Quando os primeiros filmes foram feitos, cinema era considerado uma nova tecnologia primeiro, e um produto comercial segundo, mas definitivamente não uma forma de arte: Já haviam pessoas interessadas na nova mídia como tal, mas levaram uns bons 40 anos para a “sétima arte” ser reconhecida pela sociedade. – Esse tende a ser o caso com novas formas de arte em novas mídias. E no caso do cinema, o resultado é que muito da história do cinema foi perdida no tempo: Há centenas de filmes hoje considerados influentes e revolucionários, dos quais só sobreviveram algumas cenas, e alguns que só sabemos que existem devido a material escrito sobre – Preservação não era uma prioridade para os estúdios da época, afinal, cinema “não era arte”.
A Web chega neste ano em seu 30º aniversário – A internet existia fazia alguns anos, mas 1994 foi o ano em que meia dúzia de redes díspares, fossem estas comerciais, militares, universitárias, ou pessoais, foram pela primeira vez interligadas com um protocolo compartilhado, abrindo as portas para esse novo meio de comunicação sair das mãos de entusiastas e acadêmicos para conquistar o mundo. – E assim como o cinema, a web não é considerada uma forma de arte, não culturalmente. Há websites que hospedam obras de arte, e até websites que se propõem a serem, em sua totalidade, obras de arte… Mas culturalmente, a web não é reconhecida como arte – E portanto, tal como o cinema antes dela, preservação não é uma prioridade para aqueles que operam a web.
E ainda assim, há aqueles que, extra-oficialmente, buscam preservar a história da web.
O Internet Archive é uma organização sem fins lucrativos que começou com o propósito de – Bem, arquivar a internet. – Salvando snapshots de sites periodicamente, permitindo um histórico, ainda que parcial, dos locais da rede internacional. Mas em seus anos de existência, cresceu para ser algo muito além disso. Hoje, é uma biblioteca digital preservando todo tipo de mídia cujos criadores originais não se incomodam em preservar: Programas de computador “obsoletos”, games “esquecidos”, gravações de intervalos comerciais televisivos e canais de notícias de décadas atrás, e tantas outras coisas que “ninguém mais” quer salvar.
E contar para mais pessoas sobre o Internet Archive é sempre bom, até porque eles andam precisando de ajuda para financiar as operações. Mas a novidade que eu queria compartilhar hoje é algo que pega o que o Archive faz há muito tempo, e vai muito além. O projeto ProtoWeb tem como objetivo não só dar acesso aos sites da web de outrora, mas simular toda a experiência de navegar essa web antiga.
O projeto é curado manualmente para garantir a qualidade dos snapshots, para que eles não sejam cheios de imagens faltantes e links quebrados, e inclusive simula a lentidão de uma conexão de internet dos anos 90/2000, sendo capaz de simular velocidades de 14kbps até 1Mbps.
Outro projeto da mesma equipe é o WarpStream – Que recria o YouTube de 2004, com vídeos de baixa definição, e inclusive resgatando os vídeos que eram populares lá na época.
Em meio a tanta gente querendo resgatar os sites perdidos dos anos 90, também tem aqueles que querem trazer a experiência dos sites dos anos 90 para a década atual. O Neocities permite a criação e hospedagem gratuita de sites simples (tal como o Geocities dos anos 90/2000), e também integra algumas funções sociais modernas para permitir a comunicação entre os webmasters dos mini-sites hospedados.
A indústria tecnológica é obcecada com tecnologia de ponta – As invenções mais modernas rodando nos computadores mais possantes. – Mas a ponta é um lugar fino, e despencar dela é fácil. E está claro que a vontade de trazer de volta certas coisas perdidas na busca por mais modernidade não é algo que só eu sinto.
Escrito por Vitor Germano para o Maringá Post
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