O Brasil está vivendo um momento que pode ser histórico, relativo à forma como se relaciona com os jogos de fortuna e azar. Desde a proibição dos cassinos e jogos, em 1946, que o tema não trazia tanta polêmica. Nem a liberação temporária dos bingos, no final da década de 1990, trouxe o mesmo grau de intensidade ao debate como agora. No mais, a liberação das apostas esportivas, que chegou em dezembro passado, já representa ela mesma um passo decisivo.
A internet e uma certa mudança de mentalidades e valores sociais está contribuindo para isso. Apesar de o jogo ser proibido, qualquer cidadão com um computador ou celular com internet pode acessar o br.netbet.com e outros sites de plataformas de cassino online, funcionando com base no exterior. Esses não são sites desconhecidos ou obscuros: são grandes marcas internacionais, presentes em dezenas de países e submetidos a rigorosos controlos técnicos e fiscais. Isso porque o mercado dos jogos online é uma realidade a nível mundial. O Brasil está a compreender isso e começa a fazer menos sentido este isolamento em relação a uma realidade que outros países parecem estar gerenciando bem. Em 2018, o Paraná Pesquisas divulgava que já existiam 45% de opiniões favoráveis à liberação dos cassinos no Brasil, e 45% contra (os restantes 10% eram sem opinião).
Veja alguns dos principais argumentos para cada lado dessa questão.
Contra
O vício e os riscos de lavagem de dinheiro são, no essencial, os grandes argumentos de quem é contra a liberação dos jogos de azar. O próprio presidente Jair Bolsonaro falou, em um encontro com empresários do Rio de Janeiro durante a campanha eleitoral, que estaria disposto a trabalhar num jeito de liberar o jogo, mas era essencial impedir que um sujeito saísse para comprar pão e estoirasse seu dinheiro nos caça-níqueis.
É lógico que os setores mais conservadores e religiosos estão também contra o jogo, por uma questão de princípio religioso e moral.
A favor
O desenvolvimento econômico e a criação de empresas e postos de trabalho são os principais argumentos favoráveis. Marcelo Crivella, prefeito carioca, utiliza este argumento de forma poderosa para defender a abertura de um grande cassino resort no Rio de Janeiro.Junto com estes estão argumentos de oportunidade perdida; o setor do turismo vive reclamando os milhões de reais perdidos, tanto por turistas brasileiros demandando os cassinos de países vizinhos, quanto os turistas argentinos e outros que deixam de vir ao Brasil. Em todo o mundo o turismo é um dos grandes beneficiários do jogo enquanto motor da indústria.
O fato de o jogo estar acessível na internet e ser regulado em outros países é um argumento extra utilizado por quem é a favor. São muito poucos os países no mundo que não permitem pelo menos alguma forma de jogo, “tradicional” ou na internet. No hemisfério ocidental, só Cuba, Guatemala e Barbados proíbem o jogo da mesma forma que o Brasil, e parece estranho que o Brasil esteja do mesmo lado que Cuba em alguma questão. De resto, tem países, como Portugal, onde tanto o jogo online como os cassinos tradicionais são promovidos dentro de um regime legal e de forma a combater a lavagem de dinheiro – apesar de lá as críticas à corrupção das elites serem tão fortes como no Brasil.
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