Os cinco cursos mais concorridos no vestibular de inverno 2018 da UEM (Universidade Estadual de Maringá), que começa neste domingo (22/7) e termina na terça-feira (24), são exatamente os mesmos dos vestibulares de julho de 2017 e 2016: Medicina, Odontologia, Arquitetura e Urbanismo, Direito e Medicina Veterinária.
Por outro lado, os cursos menos concorridos também permanecem sendo os mesmos, os com habilitação em licenciatura: História, Física, Letras, Filosofia e Química. Os cinco cursos que lideram o ranking tiveram 27.535 inscritos nos últimos três anos enquanto que os cinco voltados à formação de professores tiveram apenas 1.516.
No vestibular desde ano, com 15.940 inscritos para 1.492 vagas, de uma forma geral a concorrência está cerca de 11% menor do que os dois últimos, de 2016 e 2017. E, comparando os números do vestibular de agora com os dois últimos, a redução na procura se dá de forma mais acentuada justamente nos de licenciatura.
Enquanto os cinco mais concorridos sofreram uma queda de 10% no número de inscritos de 2016 para 2018, os cinco menos disputados tiveram uma baixa de 32%. A conclusão a que se chega, por uma infinidade de motivos, que vão desde vocação à realidade sócio-econômica caracterizada por uma desigualdade abissal, é que o jovem prefere ser doutor a professor.
Para possibilitar uma visão mais detalhada sobre as preferências nos vestibulares de inverno da UEM, o Maringá Post produziu um ranking dos três últimos anos, com os cinco cursos mais concorridos e com os cinco menos procurados. Os números não foram divididos por cotas e no curso de Direito, foi somado o número de vagas e de inscritos dos períodos matutino e noturno.
Alguns cursos de graduações oscilaram nas posições do ranking, enquanto outras se mantiveram estáveis. Medicina, por exemplo, se manteve no topo do ranking nos três vestibulares da UEM e Veterinária também esteve o tempo todo na quinta colocação. Os deslocamentos se deram no segundo, terceiro e quarto lugares.
Rankings dos cursos mais concorridos na UEM:
- Vestibular de Inverno 2016
1º Medicina: 4.488 inscritos e concorrência de 280,5
2º Arquitetura e Urbanismo: 901 inscritos e concorrência de 56,3
3º Odontologia: 743 inscritos e concorrência de 46,4
4º Direito: 2.495 inscritos e concorrência de 46,4
5º Medicina Veterinária: 578 inscritos e concorrência de 36,1
- Vestibular de Inverno 2017
1º Medicina: 5.533 inscritos e concorrência de 345,8
2º Odontologia: 831 inscritos e concorrência de 51,9
3º Arquitetura e Urbanismo: 685 inscritos e concorrência de 42,8
4º Direito: 2.559 inscritos e concorrência de 39,9
5º Medicina Veterinária: 504 inscritos e concorrência de 34,8
- Vestibular de Inverno 2018
1º Medicina: 4.999 inscritos e concorrência de 312,4
2º Odontologia: 609 inscritos e concorrência de 38,06
3º Direito: 1.767 inscritos e concorrência de 27,6
4º Arquitetura: 437 inscritos e concorrência de 27,3
5º Medicina Veterinária: 406 inscritos e concorrência de 25,3
Concorrência caiu nos cursos de licenciatura
- Vestibular de Inverno 2016
1º História: 272 inscritos e concorrência de 8,5
2º Física: 146 inscritos e concorrência de 6
3º Letras: 87 inscritos e concorrência de 5,4
4º Filosofia: 47 inscritos e concorrência de 2,9
5º Química: 51 inscritos e concorrência de 2,8
- Vestibular de Inverno 2017
1º História: 225 inscritos e concorrência de 7
2º Letras: 79 inscritos e concorrência de 4,9
3º Física: 108 inscritos e concorrência de 4,5
4º Química: 50 inscritos e concorrência de 2,7
5º Filosofia: 42 inscritos e concorrência de 2,6
- Vestibular de Inverno 2018
1º História: 195 inscritos e concorrência de 6
2º Física: 84 inscritos e concorrência de 3,5
3º Letras: 51 inscritos e concorrência de 3,1
4º Química: 43 inscritos e concorrência de 2,3
5º Filosofia: 36 inscritos e concorrência de 2,2
Cursos sofrem desvalorização contínua
A pós-doutora em Educação Escolar, Eliane Maio, é professora há 20 anos nos cursos de licenciatura da UEM e percebe que o número de estudantes vem caindo. Segundo ela, as justificativas dos estudantes para não seguirem na carreira da educação são várias: “Ganha-se pouco” ou “não vamos conseguir aula”.
Eliane afirma que nenhum curso deve ser desvalorizado, mas que em comparação com outras graduações, os cursos de licenciatura sofrem uma “desvalorização contínua”. Para ela, um dos motivos do descrédito de cursos voltados para a educação são os esteriótipos de que determinadas profissões podem trazer sucesso ou dinheiro mais rápido.
“Odonto, por exemplo, é retratado com fotos de pessoas bem vestidas, sempre com um empoderamento que a mídia dá para essas áreas. Os professores são notícia por causa de greves, baixos salários ou que tiveram descontrole em sala de aula. Ainda há por trás esse esteriótipo de que estudantes de cursos concorridos serão profissionais bem sucedidos, mas e as outras profissões? Também podem ser valorizadas.”
De acordo com o Ministério da Educação, apenas 2% dos jovens que saem do ensino médio escolhem ser professores. Segundo Eliane Maio, são necessários mais incentivos na educação, palestras, encontros e mostras de profissões para “fazer com que o jovem se aproxime das licenciaturas por meio de informação”.
Durante as aulas nos cursos de licenciatura, a professora faz um exercício simples e pergunta para os universitários quais as lembranças que eles têm do professor que tiveram no primeiro ano da educação básica:
– A primeira que lembram é o afeto, o carinho. Pouco lembram da parte técnica.
Eliane Maio defende que para os alunos da educação básica tornarem-se futuros profissionais da educação, é necessário incentivo dos próprios professores.
– O que faz o jovem ter a vontade de ser professor seria esse olhar de afeto que os professores tem pela profissão. O jovem termina o ensino médio com 17 anos e está em construção de personalidade e da busca profissional. Ele precisa de modelos positivos que possam trazer um olhar agradável para a licenciatura.
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