Escribas Egípcios tinham lesões por esforço repetitivo assim como nós

Pesquisas comprovam a presença de degradação nos ossos da coluna, ombros, joelhos, cinturas, e calcanhares dos escribas.

  • Enquanto eu escrevo este texto para vocês hoje, estou lidando com um leve torcicolo, produto de passar algumas horas a mais jogando em um aparelho de video-game portátil – E eu definitivamente não sou o único lidando com algo do tipo. Dores nas articulações dos pulsos para quem passa horas trabalhando em um computador, pescoços e colunas lesionados por uso de celular e outros aparelhos, são uma marca do nosso atual século tecnológico…

    … E de acordo com a ciência, de toda a vida humana, até quando a tecnologia mais moderna disponível eram papiros.

    Uma pesquisa publicada na revista Scientific Reports revela que os escribas que viviam e trabalhavam no Egito no terceiro milênio antes de Cristo também lidavam com suas próprias DORTs.

    O acrópole de Abusir é a tumba da elite Egípcia da quinta dinastia, após a quarta dinastia ter sobrelotado Gizé. Pesquisas no local são conduzidas desde a década de 60, com os primeiros esqueletos humanos tendo sido encontrados em 76.

    Em 2009, cientistas começaram a investigar os esqueletos para sinais de alterações de saúde. Os resultados, publicados recentemente, mostram que em comparação aos outros esqueletos (todos de homens, falecidos em idades similares, e parte da elite que não realizava trabalhos físicos), os escribas em particular mostravam sinais de feridas degenerativas. Entre elas a junta que conecta o pescoço ao crânio, a região onde o húmero encontra o ombro, o metacarpo do dedão direito, e por todas as vértebras da coluna. A degradação no esqueleto é um sinal de esforços repetitivos.

    A osteoartrite na mandíbula, por exemplo, é supostamente causada pelos ramos que os escribas usavam como pincéis: Mordendo a ponta do ramo, os escribas faziam ‘cerdas’. Quando as cerdas estavam gastas ou encardidas, cortava-se o ramo e repetia-se o processo de morder a ponta.

    A maior parte dos escribas escreveria com a mão direita, usando a esquerda para enrolar o papiro. Embora não havia diferença significativa nos punhos entre os escribas e os outros esqueletos, a degradação nos ossos do dedão seria indicativa de posições e movimentos repetitivos dos dedos.

    Quanto às lesões no pescoço, os autores dizem que estas devem ser produto da posição em que os escribas trabalhavam: Sentados com as pernas cruzadas, apoiando o papiro sobre a perna, e inclinando o pescoço para baixo para escrever.

    Em colunas anteriores eu citei as mudanças provenientes da IA, como elas assustam não apenas a mim, mas outras pessoas. – Mas este estudo sobre a história da idade antiga me lembra de um dos meus fatos favoritos: Apesar de tudo o que mudou nos milhares de anos que a humanidade existiu, no fim das contas, pessoas continuam sendo pessoas, com as necessidades, desejos, e problemas que pessoas têm. Os mesmos problemas reaparecem de novo e de novo ao longo dos milênios, com uma roupa diferente, mas nós ainda estamos aqui.

    por Vitor Germano para o Maringá Post
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