida, de 17, membros do Parlamento Jovem da Câmara de Maringá.
A 13ª Promotoria de Justiça acolheu a representação e determinou a instauração de notícia de fato na sexta-feira (29/5). Os membros do Parlamento Jovem solicitam ao Ministério Público providências sobre os poços artesianos no entorno do parque. Na representação, eles pedem que seja verificado se os poços estão de acordo com a legislação municipal e se os órgãos responsáveis desenvolvem o trabalho de fiscalização e controle.
Além da ausência de áreas permeáveis no entorno do parque, a retirada de água do subsolo por poços artesianos foi um dos problemas detectados por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) durante a elaboração do Plano de Manejo do Parque do Ingá. O plano ainda não foi publicado, mas uma apresentação virtual com os resultados está marcada para os próximos dias.
No pedido de investigação, os estudantes questionam se há medidas compensatórias para reduzir os efeitos e até mesmo se os poços são necessários para abastecimento da população do entorno do Parque do Ingá. “Acreditamos que pode estar tendo um abuso, o Parque do Ingá vem sendo vendido como um cartão postal para novos prédios”, diz Maria Eduarda.
No ano passado, Gustavo Brogim Leal e Maria Eduarda de Souza Almeida organizaram uma manifestação em defesa do meio ambiente no Parque do Ingá. Desde então, preocupados com a situação do parque, começaram a pesquisar e levantar informações que pudessem basear o pedido de investigação.
Na representação ao Ministério Público, eles anexaram relatórios públicos sobre os poços artesianos e reportagens que trazem informações sobre problemas do Parque do Ingá. Os estudantes afirmam que o lago vem sofrendo diversas modificações ao longo dos anos por causa da intervenção humana.
Uma das reportagens sobre a seca no lago produzida pelo jornal Folha de Londrina é de 2003, ano em que Gustavo Leal nasceu. “Nós vamos ser os futuros cidadãos, prefeitos, professores e advogados, os moradores da cidade. Se a gente começar a fazer algo agora, poderemos sentir os efeitos em alguns anos”, diz Gustavo.
Para Maria Eduarda é importante que os jovens também ajudem a construir a cidade que desejam viver no futuro. “A terra vive sem a gente, mas nós não vivemos sem a terra. Nós, como somos seres racionais, devemos atribuir a nossa racionalidade para o que nós vamos herdar. A natureza vai ser aquilo que nossos netos e filhos vão herdar, não quero que recebam isso de qualquer jeito.”
Em junho do ano passado, o Maringá Post registrou a seca no lago do Parque do Ingá. Neste ano, devido a falta de chuvas, a situação se repetiu no mês de maio e de forma mais perceptível. O lago secou e, em alguns pontos, era possível atravessar a pé.
A bióloga do Nupélia (Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura) da UEM, Susicley Jati, integrou a equipe que estudou o lago e a vegetação do parque para elaboração do Plano de Manejo e também acompanhou os estudos do departamento de Geografia da universidade que analisaram a parte física do terreno.
Segundo ela, o lago é abastecido quase exclusivamente com a água da chuva, por esse motivo o nível da água diminui todos os anos no período de estiagem. No entanto, o grupo de geógrafos e geólogos da UEM identificou dois problemas comuns de lagos urbanos no lago do Parque do Ingá: a falta de áreas permeáveis e o rebaixamento do lençol freático por uso da água do subterrâneo por poços artesianos.
“É uma equação negativa para o acúmulo de água. Se olharmos a vertente do Parque do Ingá, é uma grande área, não só dentro do parque, em que a água percorreria e abasteceria o lençol freático. Toda essa área está impermeabilizada e, para piorar, no entorno do parque muitas são as construções que tiram água do lençol freático, que vai sendo rebaixado com os anos”, explica a bióloga.
Para Susicley Jati, é uma equação difícil para ser resolvida, já que boa parte da população que usa água de poços artesianos teria que usar água do sistema normal da Sanepar. Além disso, é preciso aumentar as áreas permeáveis com a construção de calçadas ecológicas e desenvolver ações de engenharia para aproveitar a água da chuva. No entanto, para aproveitar a água da chuva há outro problema: a entrada de esgoto clandestino nas redes pluviais.
A Prefeitura de Maringá, por meio da assessoria de imprensa, informou que não foi notificada sobre o pedido de investigação e não vai se posicionar no momento. Até o fechamento da reportagem a assessoria de imprensa da prefeitura não confirmou a data de apresentação dos resultados do Plano de Manejo do Parque do Ingá.
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