Homem, negro, com idade média de 38 anos e baixa escolaridade. Esse é o perfil das pessoas em situação de rua em Maringá como mostra a média dos cinco anos da pesquisa “A População em Situação de Rua em Maringá: Desconstruindo a Invisibilidade”, realizada pelo Observatório das Metrópoles. O levantamento também revela que a maioria está na rua há no máximo um ano.
Nesta 5ª edição, a pesquisa mostrou que a população de rua aumentou 27% na cidade em relação a 2018. Foram abordadas 450 pessoas em situação de rua, das quais 294 foram entrevistadas e 156 se recusaram a responder as perguntas. Desse total, 48% estavam em centros de acolhimento e 52% na rua.
O número de pessoas em centros de acolhimentos abordadas pela pesquisa vem aumentando desde 2017. No ano passado, por exemplo, 41% estavam em centros de acolhimento e 59% na rua. De acordo com a análise comparativa dos cinco anos, o albergue é frequentado por 18% dos que estão na rua, mas o local onde a maioria dorme é na calçada (36%). Outro dado que chama atenção é que 43% estão em situação de rua há no máximo um ano.
Desde 2015, quando houve a primeira edição da pesquisa, o número de moradores em situação de rua aumentou 84%. No entanto, esse crescimento vem acompanhado de outra realidade: 93% gostariam de sair das ruas. Para deixarem essa situação, eles apontam como motivações emprego, tratamento, família e moradia.
Entre os entrevistados, 50% têm ensino fundamental incompleto, mas declaram que têm uma profissão. Nesta edição da pesquisa, as profissões mais citadas foram pedreiro, pintor, servente, vendedor, mecânico, motoristas e serviços gerais. A principal fonte de renda da maioria é com a realização de bicos (29%). Em seguida, aparecem cuidador de carro e pedidos de dinheiro (23%).
Durante todos os anos em que a pesquisa foi realizada, a maior parte dos entrevistados (49%) afirma ter renda média diária superior a R$ 50. No entanto, segundo o levantamento, essa informação deve ser relativizada, pois se refere a renda dos dias em que a pessoa faz alguma atividade e não a renda diária.
Para a coordenadora da pesquisa e do Observatório das Metrópoles Núcleo UEM/Maringá, Ana Lúcia Rodrigues, a pesquisa mostra que as pessoas em situação de rua são o retrato da desigualdade social no Brasil.
“Todas as dificuldades que uma pessoa tem para se integrar na vida urbana, essas pessoas representam. Elas não apenas representam a desigualdade social, mas expressam a mais perfeita expressão da nossa sociedade desigual, contraditória e injusta”.
O que leva as pessoas à rua?
Nesta edição da pesquisa, 46% dos entrevistadores apontaram a dependência química como principal razão para estarem nas ruas. Aparecem em seguida desentendimento com familiares (37%) e desemprego (21%). Além disso, 80% dos entrevistados consomem bebidas alcoólicas, 75% cigarro e tabaco e 54% crack e cocaína. A maioria, 62%, não faz tratamento de saúde.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, a dependência química está ligada a um grande conjunto de fatores. “A dependência está associada, em um primeiro momento, ao alcoolismo. O alcoolismo, muitas vezes, está associado à separação do casal, perda do emprego e perda de familiares. É um conjunto de perdas que acabam levando o sujeito ao alcoolismo e ao esfacelamento da estrutura familiar. A rua é o ápice desse problema”.
Forças de segurança são principais autores de violência física
Na média dos cinco anos, as forças de segurança são os principais autores que praticam violência física contra a população em situação de rua. Pelo histórico, os policiais militares foram responsáveis em 32% dos casos e os guardas municipais por 19%. A violência praticada entre as pessoas em situação de rua aparece em segundo lugar (27%).
Para Ana Lúcia Rodrigues, é preciso que as forças de seguranças sejam capacitadas para atuar com a população em situação de rua. “É evidente que o uso de drogas é um componente que deixa muito complexa a atuação entre essas pessoas, mas elas não podem ser criminalizadas. Nós temos o Conselho Municipal de Drogas que está pronto para fazer a capacitação. Precisamos de uma política de segurança que promova a segurança e não ao contrário que promova violência”.
Segundo a coordenadora da pesquisa, é urgente que o município revise e amplie os serviços à população de rua como o Consultório na Rua, o Centro Pop e o Portal da Inclusão. Ela também aponta como medidas a transformação em lei da política de assistência à população em situação de rua e a retomada das atividades do Comitê Intersetorial da Política Municipal para a População em Situação de Rua.
Ana Lúcia Rodrigues defende que o município transfira o Centro Pop para um lugar adequado e transforme o espaço em um centro dia, onde a população possa permanecer durante o dia e desenvolver atividades no local. “A prefeitura não pode ficar acuada porque ninguém quer o equipamento de serviço social na sua vizinhança”, diz.
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