Shopping, hotel e teatro são alguns dos esqueletos de Maringá. Car Wash abriga agora moradores de rua

Compartilhar

Maringá vai completar 72 anos, o que não impede a presença, mesmo na área central, de antigas construções abandonadas. Algumas obras foram paralisadas há mais de 20 anos. Entre os esqueletos de Maringá há prédios que iriam abrigar, por exemplo, um hotel e um shopping.

Bem no meio da agitação urbana, no centro da cidade, há dois exemplos emblemáticos de prédios desocupados ou que não tiveram as obras finalizadas. Do antigo Cine Teatro Plaza, ao lado da Praça Raposo Tavares, por exemplo, apenas os banheiros são utilizados pelos usuários do transporte coletivo.

A parte de baixo do prédio, onde ficam os banheiros, foi comprada pela prefeitura em 1990. Porém, cerca de 68% do imóvel, a parte superior e uma área que fica na lateral, pertencem à inciativa privada. Em 2006, o Cine Teatro e os andares superiores do prédio foram interditados pelo Corpo de Bombeiros.

No ano passado, a prefeitura declarou o prédio como de utilidade pública e anunciou que iria pagar até R$ 6 milhões na compra da parte que pertence à iniciativa privada. Porém, a aquisição travou na justiça. Os donos não aceitam o valor proposto pela prefeitura.

A ideia da administração é que o local se torne um “Complexo Plaza”. A ideia é voltar com o cinema no térreo e usar o espaço como sede da Secretaria de Cultura. No segundo andar, seria feita uma escola de cinema e no terceiro, quarto e quinto pavimentos um museu de arte contemporânea. A prefeitura informou que prepara o anteprojeto da obra e que a reforma vai custar até R$ 1,5 milhão.

Outro exemplo dos esqueletos de Maringá é um prédio localizado na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Rua Joubert de Carvalho. O térreo chegou a ser ocupado pela Agência do Trabalhador até 2017, mas os andares superiores nunca foram utilizados. Inicialmente, da família Guinoza, que iniciou a construção, tinha a pretensão de fazer um hotel no imóvel.

Segundo imobiliárias e construtoras ouvidas para a produção dessa reportagem, o imóvel foi vendido a uma empresa que tem sede em São Paulo. A reportagem não conseguiu localizar os donos. Os novos proprietários teriam realizado estudos arquitetônicos para o imóvel, mas não haveria perspectivas a curto prazo de que a obra possa ser retomada.

Três prédios fechados na rotatória da Car Wash

Na Praça Manoel Ribas, mais conhecida como a rotatória da Car Wash, há atualmente três prédios abandonados. Desde que Tennessee Burger e Grill fechou em setembro do ano passado, a antiga sede da Choperia Car Wash permanece fechada.

A varanda do imóvel, que um dia serviu de ponto de encontro e diversão, agora virou dormitório de moradores de rua. Colchões ficam jogados no local durante todo o dia, moradores passaram a usar mais a Praça Manoel Ribas, e às noites, enquanto jovens se divertem em bares próximos, moradores de rua adormecem no local.

Na mesma rotatória, o espaço que abrigava um restaurante japonês também se encontra fechado. Parte da estrutura externa foi arrancada e a aparência do local é ruim.

Poucos sabem, mas a rotatória também abriga um imóvel que teve as obras paralisadas há cerca de 20 anos. É um prédio com paredes cobertas de pastilhas amarelas e vermelhas. A intenção era construir um shopping de bairro no local.

A construção começou em 1993 e quando chegou à fase final travou. Devido a dificuldades financeiras, por causa da crise cambial de 1999, e a um imbróglio entre o dono do terreno e os condôminos, a obra parou naquele ano. O local atualmente é bem cercado. Mas isso não impediu, há alguns anos, a ação de pichadores, que permanece exposta.

O terreno pertencia ao pioneiro Maurício Donaldo Girardello, que chegou na cidade na década de 1950. Formado em engenharia, ele também se elegeu vereador em 1956. A reportagem não conseguiu falar com ele e nem com seus representantes. A construtora que iniciou a obra não existe mais.

O prédio foi construído no modelo de condomínio. Das 100 lojas, cerca de 20% seriam do dono do terreno e as outras seriam distribuídas entre um grupo de condôminos. As obras iam a todo vapor, o projeto previa 100 vagas de garagem e um prédio com subsolo, térreo e mais quatro andares distribuídos em aproximadamente 8 mil m² de construção.

Segundo imobiliárias e construtoras ouvidas para a produção dessa reportagem, várias tentativas foram feitas para retomar as obras. O caso foi parar na justiça em 2007.

O imóvel é avaliado em cerca de R$ 7 milhões e a avaliação de quem atua no setor é que há possibilidades de retomar a obra, que está em fase final, e concluir o empreendimento.

Na Avenida Curitiba com a Rua Luiz Gama, por exemplo, há outra construção parada há vários anos. O imóvel é um dos esqueletos de Maringá mais emblemáticos, pois a obra paralisou logo após os pilares serem erguidos. Há sinais de que a construção tem sido retomada aos poucos, mas nenhum projeto foi apresentado à prefeitura.

Os incisos XXII e XXIII do artigo 5º da Constituição Federal garantem o direito à propriedade e determina que a propriedade deve atender função social.

Pela legislação, o poder público deve interferir em propriedades que não cumprem função social, ou seja, não são utilizados para moradia, atividades econômicas, sociais e culturais. Porém, a Prefeitura de Maringá informou que não sabe quantos imóveis estão abandonados na cidade e, não há previsão de adoção de nenhuma medida frente aos esqueletos.


Compartilhar

Autor

Notícias Relacionadas