Uns 800 kilômetros a oeste de Beijing, no meio do deserto de Gobi, um projeto de energia solar está sob construção – E até para os padrões do governo chinês, este projeto é ambicioso em escala. O plano para os próximos anos é instalar cerca de 100 gigawatts de painéis solares, em uma extensão de terra de 400 kilômetros de comprimento e 5 kilômetros de largura.
O objetivo não é só gerar quantidades enormes de energia limpa. Mas também a restauração de uma terra de ninguém, que pode trazer a vegetação e talvez até a criação de gado a um território maior que o Distrito Federal do Brasil.
A China já é o líder mundial em produção de energia solar, atrás dela está, talvez previsivelmente, os Estados Unidos, seguidos pela Índia. O Brasil também encontra-se neste top-10, em 7º lugar.
Analistas temem que a sobrecapacidade em produção energética do gigante asiático pode vir a ser desastrosa, mas alguns especialistas apontam que, com os desafios da mudança climática, o termo correto não devia ser “sobrecapacidade”, mas “subutilização”.
Mas como citado, os painéis solares não são só uma fonte de energia, mas de combate à desertificação. – Desertos cobrem mais de 1/4 do território chinês, e desde os anos 50, o país busca limitar a intensidade e impacto das tempestades de areia, e de impedir a expansão do deserto para cima de terras agrícolas produtivas ou centros urbanos. Com a desertificação tendo apenas piorado globalmente devido à mudança climática, o investimento nesse projeto também cresceu.
As primeiras operações chinesas no deserto envolveram medidas simples: A construção de muros para bloquear a areia, e o plantio de árvores para proteger as construções. “O cuidado era para minimizar o dano à recologia local, enquanto protegia-se as bases do dano causado pelas tempestades” diz Wang Weiquan, secretário geral do Comitê de Energia e Meio-Ambiente da Sociedade de Pesquisa Energética da China, uma ONG de Beijing. “O que acabou-se descobrindo é que o trabalho, cujo objetivo era mitigar as tempestades, também levou ao crescimento de grama no deserto.”
Uma pesquisa de 2022 mostrou que, de fato, projetos de geração de energia solar no deserto causam “tendência significativa ao esverdeamento”: 1/3 da terra por baixo dos painéis solares nos desertos chineses viram crescimento da vegetação. O que um outro estudo revelou é que os painéis não apenas criam sombra – Diminuindo temperaturas e permitindo o crescimento da vegetação, mas também reduzem a velocidade do vento, impedindo que a areia seja levantada.
Enquanto o clima aqui em Maringá está nos 31 graus com umidade de 17% no que deveria ser “inverno”, eu fico aqui pensando se daqui 30 anos não vamos ser nós do Brasil correndo pra erguer painéis solares pra tentar impedir o avanço de um processo de desertificação pra cima dos nossos centros urbanos e terras agrícolas. Até lá, é pelo menos interessante ver que alguns desenvolvimentos tecnológicos podem, de fato, fazer bem para a humanidade, ajudando não só a gerar energia limpa e barata, mas a recuperar a natureza de uma região.
Escrito por Vitor Germano para o Maringá Post
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