Assim como o parlamentar, mais de um terço do atual legislativo está na vida pública pela primeira vez. Em entrevista ao Maringá Post, Roza fala dos projetos que mais se orgulha e avalia o trabalho do executivo maringaense.
Por Victor Ramalho
Proporcionalmente, a atual gestão da Câmara de Maringá é uma das mais “jovens” da história política local. Dos 15 vereadores eleitos em 2020, 6 deles estavam estreando na vida pública. Atualmente, esse número é ainda maior, com 7 vereadores em primeiro mandato, número retificado após o afastamento de Flávio Mantovani e a posse de Adriano Bacurau.
E um desses “estreantes” eleitos em 2020 começou acompanhar a política mais de perto, segundo ele próprio afirma, em 2016. Enquanto o Brasil discutia o Impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) e o governo interino de Michel Temer (MDB), na sociedade se instaurava um clima de insatisfação e descrença pela arte de governar. Nesse cenário, Rafael Roza (Solidariedade) não queria ser apenas mais um. Convidado desta semana para a série de entrevistas do Maringá Post com os vereadores de Maringá, ele conta que queria fazer parte de uma tentativa de mudança.
“O que mais me motivou a encarar um projeto político é que eu poderia ser um coadjuvante ou um protagonista desse ambiente. Eu via, nas redes sociais, muitas pessoas se posicionando, reclamando da política, foi bem na época que houve o Impeachment da Dilma, foi ali que houve meu despertar. Mas eu via as pessoas apenas reclamando e, para mim, só reclamar não adianta. Se queremos ver mudança, precisamos sair da nossa zona de conforto, buscar entrar em novos espaços, foi isso que me fez entrar na política. No meu entendimento, eu poderia ou continuar apenas reclamando ou eu mesmo buscar a mudança, não só para mim, mas para minha família, nossa cidade e todo o Brasil”, afirmou.
Sem nunca antes ter se envolvido com a política partidária, Roza foi para a eleição de 2020 como um fato novo e pautado em um discurso conservador. Formado em Publicidade e Propaganda pela Unicesumar, ele se destacou por conta do conteúdo produzido para as suas redes sociais, que seguem ativas. Além disso, também contou com o apoio de fiéis da Bola de Neve, igreja evangélica ao qual é membro. Com isso, foi eleito à época pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros) com 1.335 votos.
A proximidade do parlamentar com as igrejas, inclusive, resultou em um dos projetos que mais destacaram a atuação do vereador em Maringá: o da regulamentação de templos religiosos.
“As igrejas de Maringá, em sua grande maioria, não conseguiam se regularizar, não havia um projeto muito bem definido para que elas tirassem seus alvarás definitivos. Em média, quase 70% das igrejas de Maringá não tinham esse documento. Conseguimos elaborar o projeto, foi uma construção de quase 1 ano com vários órgãos envolvidos para que pudéssemos, de fato, dar andamento nisso”, conta.
Perguntado sobre o futuro, ele conta que, para além da atividade partidária, quer usar a experiência adquirida como legislador para ajudar a forma “uma nova geração de políticos”. “Nós estamos construindo com alguns partidos os novos futuros vereadores, deputados estaduais e essa é uma paixão que eu tenho, de poder trazer um pouquinho dessa expertise que venho construindo nesses últimos anos como vereador para poder agregar também nessa nova geração, para que os futuros vereadores venham e consigam construir com muito mais qualidade e capacidade, pois é isso que precisamos para a nossa cidade”, explica.
Ainda na entrevista, Rafael Roza faz uma avaliação do próprio trabalho, fala da relação do legislativo com a Prefeitura, a Sociedade Civil Organizada e também faz uma avaliação das atuais gestões Municipal, Estadual e Federal. Veja a entrevista completa:
- Para que os eleitores possam te conhecer: O que motivou o senhor a se candidatar a vereador pela primeira vez, em 2020?
R: “O que mais me motivou a encarar um projeto político é que eu poderia ser um coadjuvante ou um protagonista desse ambiente. Eu via, nas redes sociais, muitas pessoas se posicionando, reclamando da política, foi bem na época que houve o Impeachment da Dilma, foi ali que houve meu despertar. Mas eu via as pessoas apenas reclamando e, para mim, só reclamar não adianta. Se queremos ver mudança, precisamos sair da nossa zona de conforto, buscar entrar em novos espaços, foi isso que me fez entrar na política. No meu entendimento, eu poderia ou continuar apenas reclamando ou eu mesmo buscar a mudança, não só para mim, mas para minha família, nossa cidade e todo o Brasil.”
