Em julho deste ano, um homem com um cartaz escrito à mão em pedaço de caixa de papelão chamava a atenção de quem passava pelos arredores da rodoviária de Maringá. Foi notícia no Maringá Post, pelo gesto inusitado em semáforos. Dizia o cartaz: “Eu preciso de um emprego”, seguido de um número de celular e um nome, Pedro.
No final de semana passado (16/12), devido à proximidade do fim de ano, Pedro Leite Gomes, 31 anos, ex-servidor da Prefeitura de Maringá, entrou em contato com o portal, por dois motivos: desejar feliz Natal e, cravando exceção à tese de que gratidão é o mais efêmero dos sentimentos humanos, agradecer a atenção recebida seis meses atrás.
– Obrigado. Estou muito feliz e me sinto valorizado.
Disse Pedro, com uma voz que carrega sútil sequela do AVC que o levou à exoneração, quando ainda estava em regime probatório na prefeitura. E, sabe se lá se devido ao complexo sentimento que ao mesmo tempo exprime simplicidade e humildade, estendeu os cumprimentos àqueles que lhe deram a oportunidade de trabalho.
A reportagem foi publicada no dia 5 de julho e uma semana depois ele já estava com a carteira assinada, apesar da crise que levou ao desemprego e ao desalento 13 milhões de Pedros, Josés e Marias. O que fez a diferença no caso do rondoniense de Cacoal foi um misto de criatividade, força de vontade e sorte de ter sido visto por Reinaldo Rodrigues.
Foi Reinaldo, gerente-geral da Edeltec – Soluções Tecnológicas, que tomou a iniciativa de lhe oferecer uma oportunidade quando viu o agora funcionário do estoque da empresa no sinal exibindo o tal apelo: “Eu voltava pra casa e vi ele no semáforo, parado, mostrando o cartaz, enquanto outro homem batia nos vidros dos carros e pedia dinheiro”.
“A postura me chamou a atenção, achei que ele merecia uma oportunidade e passei o contato para os Recursos Humanos”, disse o gerente da empresa, que em dez anos saltou de 17 para 134 funcionários e tornou-se uma das maiores distribuidoras de cartuchos de toner compatível e insumos de impressão para recicladores do Brasil.
Coincidentemente, contou Reinaldo nesta segunda-feira (17/12), quando estava montando a Edeltec, em 2008, o dono, Erlon Rigoni, pensou em registrá-la com o nome Farol, justamente por ter a intenção de alguma forma dar uma mão às pessoas que, sem oportunidade de emprego, passam a vender água e doces nos semáforos da cidade.
Pedro disse que, três dias depois de começar a trabalhar na Edeltec foi convidado para um almoço em comemoração ao aniversário de 10 anos da empresa. “Fomos a uma churrascaria perto do Bosque II”, lembra, dizendo que atualmente ganha o dobro do que ganhava como servidor público da secretaria de Meio Ambiente.
Revelou que recebe cerca de R$ 1,5 mil por mês. “Também tenho vale-transporte, vale-refeição e abono”, acrescentou, dizendo que já pagou suas dívidas e sugerindo que “talvez minha história sirva de exemplo para algumas pessoas não desistirem de procurar uma oportunidade e caírem na vida do crime”. Tomara, Pedro, tomara!
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