Centro de Oncopediatria do HU diagnostica três casos de câncer por mês. Mas tratamentos só vão ocorrer a partir de 2020

Prédio começou a ser construído em 2009, foi inaugurado em 2013 e, por erros de execução, já deixou de ser ampliado. É uma longa história.

  • Ao visitar as salas do prédio destinado ao Centro de Oncopediatria, no complexo do Hospital Universitário de Maringá (HUM), a sensação é que vários antedimentos são realizados no local. Na sala de espera, por exemplo, alguns quadros, vasos de plantas e revistas compões o ambiente. No entanto, o local inaugurado em 2013 ainda não oferece tratamento de quimioterapia às crianças com câncer.

    Uma sequência de erros de projeto e na execução das obras atrasaram a entrega do Centro de Oncopediatria em quase cinco anos. O Maringá Post visitou o local e conferiu que o prédio ainda continua em reformas, previstas para terminar em agosto desse ano. Após o término das obras, vai ser preciso fazer a certificação do local e contratar pelo menos 30 servidores, entre médicos, enfermeiros e outros profissionais.

    A expectativa da médica do HUM e coordenadora do projeto de oncologia pediátrica no hospital, Silvia Maria Tintori, é que o local comece a oferecer tratamento às crianças com câncer no início do próximo ano. No entanto, ela afirma que não é correto dizer que o prédio foi entregue sem funcionar, já que parte do local é destinado ao Ambulatório de Hematologia, referência em tratamento de crianças na região.

    “A gente faz, em média, de dois a três diagnósticos por mês de casos de oncologia pediátrica e realizamos o acompanhamento pós-tratamento. É o único ambulatório pelo SUS [Sistema Único de Saúde] que faz esse diagnóstico”, disse Silvia Tintori. Segundo ela, desde 2013 foram atendidos 20 mil pacientes no Ambulatório de Hematologia.

    Ela reconhece que o prédio ainda não oferta tratamento de quimioterapia, como previa o projeto inicial. Se o Centro de Oncopediatria estivesse funcionando, a estimativa dela, com base em orientações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é que o local estaria atendendo no mínimo 113 novos casos de oncologia infantil por ano.

    Hoje, as crianças diagnosticadas na unidade são transferidas para Curitiba e necessitam de longas viagens para tratamento. De acordo com Silvia Tintori, apenas no primeiro semestre do ano passado, mesmo sem ser referência em tratamento de oncologia infantil, foram diagnosticados 40 novos casos oncológicos no local.

    Recepção do Centro de Oncopediatria está pronta / Murillo Saldanha

    Erros de execução e de projeto atrasaram a obra

    A construção do Centro de Oncopediatria começou em 2009, período em que o Estado era governado por Roberto Requião. A construção só ficou pronta em 2013, durante o governo de Beto Richa (PSDB). A médica Silvia Tintori explica que, por causa do início do novo governo, o projeto de oncologia teve que ser apresentado novamente.

    “No dia da inauguração a gente colocou a proposta para que o governador encampasse o projeto de oncologia pediátrica, que foi aceito e teve os recursos liberados. Aí veio a polêmica: ‘Ah, mas inaugurou um prédio sem funcionar?’. Não, na época mais de 4 mil pessoas já tinham passado pelo Ambulatório de Hemofilia”.

    Os recursos foram liberados pelo governo estadual e as obras finalizadas. No momento de de realizar a certificação do espaço, para garantir que nenhum composto quimioterápico do laboratório pudesse contaminar o meio ambiente e os profissionais que trabalham no local, foram verificadas falhas no sistema.

    As falhas levaram uma disputa judicial da Universidade Estadual de Maringá (UEM) com a empresa fornecedora, que travou o uso do espaço por vários anos. Quando a empresa aceitou retirar os equipamentos, foi feito um novo projeto que começou a ser colocado em prática no ano passado.

    Nesse período, a legislação mudou e também foram necessárias outras readequações no espaço, como a instalação de gases medicinais, portas de acionamento automático e outras exigências.

    No momento de instalar o sistema de ar, também houve outro problema. As aberturas no andar técnico, onde devem ser instalados os equipamentos, eram pequenas e não permitiam a entrada dos equipamentos. Agora, como o Maringá Post verificou, estão sendo abertos espaços para que os equipamentos possam ser instalados.

    Segundo a médica Silvia Maria Tintori, a construção inicial do prédio e os equipamentos custaram aproximadamente R$ 1,4 milhão e as outras readequações posteriores cerca de R$ 630 mil.

    O projeto ainda prevê a construção de três andares. De acordo com ela, cerca de R$ 5 milhões foram liberados para a construção do segundo e terceiro andar, mas os recursos tiveram que ser recusados por causa dos problemas apontados durante a certificação. A ideia era que nesse espaço pudessem ser construídos mais consultórios, salas de recreação, psicologia, fisioterapia e outros serviços.

    Operários trabalham para abir espaço e instalar o sistema de ar / Murillo Saldanha

    Construção do Hospital da Criança causa dúvidas sobre a duplicação do serviço

    A coordenadora do projeto de oncologia pediátrica, Silvia Tintori, afirma que o Hospital Universitário e a UEM dialogam com o governo do Estado para que o Centro de Oncopediatria possa começar a funcionar. Segundo ela, uma equipe foi montada para fazer os protocolos e o contato com o governo. O secretário estadual de Saúde, Carlos Preto, também demonstrou interesse em conhecer a unidade.

    Agora, a preocupação da médica é com a construção do Hospital da Criança. A questão é que se investe em um mesmo serviço, de oncologia pediátrica, enquanto o Centro de Oncopediatria no complexo do HU enfrenta obras e readequações há mais de cinco anos para ofertar o mesmo serviço.

    “Nós vamos ter que discutir, porque certamente pelo SUS vai ser credenciado apenas um serviço, mas podemos fazer uma referência, aqui casos mais simples e lá casos mais complexos. Então fica essa discussão de para quê duplicar os serviços. Bom, se aqui não vai ser oncologia alguém vai ter que decidir o que vai ser”, diz Silvia Tintori.

    Procurado pela reportagem, o secretário municipal de Saúde, Jair Biatto, afirma que os dois serviços ainda estão no início e que há tempo suficiente para discutir a questão. No entanto, ele diz não ver problemas em dois serviços iguais.

    “Os doentes são encaminhados de acordo com fluxo de data de nascimento e existem algumas especialidades no SUS que permitem mais de um prestador. A oncologia adulta é exemplo disso, temos o Santa Rita e o Hospital do Câncer”, afirma o secretário municipal de Saúde.

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