Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais incidente entre homens, representando quase 30% dos casos no sexo masculino. Devastadora, a doença representa uma ameaça significativa à saúde masculina, especialmente no último terço de sua vida útil, geralmente a partir dos 65 anos de idade.
O Brasil pode ter mais de 2 milhões de novos casos de câncer – todos os tipos – no próximo triênio (2023-2025), segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer/Ministério da Saúde). Entre as doenças crônicas, o câncer é o que mais apresenta aumento de casos no país e no mundo, figurando como a segunda principal causa de morte, depois das doenças cardiovasculares.
O tipo de câncer mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31% do total), seguido por tumores malignos de mama (10%), próstata (10%), cólon e reto (6,5%) e pulmão (4,6%). Em homens, estima-se 72 mil novos casos de câncer de próstata por ano, também no período de 2023 a 2025.
Diversos fatores de risco são apontados como causas prováveis de desenvolvimento de um câncer: má alimentação, consumo excessivo de gorduras, carne vermelha, sódio, açúcar, bebidas alcóolicas, tabagismo, sedentarismo, envelhecimento e dietas desequilibradas, principalmente quando carentes em frutas, legumes, verduras, cereais e grãos.
O combate ao câncer de próstata requer conscientização e incentivo para a realização de exames preventivos. Na sua fase inicial, o Câncer de Próstata normalmente tem desenvolvimento lento e assintomático. Os exames periódicos devem ser realizados a partir dos 50 anos.
Dependendo do histórico familiar – quem tem/teve pai, avô, tios ou irmãos diagnosticados com a doença –, recomenda-se uma avaliação a partir dos 45 anos, uma vez que a probabilidade aumenta ao menos duas vezes. Quando detectado precocemente, o tratamento do Câncer de Próstata é mais eficaz, com grandes chances de cura e melhor qualidade de vida após o tratamento.
Tratamentos
O câncer de próstata pode ser dividido em três grupos: Baixo Risco, Risco Intermediário e Alto Risco. Os tumores de baixo risco podem eventualmente ser acompanhados periodicamente, embora exista tratamento. Tumores de risco intermediário e alto devem ser avaliados criteriosamente por urologistas, uro-oncologistas e/ou oncologistas. A decisão do tipo de tratamento deve ser compartilhada (e consentida) com o paciente e seus familiares.
Muitas vezes, quando o diagnóstico aponta para um câncer de próstata intermediário ou de alto risco as alterativas de tratamento são a cirurgia, a radioterapia ou técnicas minimamente invasivas como o HIFU – sigla em inglês para High Intensity Focused Ultrassound; Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade, em português. Normalmente, o tratamento da doença avançada (alto risco) também pode requerer bloqueio da testosterona ou bloqueio hormonal, de forma complementar.
O tratamento com HIFU consiste em aplicar energia acústica (ultrassônica) em um ponto específico, gerando calor e energia ultrassônica direta. Quando a energia do HIFU atinge o local determinado dentro do corpo, a temperatura deste ponto é elevada para cerca de 98ºC em questão de segundos, o que resulta na destruição do tecido – é possível tratar apenas a área do tumor ou toda a glândula prostática. Ambas as formas evitam que estruturas importantes localizadas ao redor do órgão sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas.
A amplitude de tratamento com HIFU, dentro de uma próstata, depende de vários fatores e deve ser extensamente discutida com o paciente. De acordo com o plano de tratamento pode existir vantagens especiais para um específico paciente.
A radioterapia e a cirurgia, por outro lado, são opções clássicas de tratamentos curativos para o câncer de próstata. No entanto, a cirurgia de alto índice de mortalidade após 5 anos.
Menos efeitos colaterais
Minimamente invasivo, sem deixar cicatrizes, o HIFU tem menor tempo de internação (de 12h a 24h) e a duração do procedimento é de 2 a 3 horas, em média, sendo realizado em ambiente hospitalar.
Com baixo risco de infecção, a técnica tem se mostrado uma das melhores alternativas no tratamento do câncer de próstata, sobretudo nos casos de câncer de próstata diagnosticados como localizado, seja de baixo, médio e até mesmo alto risco. Também pode ser aplicado em casos de câncer recidivado, ou seja, quando a doença retorna, por exemplo, após radioterapia.
“O HIFU atinge apenas os tecidos dentro da próstata. Entre as vantagens está a redução dos efeitos colaterais. Entre 0% e 2% dos pacientes têm incontinência urinária. Para disfunção erétil, quando tratada uma área da próstata, apenas 7% têm disfunção, e quando o tratamento é completo, apenas 25% dos pacientes são afetados por essa condição. Esses índices são definitivamente bem menores, se comparados aos outros tratamentos clássicos”, diz o urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack, especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA).
“A terapia focal para o câncer da próstata localizado, primário ou recidivado, recebe progressivamente mais atenção pela comunidade científica. O HIFU é o representante mais importante desta classe de terapias e, quando aplicado, proporciona bons resultados oncológicos, baixos efeitos colaterais, menores que os tratamentos clássicos e proporciona melhor qualidade de vida aos pacientes”, ressalta Bendhack.
Estudos
A aplicação clínica de HIFU foi iniciada na Universidade de Indiana em 1953 e tem sido utilizada desde 1993 para tratar doenças prostáticas (Gardner e Koch, 2005). A partir 1992, em Düsseldorf, na Alemanha, o Departamento de Urologia da Universidade Heinrich Heine, coordenado pelo Prof. Dr. Rolf Ackermann, empregou o HIFU para tratamento de doenças da próstata e publicou seus resultados em dois jornais internacionais, em 1995.
Um dos estudos mais importantes sobre HIFU foi publicado por Thüroff e Chaussy (2013), que avaliaram a evolução e os resultados para o câncer da próstata localizado em 15 anos. Os autores trataram pacientes com PSA total máximo de 50mg/ml e sem serem submetidos a outros tratamentos. Dos 704 pacientes avaliados, 78,5% apresentavam risco intermediário ou alto.
A sobrevida câncer específica foi de 99% (em 1,3 a 14 anos de seguimento). Após tratamento, foi constatado um alto índice de sobrevida e uma taxa excepcionalmente alta de ausência de necessidade de tratamentos de salvamento para pacientes de baixo risco.
Os avanços do HIFU na prática médica, assim como o emprego da ressecção transuretral permitiram, segundo os mesmos autores, o tratamento completo de próstatas de qualquer tamanho sem a indução de metástases.
No Brasil, a técnica está disponível há mais de 10 anos, com excelentes resultados. Atualmente, o HIFU é cada vez mais aplicado em diversos países europeus, asiáticos e na América do Norte, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá.
Vídeo: HIFU para o tratamento do Câncer de Próstata
Foto: Freepik
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