Da reprodução assistida à revolução em insumos médicos: quem é Gilberto Almodin, médico maringaense pioneiro da fertilização in vitro

Carlos Gilberto Almodin foi o médico responsável pelo primeiro procedimento do tipo no país feito por uma equipe brasileira, em 1986.

  • O médico foi responsável pelo primeiro procedimento do tipo no país feito por uma equipe brasileira, em 1986. Atualmente, o profissional tem uma clínica especializada em reprodução humana em Maringá.

    Por Victor Ramalho

    Embora não seja uma técnica recente, a Fertilização In Vitro continua sendo um dos procedimentos mais procurados da medicina por mulheres e casais que desejam ter filhos. A reprodução assistida, como também é conhecida, é indicada para mulheres que apresentam alterações ginecológicas que interferem na ovulação.

    O primeiro “bebê de proveta” do mundo nasceu em 25 de julho de 1978, na Inglaterra. No continente europeu, aliás, o procedimento é bem famoso. Na Dinamarca, por exemplo, 9% da população atual é resultado da técnica.

    No Brasil, o primeiro nascimento do tipo foi em 1984, em São José dos Pinhais. O procedimento, no entanto, foi chefiado por médicos de fora do país. Dois anos mais tarde, em 1986, ocorreria o primeiro nascimento de um bebê de proveta cujo todo o tratamento foi feito por uma equipe brasileira e, curiosamente, o médico responsável por liderar o procedimento é maringaense.

    Trata-se do doutor Gilberto Almodin, especialista em Reprodução Humana e que atua no ramo desde 1979, logo após formar-se em medicina. Segundo ele, o conhecimento sobre o procedimento veio quando ainda estava na faculdade e a temática o deixou fascinado, algo que o encorajou a se especializar na área.

    “Foi uma paixão. Quando nasceu o primeiro bebê de proveta do mundo, em 1979, era recém-formado e estava começando minha carreira como ginecologista e obstetra. Eu vi aquele fato, achei algo magnífico e falei ‘eu vou para essa área’. Foi um caminho naturalmente demorado, até termos todo o conhecimento necessário, conseguirmos reproduzir toda a tecnologia, mas é algo que me deixa satisfeito e feliz, ver esse caminho trilhado desde o início”, disse.

    O nascimento do primeiro bebê resultado de uma fertilização in vitro conduzida pelo profissional ocorreu em Curitiba. Até poucos anos atrás, mulheres de diversas regiões do Brasil vinham até Maringá para se consultar com o profissional, que tem uma clínica especializada no procedimento na cidade.

    “Era comum sim (atender mulheres de regiões distantes), pois até a técnica se popularizar, levou um tempo. Mas hoje existem outros profissionais pelo Brasil. É uma técnica antiga, mas que ao mesmo tempo continua atual, bastante visada e que recebe aprimoramentos constantes, por isso a fertilização in vitro continua tão popular”, acrescenta o médico.

    Desde que realizou o primeiro procedimento, em 1986, até hoje, Almodin estima já ter atendido mais de 15 mil mulheres. “É algo que a gente costuma contar no início da carreira, por conta da vaidade, mas com o tempo perdemos esse costume e apenas vamos fazendo, com o objetivo de ajudar mulheres que querem ter filhos”, afirma.

    A vontade de ajudar outros profissionais do ramo

    Um dos obstáculos observados pelo próprio médico no ramo da reprodução humana no Brasil, lá no começo da carreira, era a falta de opções para comprar insumos hospitalares. Aldomin relata, por exemplo, que grande parte dos equipamentos que utilizava nos primeiros anos de atividade eram comprados fora do país.

    “Chegava uma época do ano em que eu precisava ir para os Estados Unidos com umas sete ou oito malas, todas vazias, e voltava com elas cheias de equipamentos, insumos que eu teria que usar ao longo de todo o ano. Eram itens que eu comprava diretamente com fornecedores, mas além do desgaste da viagem, ainda tínhamos alguns problemas com alfândega, o que deixava a logística complicada”, afirma.

    Foi pensando nisso que, em agosto de 2000, ele fundou a IngáMed, uma empresa também maringaense, especializada na fabricação e venda de insumos médicos e hospitalares nas mais diversas especialidades.

    “Era algo que ainda não tinha no Brasil, uma empresa que pudesse vender insumos para outras clínicas. Profissionais da área, assim como eu, viviam viajando para fora do país para comprar esses itens, então foi uma demanda que conseguimos atender. Inicialmente, eu montei o negócio para fabricar os meus equipamentos, só depois vi o potencial de abastecer outros consultórios e, felizmente, o negócio é referência nacional”, acrescenta.

    Atualmente, a IngáMed vende insumos hospitalares para clínicas e consultórios médicos no Brasil e também para outros países da América do Sul, como Peru, Equador e Colômbia. Em duas décadas de atuação, já são mais de 5 mil clientes atendidos.

    E entre as vantagens de ter uma empresa nacional fornecendo os itens, além da logística, está a redução de preços. “Em alguns casos, conseguimos reduzir o valor de um equipamento cirúrgico em até 90%, se comparado ao valor que um médico gastaria comprando no exterior”, finaliza.

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