Empresas de app que operam no Brasil afirmam não ter dados regionalizados sobre a quantidade de motoristas trabalhando. Em cidades como Maringá, eles reclamam do valor das corridas e de insumos básicos, como os combustíveis.
Por Victor Ramalho
A ideia do Mauro Watanabe era ter uma renda extra e, em 2021, ele conheceu o mundo dos aplicativos de carona e resolveu virar motorista. Apesar de não ter largado o emprego formal que já tem, a dedicação às corridas é quase de um trabalho CLT: são cerca de 10 horas dirigindo pelas ruas de Maringá, todos os dias. Mas, mesmo com tudo isso, ele afirma que os ganhos como motorista não são tão expressivos.
Aos 45 anos, ele diz que o maior desafio ainda é saber escolher uma corrida que dê lucro. “Os desafios são muitos, pois saber escolher uma corrida boa, que pelo menos dê algum lucro, é bem difícil. Tenho vários conhecidos do app que estão indo para CLT, pois acham que fazer corrida não dá mais”, afirmou.
No Brasil, o primeiro aplicativo de carona começou a funcionar no primeiro semestre de 2014. Faltando apenas alguns meses para os 10 anos de operação, os desafios ainda são muitos, a começar pela falta de dados sobre os motoristas que trabalham para as plataformas.
Três empresas de transporte consultadas pelo Maringá Post afirmaram não ter dados regionalizados sobre os aplicativos, ou seja, não sabem quantos motoristas operam em cada cidade atualmente. O dado mais concreto que existe, até o momento, é o da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), produzido em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que estima que existam 1,6 milhão de motoristas de aplicativo no Brasil, somando todas as plataformas. O estudo foi divulgado no dia 11 de maio. A pesquisa, no entanto, também não estima quantos motoristas existem por cidade.
Taxistas também enfrentam os desafios do transporte urbano
Os problemas enfrentados pelos motoristas de aplicativo também atingem, ainda que indiretamente, os taxistas. As duas categorias consideram os custos de manutenção dos automóveis bastante elevados, não só em Maringá, mas em outras cidades do Brasil. O reflexo disso é o “abandono” dos pontos de Táxi.
Em Maringá, existem atualmente 112 taxistas licenciados, segundo dados da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob). Do total, 20 deles não estão mais trabalhando e não apresentaram justificativa ao Poder Público. A redução na Cidade Canção já é observada há algum tempo, com uma queda de 32% na quantidade de taxistas cadastrados desde 2021.
No Brasil, a proporção atual é de 3 motoristas de app para cada taxista. São 600 mil taxistas operando nas cidades do país, segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios. Em grandes metrópoles, esse indicador é ainda mais desigual.
Curitiba, por exemplo, tem atualmente 12 mil motoristas de app, segundo dados não oficiais de entidades que representam a categoria. Já o número de taxistas licenciados no município é de 1.500, média de 8 motoristas de app para cada taxista. Em Maringá, o indicador já foi semelhante.
Dados não oficiais apontavam para a circulação de mais de mil motoristas de app na Cidade Canção até 2021. Embora não exista um levantamento oficial, motoristas consultados pela reportagem garantem que o número já é bem menor.
Apesar disso, taxistas também ouvidos pelo Maringá Post não consideram os apps como “inimigos” da categoria. Eles consideram que ambos enfrentam os mesmos problemas, apontando o preço dos insumos e dos combustíveis como principal “vilão”.
O poder público pode ajudar?
Por se tratar de uma profissão não regulamentada, é difícil que os municípios ofereçam algum tipo de suporte aos profissionais da categoria. O mais perto que já se chegou disso foi a proposição da inclusão da categoria na lista de beneficiários do Auxílio Emergencial, em 2022. O projeto, no entanto, não caminhou.
No entanto, motoristas como o Mauro apontam que a ajuda poderia ver em questões mais simples, como a criação de pontos de parada para os automóveis. “Em Maringá, não existem locais ou pontos de parada para os motoristas. Com isso, muitos são multados sem motivo algum. Locais de embarque nos ajudariam muito”, disse.
Conforme levantado pelo Maringá Post, a iniciativa, até o momento, existe em poucas cidades do Brasil, como Itaquatecetuba, no interior de São Paulo, e Joinville, em Santa Catarina. O Maringá Post procurou a Prefeitura de Maringá, para saber se um projeto semelhante pode ser implantado na cidade e aguarda um retorno.
Imagem Ilustrativa/Marcelo Camargo/Agência Brasil
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