Entre as maiores do Paraná, Maringá lidera na presença de mulheres no secretariado municipal

Com a criação da Secretaria da Pessoa com Deficiência, que será comandada por uma mulher, o município chega a 50% de participação feminina.

  • Com a criação da Secretaria da Pessoa com Deficiência, que será comandada por uma mulher, o município chega a 50% de participação feminina em cargos do 1º escalão. Média é maior do que em cidades maiores, como Londrina e Curitiba.

    Por Victor Ramalho

    Seja por convicção pessoal ou para se mostrar alinhado com as pautas políticas contemporâneas, Ulisses Maia (PSD) nunca escondeu o desejo de aumentar a participação feminina na gestão municipal. Se publicamente o prefeito de Maringá não deu tanta ênfase no assunto nos últimos anos, fato é que, nos bastidores, essa movimentação se intensificou a partir do início do segundo mandato, em janeiro de 2021.

    Neste mês, o objetivo foi alcançado. Com a criação da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, que será comandada pela intérprete de Libras Maria Elizabeth Dumont Negrelli, a cidade chega a 50% de mulheres chefiando o secretariado municipal. Das atuais 30 secretarias, são 15 ocupadas por elas.

    Conforme um levantamento feito pelo Maringá Post, o percentual é o maior entre as 5 maiores cidades do Paraná. Nas outras 4 cidades consultadas pela reportagem, em nenhuma delas a participação de mulheres em cargos do primeiro escalão – que consideram secretarias, autarquias e empresas públicas municipais – ultrapassa os 40%.

    Ponta Grossa é quem mais se aproxima dos números de Maringá. Entre 18 secretarias, autarquias e empresas públicas, 6 são comandadas por mulheres, um percentual de 33%. Em Curitiba, são 9 mulheres entre as 30 pastas da atual gestão (30% de participação). Londrina e Cascavel já aparecem com números abaixo dos 20%.

    Na capital do Café, o índice atual é de 18%. Por lá, entre as atuais 33 pastas, apenas 6 têm um comando feminino. Já na cidade do Oeste do Estado, o percentual é ainda menor, de 16%: 4 mulheres em 25 secretarias.

    Um processo gradual

    Chegar aos números atuais em Maringá não foi tarefa fácil. Costumeiramente, as escolhas dentro de um secretariado demandam negociações e arranjos políticos embora, publicamente, Ulisses Maia sempre tenha declarado que, para escolher os profissionais que atuam em cada pasta, leva em consideração apenas “critérios técnicos”.

    “Em minha gestão, sempre valorizei a atuação das mulheres, ocupando cargos de liderança e tomando decisões. Esse é um trabalho que está sendo consolidado desde 2017, quando já avançamos muito na participação feminina na gestão pública. Avançamos, cada vez mais, ano após ano, para chegarmos neste feito histórico. Hoje, entre secretárias, superintendentes e diretoras, são 90 mulheres”, declarou o prefeito, em entrevista ao Maringá Post.

    Além da criação da nova secretaria da Pessoa com Deficiência, Ulisses aproveitou as várias mudanças ocorridas no 1º escalão nos últimos meses para atingir o número que desejava. Para citar os exemplos mais recentes, duas pastas importantes deixaram de ter homens no comando para terem secretárias mulheres: na Juventude e Cidadania, saiu Emmanuel Predestin e entrou Ana Nerry, enquanto que na Comunicação, Alexandra Staudt substituiu Lucio Olivo Rosas.

    É a primeira vez na história de Maringá que o secretariado municipal tem a mesma proporção de homens e mulheres, feito destacado pelo próprio chefe do Executivo. “As mulheres ocupam 50% dos cargos do primeiro escalão e 65% das funções do segundo escalão, algo inédito na história da Prefeitura de Maringá. Temos orgulho em dizer que as mulheres são protagonistas e ocupam espaços de decisão em nossa gestão”, resumiu.

