Aos 25 anos, Junior Melo coleciona registros, fotografias e até viagens atrás dessa paixão, que começou ainda na infância. Desde 2015 produzindo conteúdo sobre o assunto, ele soma mais de 90 mil seguidores nas plataformas digitais.
Por Victor Ramalho
O quão longe você já foi por algo que gosta muito? Aquela atividade que começa como um hobby, algo a se fazer nas horas vagas, mas que o seu envolvimento vai crescendo com o passar do tempo até que se torne parte de quem você é. O Junior Melo, por exemplo, já saiu de Maringá rumo à Brasília por conta dos gigantes de seis rodas – alguns com oito, é verdade, dependendo do modelo -.
Sim, estamos falando de ônibus. O maringaense, de 25 anos, é o que podemos classificar como um ‘busólogo’, uma pessoa aficionada pelo meio de transporte. A busologia, embora seja um termo desconhecido para grande parte das pessoas, é uma atividade com uma comunidade bastante atuante no Brasil, com registros de entusiastas pelo menos desde a década de 1970.
O caso do Junior, no entanto, é diferente. É que além de busólogo, ele virou produtor de conteúdo sobre o assunto, com mais de 90 mil seguidores nas plataformas digitais. E o sucesso dele é tão grande que motivou empresas do segmento a buscarem o jovem para auxiliar na comunicação com o público (algo que vamos citar mais adiante na reportagem). Ao Maringá Post, Melo falou sobre como essa paixão surgiu.
“É como se isso sempre tivesse feito parte de mim”, foi a frase que ele usou para responder como o amor pelos ônibus surgiu. Junior Melo é neto de Darci Antônio de Lima, pioneiro de Maringá e que iniciou na profissão de motorista de ônibus em 1966, tendo sido um dos primeiros profissionais do ramo na Cidade Canção. A partir de 1971, Darci foi contratado pela Viação Garcia, onde permaneceu até a aposentadoria.
Junior ao lado do avô, Darci Antônio de Lima / Arquivo Pessoal
Ter o contato direto com as histórias do avô ajudaram a alimentar em Junior, ainda criança, o fascínio pelo meio de transporte. “Na casa do meu avô, haviam muitas fotografias dele e do trabalho dele, os ônibus que dirigiu. Ele tinha guardados todos os crachás das empresas de ônibus de que ele trabalhou, em todas as épocas e eu tenho uma memória muito viva disso, tanto é que, na infância, minhas brincadeiras sempre envolviam eu fingir que era um motorista, igual a ele, ou então brincava de planejar rotas de viagens para empresas do ramo”, conta o busólogo.
Aos 9 anos de idade e ainda com o interesse pela área vivo, Junior decidiu se aprofundar ainda mais no assunto. Pesquisando pela internet, ele encontrou o site “Ônibus Brasil“, ativo até os dias atuais e que reúne fotos e informações sobre os mais variados modelos. É lá que outros busólogos compartilham seus conhecimentos e também onde o maringaense descobriu que existiam outras pessoas que compartilhavam do mesmo gosto.
“O site é uma referência do assunto no Brasil. Foi ali que vi que haviam outras pessoas que eram tão fãs de ônibus quanto eu e onde pesquisei muito sobre o tema”, conta. Entre 2012 e 2013, Lima deu mais um passo na paixão, que já estava consolidada, ao começar a fotografar os modelos que via nas rodoviárias de Maringá e região.
“Essa parte da fotografia foi muito bacana porque eu tive muito apoio em casa. Meus pais são grandes entusiastas da fotografia e gostam muito de registrar paisagens urbanas, sempre participando de concursos, fazendo registros de Maringá e afins. Com eles, aprimorei minhas técnicas e comecei a fotografar também”, lembra.
A ideia de começar a produzir conteúdo sobre a busologia surgiu em 2015, inicialmente com uma página no Facebook, que conta com quase 10 mil seguidores. O tempo foi passando e vieram as outras redes. Atualmente, o @jrmelobus está também no Instagram, YouTube, Twitter e TikTok com mais de 90 mil seguidores somados em todas as plataformas.
Junior em uma das últimas viagens que fez para produzir conteúdos sobre ônibus / Arquivo Pessoal
Há oito anos nas redes sociais, Junior já produziu dezenas de milhares de conteúdos sobre ônibus, desde fotografias e vídeos a textos informativos sobre os diferentes modelos que rodam o Brasil, conteúdos esses que não foram produzidos apenas em Maringá.
“Sim, por muitas vezes eu fiz viagens especificamente para isso, para registrar alguns veículos de configurações diferenciadas, exclusivas de determinada região, como os ônibus argentinos que passavam por Foz do Iguaçu ou Florianópolis, então eu precisava me locomover para vê-los”, diz.
A paixão que também virou negócio
Autoridade no assunto, Junior Melo começou a ser visado pelas empresas de viagens e turismo a medida que sua presença nas plataformas foi crescendo, momento em que viu a oportunidade de tornar aquele hobby da infância em uma profissão.
Graduado em Administração e com experiência como Social Media, ele passou a oferecer seus serviços para as marcas, ajudando-as a se posicionar digitalmente. “Muitas empresas me procuram nesse sentido. Elas querem ajuda para conseguir ter um melhor contato com os clientes através das redes sociais e eu crio estratégias para isso. O conhecimento do ramo ajuda muito. É natural que nem todo funcionário de uma empresa de transportes vá saber tudo sobre os modelos de ônibus que a companhia têm, por exemplo, então é algo que consigo ajudar”, afirma.
Os modelos mais especiais e os amigos de busologia
Junior já não tem mais ideia de quantos modelos de ônibus diferentes fotografou ao longo da vida, já tendo ido até o Distrito Federal, conforme mencionado no começo do texto, exclusivamente para essa tarefa. E o entusiasmo segue intacto, já com planos de viajar na que é conhecida como a maior rota de ônibus do mundo.
“Considerando que um modelo pode variar conforme a combinação entre carroceria, chassi, configuração interna e empresa, eu já perdi as contas, são centenas que eu já registrei, de todas as principais fabricantes nacionais e algumas internacionais. […] Exclusivamente para o hobby foi Brasília (a viagem mais longa), mas estou projetando fazer a maior rota de ônibus do mundo, do Rio de Janeiro até Lima, no Peru”, conta.
“Eu costumo receber muitos brindes de empresas, tenho miniaturas, fotos é muito mais, e eu as mantenho expostas em um cantinho específico da minha casa. A coleção em si não é um hobby para mim, apenas fotografar e compartilhar os registros, mas faz parte das memórias que eu busco construir de tudo isso”, complementa.
Mostrando um conhecimento acima da média sobre os mais variados modelos, o jovem conta qual deles é o mais especial. “Sou fascinado por toda pluralidade de modelos, mas o veículo Double Decker realmente se destaca no meu gosto, principalmente se possuir a mecânica Scania. Outro fator que me atrai é a forma que a empresa equipa este veículo, com amenidades e itens de conforto diferenciados, como TVs individuais, poltronas massageadoras e afins”, diz.
Finalizando a entrevista, Melo garante que existem outros entusiastas do assunto por aí, assim como ele, com alguns até dentro de Maringá. “Existem sim muitos outros busólogos. Não os vemos pois, em grande maioria, eles não produzem conteúdo como eu faço, mas estão lá fazendo suas coleções, seus registros, fora que há aqueles que voltam o seu olhar para questões específicas, como os que gostam de estudar sobre os modelos diferentes de ônibus, alguns sobre as estratégias das empresas e outros temas”.
Fotos: Colaboração/Junior Melo/Reprodução/Instagram
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