- Já passando da metade do primeiro mandato, como tem sido a experiência? A vida pública é aquilo que o senhor esperava?
R: “Já passando metade do mandato, a gente consegue fazer um balanço mais acertivo, ver onde acertamos e onde erramos. Para mim é um momento muito especial, pois pude aprender a entender e dosar as energias, lutar as batalhas que valem a pena. Não é em qualquer guerra que vamos entrar. Existem lutas e pautas que lutei de forma incisiva, mas também não é toda pauta que é importante entrar nessa batalha e meu mandato me trouxe isso: saber dosar essas questões, articular, compor na construção com os demais vereadores. Está sendo muito especial, o momento que mais estou feliz politicamente, pois é o momento onde estou conseguindo ter mais resultado e êxito nessa construção.”
- Tem algum projeto e/ou realização que o senhor mais se orgulha de ter feito enquanto vereador?
R: “Tiveram três projetos que foram muito especiais para mim, entre todos que nós propomos. Um que está no meu coração é o da educação essencial na pandemia. Estavam querendo fechar tudo e sabíamos que o ônus para esse setor seria muito grande. Claro, não falávamos em abrir tudo, mas um funcionamento de forma estratégica, eficiente, tomando todos os cuidados para manter a saúde e distanciamento. Fechar como se queria fechar, seria um prejuízo enorme para a cidade.
Outro projeto muito marcante é o que concede o selo de reconhecimento para as empresas que contratam jovens aprendizes, pois queremos incentivar cada vez mais as empresas a darem oportunidades para os jovens, gerar incentivo, para que possamos construir uma sociedade muito mais sólida e madura. Precisamos investir nos jovens, pois sabemos que cabeça vazia dá espaço para se fazer muita coisa que não presta. O trabalho dignifica o homem e a mulher e constrói sociedades melhores.
O terceiro é o da regularização das igrejas. As igrejas de Maringá, em sua grande maioria, não conseguiam se regularizar, não havia um projeto muito bem definido para que elas tirassem seus alvarás definitivos. Em média, quase 70% das igrejas de Maringá não tinham esse documento. Conseguimos elaborar o projeto, foi uma construção de quase 1 ano com vários órgãos envolvidos para que pudéssemos, de fato, dar andamento nisso.
Também demos início a segurança armada nas escolas, mas retiramos de pauta pois a Prefeitura já estava dando andamento nisso, mas também era uma pauta que julgávamos importante.”
- Como o senhor classifica a relação da Câmara com o Executivo? E a sua em particular com a Prefeitura?
R: “Acho que os poderes precisam caminhar de forma mais independente. Vejo que hoje a proximidade é muito grande e não acredito nisso como algo muito saudável. Acho que precisa, sim, existir um distanciamento ainda maior. Não que esse relacionamento seja muito próximo, mas hoje para muitos vereadores conseguirem fazer suas entregas de suas demandas para a população, fazer suas reivindicações para seus grupos e bairros, se o parlamentar tiver uma posição muito dura em relação ao Executivo, acaba tendo mais dificuldade em ter essa demanda atendida. Isso é um fato, não só de Maringá, mas de todo o Brasil. Se peca na intensidade da fiscalização porque, se não for assim, muitas portas são fechadas. Minha relação é muito superficial, já tive reuniões com alguns secretários, mas com o prefeito devo ter me encontrado duas ou três vezes em dois anos e meio de mandato. Procuro não estar tão próximo justamente para que isso não atrapalhe o posicionamento fiscalizador que eu tenho, pois é uma pauta que eu gosto muito e considero um dos principais atributos de um vereador.”
- E a relação do senhor com demais organizações da sociedade civil (Acim, Codem, SRM e similares). É um diálogo produtivo para a cidade?
R: “A Sociedade Civil organizada tem um papel muito importante na construção da cidade. Lá na ponta, eles conseguem ter uma visão melhor dos problemas e, através do diálogo, propor projetos e soluções, levar demandas até o Executivo, para que possamos juntos construir uma sociedade ainda melhor. Vejo um papel muito atuante desse grupo em Maringá, em especial da Acim (Associação Comercial e Empresarial de Maringá). Tenho um bom relacionamento com eles, procuro estar perto, justamente para estar entendendo as dores do comerciante, do empresariado, aqueles que estão no dia a dia gerando empregos, arrecadação e crescimento para a nossa cidade. Tenho um diálogo muito bom com eles e vejo que outros vereadores também têm. Essas organizações são de extrema importância para a melhoria da cidade.”
