A eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) teve como vencedora a Chapa 2 – Construção Coletiva, com 1.617 votos, enquanto a outra participante, Chapa 1 – Acelera, teve 1.409 votos. A posse da nova gestão acontece nesta segunda-feira (13), às 18h.
O DCE é a entidade máxima de representação dos estudantes, de todos os alunos de graduação e pós-graduação da instituição, perante todas as instâncias que envolvam a administração e política da UEM, em todos os campi. “O DCE é um sindicato e deve estar voltado aos temas de interesse da classe dos estudantes”, de acordo com Reginaldo Dias, professor do Departamento de História.
O voto não é obrigatório, mas todos os alunos de graduação, pós-graduação (inclusive mestrado e doutorado) e Unati (Universidade Aberta à Terceira Idade) têm direito a voto. Haviam urnas abertas entre 7h30 e 22h, sendo que foram 31 abertas em todos os campi, no Hospital Universitário e também a urna em trânsito. Mesmo assim, a participação foi baixa.
Apesar de melhora, representatividade é baixa
Na eleição recém-encerrada foram 3.026 votos válidos e outros 18 brancos ou nulos em toda a UEM, totalizando 3.044 votantes. A participação representa um aumento significativo em relação aos pleitos anteriores: em 2016, foram 2.002; em 2015, 1.025 votos; e em 2014, 1.928 votos.
Apesar disso, o total de votos em 2017 representa apenas 14,18% de participação dos 21.461 alunos, dentre 17.006 de graduação, 3.515 de pós-graduação e 940 de Unati, considerando o campus sede em Maringá e os outros seis campi regionais (Cianorte, Cidade Gaúcha, Ivaiporã, Goioerê, Umuarama, Diamante do Norte).
Membro da Comissão Eleitoral, Cassiano Goes, estudante de Ciências Econômicas, declarou que “o maior diferencial da eleição foi o voto em trânsito. Foi permitido que alunos que tinham aula em mais de um bloco pudessem votar e também no RU [Restaurante Universitário], no período de almoço e janta eram aceitos votos de todos os universitários. Foram quase 400 votos dessa categoria”.
No ano de 1981, fundação do DCE, a votação foi de cerca de 60% dos alunos; em 1983, 43% e em 1985, 40%. Os registros históricos, até 1987, ficam na margem de 40% a 50% de votação dos estudantes, que é uma média alta considerando o voto voluntário.
O historiador Reginaldo Dias explica que a condição política na década de 1980 era diferente e, por isso, as entidades de representação alinhavam interesses coletivos de forma mais clara e participativa. Hoje não há um “inimigo comum como era no período de ditadura, além de passarmos por um momento de ‘desilusão política’ no país”, declara.
Candidato a coordenador da Chapa Acelera, o estudante de Odontologia Rafael Bornia diz que uma das possibilidades do problema é que “os acadêmicos estão inteiramente focados na graduação e não possuem interesse em questões políticas da universidade”.
Giovanna Morelli, coordenadora da Chapa Construção Coletiva e estudante de Psicologia, conta que “muitos alunos não sabem o que é o DCE, e quando conhecem muitas vezes não entendem e, por isso, não faz sentido para eles participar do processo eleitoral”.
Contrastes políticos entre alunos de Humanas e Exatas
O escrutínio aconteceu entre 0h45 e 7h52 de quinta-feira (9), todas as urnas foram abertas e contabilizadas, sem nenhum pedido de impugnação (prática comum em anos anteriores).
Segundo informações da Comissão Eleitoral, a Chapa 1 – Acelera chegou a abrir vantagem de 250 votos durante a contagem das urnas dos cursos de Engenharia. Contudo, quando abertas as urnas dos cursos de Ciências Humanas e Psicologia a situação se inverteu para vantagem de 200 votos para a Chapa 2 – Construção Coletiva, que teve 199 votos a favor contra 20 em uma das urnas.
Situação é semelhante nos campi regionais: em Umuarama, a Chapa Acelera, teve 76% dos votos, enquanto no campus Ivaiporã a Chapa 2 teve mais de 85% dos votos válidos.
Tais números expõem tendências políticas de oposição em relação a representatividade de qualquer uma das chapas que fosse vencedora, mostrando um contraste de perfis e associação entre cursos e os movimentos políticos da universidade, por mais que entre os integrantes de cada chapa estivessem alunos de cursos onde a votação foi muito contrária.
