A Microsoft é uma empresa divertida de falar sobre, porque ela está para a computação como o governo está para a sociedade. – Todo mundo odeia a Microsoft. Especialmente pessoas que dependem dos serviços dela. Mas ela está tão profundamente impregnada no tecido da realidade tecnológica, que no fim das contas todo mundo acaba tendo que lidar com as artes que ela apronta.
E bem, qual a arte mais nova? Outubro de 2025. Essa é a data oficial marcada para a “aposentadoria” do sistema Windows 10. Agora. O fim do suporte de um SO antigo é algo inevitável, especialmente para um sistema corporativo como o Windows. Distribuições de Linux, mantidas como são por hobbyistas e fundações sem-fins lucrativos, podem se arrastar por décadas além do tempo em que seriam relevantes, enquanto ainda há 1(um) nerd interessado no trabalho ou 1(uma) entidade doando para a fundação. Mas no caso do Windows… É. É inevitável. Manter um SO para uma empresa custa dinheiro, e manter um sistema de dez anos atrás seria loucura.
Se você usa um computador com Windows 10, provavelmente tem recebido notificações pedindo para que você atualize para o Windows 11 – E “generosamente”, a atualização é gratuita para quem tem Windows original.
O que acontece é que diferente dos fins-de-vida de outros SOs da própria Microsoft, o fim-de-vida do Windows 10 apresenta um problema único, devido à uma escolha da empresa.
O Windows 11 se recusa a instalar em computadores que não possuem uma tecnologia chamada TPM 2.0 – Um circuito dedicado a criptografia que vem integrado ao processador central (CPU) da máquina. – Note que eu uso a expressão “se recusa”. Com algumas modificações básicas no instalador do SO, o Windows 11 de fato instala e executa em máquinas que não têm tal tecnologia. E ele não é, por si, muito mais pesado que seu predecessor, ou seja, rodaria em máquinas mais antigas mais ou menos com a mesma velocidade que o 10.
TPM 2.0 é uma tecnologia que é integrada em todos os computadores montados desde Outubro de 2014, com alguns chips feitos no ano anterior já tendo a tecnologia opcionalmente. Dados de 2023 (ou seja, coisas podem ter mudado um pouco desde então, mas provavelmente não muito) indicam que só 18,1% dos computadores do mundo têm tal tecnologia. A razão dada pela Microsoft, como quase sempre, é “por questões de segurança, o módulo TPM 2.0 é muito mais confiável que seu precursor” (tal precursor, TPM 1.2, tendo sido inventado em 2009, e integrado em todos os chips feitos a partir de 2011)
Ou seja – Milhões, talvez bilhões de máquinas, estão para ficar de fora da atualização para o Windows 11. E isso apresenta um enorme risco de segurança. – A maior proteção que Sistemas Operacionais têm contra atores maliciosos (hackers, spyware, etc.) é ser um alvo móvel: Constantemente atualizados, o que remove vulnerabilidades (e usualmente cria outras, mas até tais malandros acharem estas vulnerabilidades, a esperança é que elas já tenham mudado de novo). Computadores presos no Windows 10 não serão mais atualizados, e eventualmente, toda e qualquer vulnerabilidade estará exposta ao mundo.
E bem, sim, eu acabei de dizer que remover tal requisito do Windows 11 é uma “modificação básica” – Mas para o usuário comum, essa “modificação básica” já está além do conhecimento que ele possui. E tampouco tal usuário vai querer reaprender a usar um computador para migrar para um sistema Linux. O que muito provavelmente irá acontecer é que tal usuário vai ficar no sistema antigo mesmo, exposto a todo tipo de maldades.
A pergunta que fica no ar é por que a Microsoft fez isso, e infelizmente não há uma resposta direta (a não ser que você queira acreditar inteiramente no que o departamento de Relações Públicas da empresa disse, que é uma questão de segurança, mas eu acho que é contraindicado acreditar por completo no que um departamento de RP diz) – Minha teoria conspiratória pessoal é que a Microsoft está na esperança de que isso vai vender alguns dos notebooks “Copilot” que ela tem desenvolvido com empresas parceiras, afinal, pelo menos alguns usuários vão querer se atualizar. Mas quando um aparelho desses está saindo por quase dez mil pilas, e dá pra fugir da obsolescência programada por bem menos (… comprando hardware com o qual a MS não teve nada a ver e portanto não ganha nada), até essa minha teoria perde suas pernas.
Escrito por Vitor Germano para o Maringá Post
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