Morte da professora Kaká reacende debate sobre segurança pública em Maringá, que registrou dois latrocínios este ano. Caminhada pela paz será realizada neste sábado

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O latrocínio da professora Maria Aparecida Carnelossi Pacífico, de 60 anos, mais conhecida como Kaká, reacendeu o debate sobre a segurança pública em Maringá. Neste sábado (30/6), amigos e familiares de Kaká vão fazer uma caminhada para reivindicar mais segurança e paz. A concentração será às 10 horas, na Praça da Catedral.

“A manifestação é em solidadriedade à família da Kaká. Também representa a indignação da sociedade maringaense com esse assassinato e com a falta de segurança pública. Queremos uma atitude por parte das autoridades. Estamos realmente consternados com essa situação”, afirma Cássia Franzoi, organizadora do evento e amiga pessoal da família.

O grupo também quer justiça. No começo da semana, a seção de Furtos e Roubos da Polícia Civil conseguiu prender dois suspeitos do crime. Mas a confirmação da autoria depende de laudos das digitais e do exame de DNA.

A expectativa é que o resultado seja liberado em até 30 dias. “Os resultados serão fundamentais para elucidar o caso”, disse o delegado adjunto da 9ª Divisão Policial de Maringá e responsável pelo inquérito, Luiz Henrique Vicentini.

Números indicam que há segurança, dizem delegados

“A população fica assustada depois de um crime como esse”, comenta o delegado de Homicídios, Diego de Almeida. Ele observa, no entanto, que “diante das estatísticas, se verifica que Maringá está muito abaixo do que é considerado uma cidade perigosa”.

Em 2018, até nesta sexta-feira (29/6), foram registrados 15 homicídios na cidade, a maioria relacionada ao uso de drogas ou ao tráfico.

E foram registrados dois latrocínios, incluindo o caso da Kaká e o de um farmacêutico que acabou enterrado nos fundos da casa onde morava.

Em 2017, Maringá, com cerca de 400 mil habitantes, foi palco de 29 homicídios. As estatísticas mostram uma queda nas ocorrências. Enquanto em 2014 o número chegou a 54, em 2015 baixou para 35 e, em 2016, para 34.

“Em termos de quantidade de homicídios, Maringá é uma das cidades mais seguras do país. A média nacional é de 26 a cada 100 mil habitantes e nós estamos com uma média de 8 a cada 100 mil habitantes. Uma relação muito abaixo da média nacional”, reforça Almeida.

Segundo o estudo publicado em 2017 pela empresa de consultoria Macroplan, que indicou Maringá como a melhor grande cidade do Brasil para se viver, quando o assunto é segurança, a cidade está na 39ª posição entre os 100 maiores municípios do país.

Apesar de publicado em 2017, os dados utilizados no estudo são de 2015, quando a taxa de homicídios era mais alta do que atualmente. Na época, era investido R$ 37 em segurança pública por habitante. Em Jundiaí (SP), cidade com tamanho semelhante ao de Maringá, o investimento chegava a R$ 96 por morador.

O delegado adjunto e responsável pela seção de Furtos e Roubos, Luiz Henrique Vicentini,  concorda que os latrocínios em Maringá assustam, mas não há motivo para grande preocupação. “O crime é um efeito social. Maringá trabalha com índices que tem se reduzido nos últimos anos. Os dois casos que tivemos esse ano, do farmacêutico e da professora, tiveram grande repercussão, mas são casos isolados”, afirma Vicentini.

Segundo o delegado, alguns dos crimes de homicídios, latrocínios, roubos e furtos estão ligados a moradores de rua. “Temos que tomar cuidado. Não podemos generalizar. Não são todos os moradores de rua que são criminosos. Temos que cuidar para não criar esse estigma. Esse é um problema social, a vida os levou até ali”, ressalva o delegado.

Moradores de rua se envolvem em crimes violentos

O número de moradores de rua tem crescido em Maringá. Pelo menos essa é a percepção do maringaense que anda pela cidade. E, alguns deles, acabam se envolvendo em crimes, como ocorreu no sábado (23/6), com Kaká, no qual os principais suspeitos são moradores de rua e usuários de drogas.

“Não é só questão de ser morador de rua. A questão principal dessa situação é o uso de drogas, principalmente o craque. Isso acaba fomentando os crimes graves com violência, como o ocorrido com a professora Kaká”, considera o delegado Almeida.

Quando os crimes são feitos pelos moradores de rua, é mais difícil chegar a uma conclusão rápida da apuração dos fatos. “Para nós da Polícia Civil, é bem mais complicado quando o autor é um morador de rua, porque eles não têm endereço nem documentos, o que dificulta a solução”, explica Vicentini.

O Centro de Proteção Social Especial de Média complexidade de Maringá (Centro Pop Rua) informou que no mês de maio passaram por lá 311 pessoas em situação de rua em busca de assistência.

O Centro oferece a essas pessoas a possibilidade de sair da rua. Caso o problema principal seja a dependência química, a equipe encaminha para comunidades terapêuticas ou hospital psiquiátrico, dependendo da aceitação e da situação que o indivíduo se encontra.

Caso o motivo seja a vulnerabilidade social, a equipe do Centro, por meio de seus especialistas tentam restabelecer o vínculo familiar. Também tem o Portal da Inclusão, no qual os moradores de rua são encaminhados para o mercado de trabalho.

“Nesses casos, a dificuldade principal em conseguir um emprego é a falta de endereço”, explica o educador social e coordenador do centro Pop de Maringá, Marco Augusto da Silva.

Os moradores de rua de Maringá são majoritariamente homens. Entre as 311 pessoas que passaram pelo Centro, 285 eram do sexo masculino. E dois grupos se destacam em termos de quantidade, aqueles entre 18 e 39 anos, e os que estão na faixa dos 40 a 59 anos.

“A maioria deles é de Maringá, mas tem também aqueles que vêm para cidade para tentar um emprego e uma vida melhor. Nesses casos, estabelecemos contato com a família e os encaminhamos de volta à cidade de origem”, conta Silva.

“Os moradores de rua acabam nessa situação por diversos motivos. A vida os leva até ali. Muitos, inclusive, têm ensino superior”, completa o coordenador, sobre o perfil das pessoas em condição de rua em Maringá.


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