- Para o futuro, quais são os seus planos políticos? Tem algum outro cargo ou função que gostaria de exercer?
R: “Ainda é muito cedo. Nós estamos ainda há 1 ano e meio da eleição. Acredito que até lá, muita coisa poderá mudar não só para mim, como para todos os outros políticos. Ainda estou negociando com o meu partido sobre como vai ser o Rafael para as próximas eleições, se há algum cargo diferente que a gente almeja. Mas, além de toda essa discussão política eu também quero ajudar a construir uma geração de novos políticos. Nós estamos construindo com alguns partidos os novos futuros vereadores, deputados estaduais e essa é uma paixão que eu tenho, de poder trazer um pouquinho dessa expertise que venho construindo nesses últimos anos como vereador para poder agregar também nessa nova geração, para que os futuros vereadores venham e consigam construir com muito mais qualidade e capacidade, pois é isso que precisamos para a nossa cidade.”
- Qual avaliação o senhor faz da administração municipal em Maringá?
R: “Eu costumo dizer que, muitas vezes, o que é prioridade acaba não sendo priorizado, mas isso também é culpa da população. Ás vezes, damos muito mais valor em uma praça bonita do que em tentar resolver os problemas das filas nas UPAs da vida, nas UBSs e por aí vai. Acho que precisamos melhorar na alocação dos recursos públicos, priorizar o que deve ser prioridade, isso é muito importante. Confesso que fiquei muito decepcionado com a discussão sobre a prainha, que muita gente acha legal, a gente escuta na rua, mas que serão R$ 50 milhões gastos de início e nós temos tantas demandas muito mais importantes do que essas questões. Eu não sou contra o lazer, muito pelo contrário, acho importante gerar qualidade de vida para as pessoas, isso é importante para a saúde mental, mas precisamos priorizar o que é prioridade. Nós temos um problema muito grande em Maringá que é a questão asfáltica, por exemplo. A saúde melhorou bastante, mas ainda estamos muito longe do ideal, precisamos qualificar isso aí, quantificar os atendimentos e acho que isso é muito mais importante do que “perfumar” a cidade. É importante a cidade estar bonita, cuidada, mas precisamos focar mais, alocar os recursos onde eles são necessários.”
- E avaliação dos Governos Estadual e Federal? Visto que tivemos troca de presidente recentemente.
R: “No Governo Estadual, não tivemos muitas mudanças. O que o governador Ratinho Junior foi na gestão passada, está sendo agora também. Não vou dizer que é uma gestão excepcional, mas está sendo de razoável para bom. Imagino que não teremos muitas mudanças daqui pra frente, mas vejo que o Estado do Paraná está bem protegido. Eu não vejo com maus olhos, acho que precisávamos de mais velocidade em algumas demandas, mas vejo o Estado em um bom caminho, temos uma boa perspectiva econômica e acho que podemos alçar voos mais altos.
Sobre a troca de presidente, eu me entristeço muito. Nós tivemos um presidente (Bolsonaro) que era muito questionado por conta de suas viagens internacionais e, hoje, temos outro que só viaja e persegue políticos que tentaram fazer um trabalho decente e digno pelo nosso Brasil. É triste ver que o bom ficou ruim e o ruim ficou bom, o certo está errado e o errado está certo. A corrupção venceu, foi uma perda para o Brasil, estamos entregando novamente as estatais nas mãos daqueles que roubaram o Brasil. Nós estaremos sempre atuantes politicamente em busca de melhorias, mas o público precisa escolher melhor o seu voto, pois quem paga o preço é o cidadão comum, a corrente sempre arrebenta para o elo mais fraco.
Eu não torço contra a gestão do Lula, eu torço para que faça um grande mandato, o meu diagnóstico é baseado naquilo que ele já fez e começou a fazer. Acho que o brasileiro deveria ter mais responsabilidade e sensatez na escolha dos seus candidatos. Acho que perdemos muito com essa troca presidencial, não digo que a gestão anterior era excelente, pois também teve falhas e eu não passo pano para ninguém. Temos que ter a sensatez e a humildade de reconhecer quando uma gestão acerta e quando ela erra, mas acho que essa atual gestão, infelizmente, tem mais chance de errar do que acertar.”
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Foto: Marquinhos Oliveira/CMM
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