Vacinação: sua carteira de vacinação está em dia?

Queda nas taxas de imunização ameaça saúde pública e sobrecarrega economia nacional, colocando em risco o controle de doenças.

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    Por Elaine Marques, estagiária de Jornalismo.

    Surtos de doenças preveníveis com a vacinação sobrecarregam o sistema de saúde. Pessoas doentes reduzem produtividade, elevam gastos públicos e aprofundam desigualdades sociais.

    A vacinação é um tema relevante, motivo pelo qual a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em conjunto com países e territórios da Região das Américas e seus parceiros, desenvolve programas para promover a imunização por meio da divulgação de informações.

    O Brasil integra o grupo de países envolvidos nessas iniciativas e realiza anualmente a Semana Mundial da Imunização. Em 2025, o evento ocorreu de 24 a 30 de abril, com o tema “A imunização para todos é humanamente possível”. O tema foi escolhido em razão da redução nas taxas de vacinação observada nos últimos anos.

    O país já alcançou coberturas vacinais superiores às metas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, os índices estão abaixo do esperado: até junho de 2025, apenas 46,04% do público-alvo havia sido vacinado contra influenza, enquanto a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde é de 90%. Embora a OMS não estipule metas exclusivas para o Brasil, apoia estratégias voltadas à cobertura vacinal de 90% para grupos prioritários, visando preservar a saúde pública e fortalecer a sociedade.

    Em Maringá, os índices também estão insatisfatórios. Por conta deste cenário, a reportagem conversou com a médica infectologista Ana Cristina Gurgel sobre o impacto da vacinação na vida das pessoas e na economia.

    “A vacina é muito mais que um direito, muito mais que uma medida preventiva de saúde. É uma ferramenta importantíssima e fundamental para a erradicação e diminuição de doenças preveníveis”, afirmou. Segundo ela, a imunização reduz impactos econômicos, contribui para que as pessoas fiquem menos doentes e aumenta a produtividade, tornando o sistema mais sustentável. “É impossível imaginar um sistema de saúde sem a vacinação”, disse.

    Na avaliação da especialista, entre os mitos mais comuns está a afirmação de que “depois da vacina sempre pego gripe”. Ela explicou que a imunidade contra a influenza leva cerca de 15 dias para se formar. Nesse período, se a pessoa tiver contato com o vírus, poderá desenvolver um quadro respiratório. “Não é a vacina que provoca a gripe, e sim o fato de o organismo ainda não ter formado os anticorpos”, disse.

    Outro mito, segundo a médica, é o de que vacinas causam autismo. “Não existem estudos científicos que comprovem essa teoria. É apenas mais um mito”, afirmou.

    Sobre a queda nos índices, a médica destacou que a redução é registrada no Brasil e no mundo, o que acende um alerta, já que doenças erradicadas podem voltar. Ela também defendeu a necessidade de ampliar a discussão sobre o tema e combater fake news, que prejudicam campanhas e reduzem adesão.

    A baixa adesão preocupa. Em Maringá, a meta de imunização contra a influenza é superior a 90%, mas a cobertura está entre 30% e 35%. “Se a vacinação não alcançar a meta, haverá aumento de doenças, internações e mortes, especialmente entre idosos e crianças”, alertou.

    Ana Cristina ressaltou que doenças teoricamente erradicadas, como varíola, sarampo e poliomielite, podem voltar se o calendário vacinal não for seguido, principalmente o infantil.

    Sobre efeitos colaterais, ela afirmou que, na vacina contra gripe, eles costumam ser leves, como febre baixa e dor no local da aplicação, que melhoram espontaneamente ou com medidas simples, como antitérmicos e compressas mornas.

    A relação custo-benefício, segundo a médica, é amplamente favorável à vacinação. “O custo da doença, seus sintomas e o risco de óbito são infinitamente maiores que o custo da vacina”, disse.

    A especialista também falou sobre a vacina contra herpes zoster, recente no mercado, com custo aproximado de R$ 800 e duas doses necessárias. A imunização ainda não está disponível no SUS. Para ela, a inclusão no calendário vacinal é fundamental, assim como a da Pneumo 20, visando garantir o acesso e reduzir custos em longo prazo.

    Sobre os tipos de vacinas, explicou que existem desde as de microrganismos atenuados ou inativados até as mais modernas, de mRNA, todas seguras e com base científica. A única restrição para pessoas alérgicas ao ovo é a vacina contra febre amarela. Pacientes com imunidade baixa devem evitar vacinas com vírus atenuados, com avaliação médica individual.

    A médica também deixou um alerta: “Vacine-se!”. Ela lembrou do caso de um paciente que recusou a vacina contra a Covid-19, contraiu a doença e, no agravamento, pediu para ser vacinado. “Infelizmente, o tempo não foi favorável. É preciso cerca de duas semanas para que a vacina faça efeito”, disse.

    A partir de 1º de julho, o Ministério da Saúde passou a disponibilizar a vacina meningocócica ACWY no SUS para crianças de 12 meses. A mudança substitui o reforço da meningocócica C por uma dose que protege contra os sorogrupos A, C, W e Y.

    O Ministério também lançou a página Saúde com Ciência (acesse aqui), para informar e combater desinformação sobre saúde e vacinas.

    A vacinação é gratuita nas salas das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o país. Basta levar o cartão de vacinação.

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