Maringaense em quarentena em Pádua, na Itália, conta como o coronavírus atingiu o país

Mesmo com mais de 10 mil mortos no país, os sentimentos que correm pelas ruas desertas da Itália são de união e esperança

  • Murilo Zangari, de 34 anos, mora há cerca de seis meses em Pádua, na região italiana de Vêneto. O maringaense, formado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), viajou até a Itália para realizar o processo de cidadania e tentar a vida no país europeu.

    Nas ultimas semanas de fevereiro, Zangari percebeu que as coisas iam começar a mudar na Itália. E mudou muito. Atualmente, com 8.724 casos confirmados e 413 mortos, a região de Vêneto é a terceira mais atingida pelo novo coronavírus no pais.

    “No dia 26 de fevereiro assinei minha cidadania italiana, a partir daí, lembro que na mesma semana começaram as notícias sobre o aumento de hospitalizações por conta do coronavírus aqui na Itália”, relata o maringaense.

    Segundo Zangari, as escolas e universidades foram as primeiras instituições a fecharem as portas. “Mesmo com as escolas e universidades fechadas, as lojas, restaurantes e academias continuaram funcionando normalmente”, recorda sobre as medidas pouco enérgicas adotadas pela Itália no começo da pandemia.

    Já no começo de março, vendo a situação do país sair do controle, a Itália decretou o isolamento social. “Ouvíamos notícias de que hospitais em Milão já estavam tendo que escolher entre quem ia viver e quem ia morrer. Os leitos de hospitais já estavam lotados, dando sempre prioridade aos mais jovens”, conta Zangari.

    No dia 8 de março foi decretada quarentena total no país. Comércios, restaurantes e academias foram todos fechados. Só continuaram funcionando as farmácias, supermercados e outros serviços essenciais.

    “As pessoas foram proibidas de passear na rua ou fazer qualquer outra atividade que não envolvesse trabalho essencial. Desde então (9/3), estou dentro de casa e saio apenas para ir ao supermercado mais próximo”, conta.

    Para se manter ocupando durante a quarentena, Zangari conta que envia currículos para empresas, cozinha e passa muito tempo lendo notícias. Ele comenta que fazer exercícios físicas, navegar nas redes sociais e fazer vídeo chamadas com amigos e familiares também ajudam a passar o tempo.

    Mesmo com mais de 10 mil mortos no país, os sentimentos que correm pelas ruas desertas da Itália são de união e esperança. “Nunca se viu tantas bandeiras italianas em sacadas e janelas. O slogan por aqui é “andrà tutto bene”, que significa “vai ficar tudo bem”. Eles realmente querem sair disso mais fortes e unidos”, comenta o maringaense.

    Para o Maringá Post, Murilo Zangari diz que acredita que a maioria dos maringaenses também sairá dessa crise mais forte.

    “Alguns maringaense são irredutíveis e seguem a risca o que o atual presidente diz e faz. Assim como o Trump voltou atrás, vou ficar na torcida para que ele coloque a vaidade, ego e soberba um pouco de lado e se torne mais humano. Quando isso tudo acabar, acredito que os maringaenses darão mais valor a ciência, aos estudos e a liberdade”, diz Zangari.

    Bisneto de italiano, Zangari pede aos maringaenses que levem a sério a doença e que respeitem a quarentena. “Não subestimarem o caos que o vírus pode fazer. Como os maiores especialistas dizem, o prejuízo é menor se tentarem achatar a curva de contágio para que haja menos infectados e não ocorra uma sobrecarga no sistema de saúde”, diz.

    A respeito do buzinaço pedindo a reabertura do comercio em Maringá, Zangari diz que deve ser evitado. “Não se pode colocar a vida em risco pela economia. Se realmente o comercio abrir, continuem em casa. Saiam apenas em casos de extrema necessidade.”

    Mesmo com toda crise e dificuldades vividas na Itália, Zangari não pensa em retornar ao Brasil após a crise. “Tenho minha família e amigos no Brasil, sempre vou estar voltando para visitar. Atualmente acho que as perspectivas econômicas por aqui ainda são melhores”, diz o descendente de italiano.

     

    Comentários estão fechados.