“Havia uma lacuna muito grande deixada por gestões anteriores, principalmente nos cursos de Engenharia e Saúde, que não eram incluídos de forma mais ativa nos debates. A Acelera, na eleição anterior, fez um trabalho de aproximação e isso é um ponto positivo inegável”, afirma Giovanna Morelli, coordenadora eleita pela Chapa Construção Coletiva.
Rafael Bornia complementa: “A abordagem das chapas foram distintas e, diante disso, a identificação dos acadêmicos direcionou os votos. Alguns cursos viram na Acelera uma oportunidade de apresentar suas demandas”.
“O voto é mais uma relação de confiança do que uma adesão ideológica”, declara o professor Reginaldo Dias.
Polêmicas recentes travadas na universidade
Em anos recentes o DCE tem sido palco de polêmicas dentro da Universidade, seja nos processos eleitorais ou em outras ações isoladas.
A eleição de 2013 teve denúncias de “boca de urna’ e impugnação de várias urnas por parte da Comissão, além de reclamações sobre participação externa em tumultos. A chapa vencedora teve 18 votos a mais, de um total de 2.764.
Ainda em 2013, estudantes foram agredidos por vigilantes e o DCE pediu a abertura de processo administrativo. A motivação alegada pela PM seriam os “saraus” e denúncias de consumo de álcool e drogas dentro da instituição. Mesmo com mudança na administração da reitoria e no DCE, a situação não foi esclarecida.
Em março deste ano, um perfil no jornal O Diário gerou grande repercussão. Então presidente do DCE, da Gestão Acelera, a estudante de direito Heloísa Nascimento deu declarações contra casamento gay, aborto, sexo antes do casamento e legalização da maconha.
Segundo Heloísa, ela teria sofrido “perseguições psicológicas por estudar em um ambiente de esquerda”. O vereador Homero Marchese foi um dos defensores e elogiou a coragem dela por “assumir posições de direita no ambiente universitário altamente esquerdista”. Heloísa desligou-se da UEM para concluir a graduação numa universidade privada.
Grupo que perdeu diz que continuará participação
Segundo Bornia, a gestão anterior foi focada em resolver pendências de gestões anteriores, como a estrutura física do DCE e o afastamento de Centros Acadêmicos, e principalmente em regularizar a verba destinada à entidade.
Durante a campanha, a ênfase foi de mostrar o que havia sido feito e, a partir disso, propor novas possibilidades dentro dos mesmos moldes. “Prezamos por uma campanha com espaço ao diálogo e livre de ataques pessoais. Pensamos diferente [da outra chapa], mas isso não significa antipatia gratuita”, declara.
“Acelera tornou-se um movimento com grande adesão, como prova a quantidade de novos membros em 2017. Mesmo que não exerçamos a representação à frente do DCE, continuaremos ativos na promoção de ações dentro e fora da UEM e, é claro, fiscalizaremos a atual gestão”, afirma.
Promessas de ação da nova diretoria
Giovanna Morelli explica que, apesar dos pontos positivos, a forma rasa que algumas ações foram realizadas foi uma motivação para estruturar a oposição.
“Foi um DCE omisso, porque não estavam presentes em muitas ocasiões ou não se posicionaram. O discurso não era ação e não era ampliado. O DCE deve ser ativo e combativo, um órgão político além de representativo. Na nossa visão, não cumpriram nem um papel nem outro”, declara.
Ainda assim, garante que a relação é boa e respeitosa, apesar das diferenças no posicionamento político e ideológico. “Vamos manter para além da campanha essa relação”, afirma.
“Os objetivos se pautam em organização do movimento estudantil, permanência estudantil e educação gratuita e de qualidade. Pretendemos realizar com um movimento e diálogo, em conjunto, que esteja presente aqui e nos campi regionais e articule com as bases. A saúde, moradia, transporte e a segurança são grandes preocupações. A ameaça de políticas como o Meta 4 pedem ações que direcionem a comunidade universitária”, esclarece Giovanna.
O período de gestão da Chapa Construção Coletiva no DCE da UEM é de um ano, segundo o estatuto da entidade.
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