    “Estamos sempre quebrando paradigmas”

    Maria Ligia Guedes, secretária municipal de Infraestrutura, foi a primeira mulher a ocupar um cargo de primeiro escalão na atual gestão, tendo inclusive participado da equipe de transição de Governo, em 2016. Na época, ela foi nomeada diretora de Turismo.

    Seis anos depois e com o status de secretária mais antiga do Executivo, ela diz que ser mulher e atuar na gestão pública é sempre desafiador. “Apesar dos grandes avanços e conquistas, nada é fácil para nós mulheres. Estamos sempre quebrando paradigmas. Estar como Secretária de Infraestrutura em Maringá, para mim é um orgulho e uma grande responsabilidade, pela confiança que o prefeito Ulisses Maia depositou na minha pessoa, como profissional”, conta.

    Policial Militar de carreira, ela diz que a experiência dessa época a ajudou a enfrentar os desafios da atual função. A secretária destaca que sempre trabalhou para conquistar o respeito dos colegas de profissão.

    “Quanto ao fato de ser uma secretaria predominantemente masculina, não vejo diferença. Sempre trabalhei em ambientes como esse, exercendo cargos de chefias e comando, tudo conquistado com Concursos externos e internos. Trato homens e mulheres igualmente. São profissionais. E o respeito não é imposição e sim uma conquista. […] A mulher é essencial nessa área, assim como em todas as outras. Mulher não invade espaço e sim ocupa um espaço que é seu. Entretanto, para mim, sempre tem que prevalecer a capacidade profissional, independente se homem ou mulher. E sim, a vivência militar ajuda em qualquer carreira ou cargo. A Polícia Militar é uma escola de vida”, afirma.

    “As mulheres precisam entender que a política também é nosso lugar”

    Uma das 15 secretárias da atual gestão milita pela maior participação feminina na vida pública há vários anos. Trata-se de Terezinha Pereira, secretária de Políticas Públicas para Mulheres e atual presidente do Conselho Municipal da Mulher.

    Ela afirma que a cidade avançou nesse aspecto nos últimos anos, mas reforça que o progresso ainda é tímido.

    “Eu penso que Maringá avançou em muitos aspectos, mas na política nós ainda estamos atrasadas no tempo. Em 76 anos nunca tivemos uma prefeita, uma vice-prefeita ou uma presidente da Mesa Executiva da Câmara de Vereadores. Na gestão passada tivemos 15 vereadores homens e nesta temos somente duas. Nossa participação na política ainda é muito tímida e precisamos avançar na conquista desses espaços, onde as leis são criadas e onde as políticas públicas são executadas. Eu penso que as mulheres precisam entender que a política também é nosso lugar, mas para chegarmos ao poder precisamos ser votadas e o voto das nossas iguais é fundamental para que possamos ocupar os espaços de poder e decisão”, explica.

    Veja quem são as 15 mulheres que ocupam cargos no 1º escalão da Gestão Municipal em Maringá:

    Maria da Penha Sapata, presidente da Agência Maringaense de Regulação

    Sandra Jacovós, secretária de Assistência Social, Políticas Sobre Drogas e Pessoas Idosas

    Patrícia Parra, secretária de Compliance e Controle

    Alexandra Staudt, secretária de Comunicação

    Nayara Caruzzo, secretária de Educação

    Maria Lígia Guedes, secretária de Infraestrutura

    Bruna Barroca, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maringá (Ipplam)

    Ana Nerry, secretária de Juventude, Cidadania e Migrantes

    Cinthia Amboni, presidente da Maringá Previdência

    Ariane Louise, secretária de Proteção e Bem-Estar Animal

    Jocelei Tozetto, secretária de Obras Públicas

    Terezinha Pereira, secretária de Políticas Públicas para Mulheres

    Juliane Kerkhoff, presidente do Instituto Ambiental de Maringá

    Amalia Regina Donegá, secretária da Criança e Adolescente

    Maria Elizabeth Dumont, secretária da Pessoa com Deficiência

    Foto: Divulgação/PMM

    Comentários estão fechados.