Número de universitários com mais de 40 anos dobra nas instituições de ensino do Paraná

Em cerca de dez anos, número saltou de 40 mil para mais de 80 mil matriculados. Em todo o Brasil, são mais de 600 mil estudantes nesta faixa etária matriculados nas universidades.

  • Em cerca de dez anos, número saltou de 40 mil para mais de 80 mil matriculados. Em todo o Brasil, são mais de 600 mil estudantes nesta faixa etária matriculados nas universidades.

    Por Victor Ramalho

    A primeira graduação veio em 1982, no curso de Processamento de Dados. Após isso, foram anos dedicados a pesquisa, extensão e atividade docente no Departamento de Informática da Universidade Estadual de Maringá (UEM) até a aposentadoria, em 2014. Mesmo assim, a Tânia Tait não conseguiu ficar longe da sala de aula.

    Voluntária em uma Organização não Governamental (ONG) que luta pelos direitos das mulheres em Maringá, ela decidiu voltar para a faculdade em 2018, desta vez, no curso de Jornalismo. O objetivo era aprimorar os conhecimentos em Comunicação para poder continuar desenvolvendo os trabalhos dentro da entidade.

    “Aposentada como professora da UEM, continuei minha atividade na ONG Maria do Ingá, na qual atuo desde sua fundação em 2001. Decidi cursar Jornalismo pelo envolvimento nas atividades de Comunicação da ONG e, como sempre atuei com escrita, o curso me chamou a atenção”, contou Tânia, em entrevista ao Maringá Post.

    A formação como Jornalista foi concluída em 2022, aos 60 anos de idade, que fizeram com que a profissional entrasse em uma estatística bastante positiva. Em cerca de 10 anos, o Paraná dobrou o número de estudantes com mais de 40 anos frequentando instituições de ensino superior, segundo dados do Censo da Educação Superior do Ministério da Educação e Cultura (MEC). O último levantamento foi realizado em 2021.

    Conforme o indicador, o Estado saltou de 39.326 estudantes nesta faixa etária matriculados e frequentando os cursos de graduação em 2012 para 80.581 estudantes em 2021. Dois anos após a pesquisa, os indicadores se mantém otimistas. Conforme o MEC, são quase 600 mil estudantes nesta faixa de idade matriculados em instituições de ensino superior em todo o Brasil.

    Voltar para a sala de aula após anos de afastamento ou ter a primeira experiência na graduação após os 40 anos pode ser um desafio para muitos estudantes. Tânia, por exemplo, realizou os estudos na fase mais restritiva da pandemia da Covid-19, mas nada que a fizesse desanimar. Ela valoriza a experiência que teve com os professores e colegas de curso.

    “Não foi um desafio (estar em contato com os mais jovens) pois eu estava habituada a lidar com jovens na UEM, além de estar no curso pra aprender. Alguns professores disseram que se sentiam intimidados com a presença de uma pós-doutora, mas eu disse que quem dominava o tema eram eles e elas que viviam a área de jornalismo. Eu estava aprendendo. O curso foi EAD e na maior parte dele realizado na pandemia. Tive a oportunidade de estar num grupo de pessoas comprometidas como as professoras e jornalistas Alexandra Fante e Valdete da Graça e o professor Matheus Piai, pra citar alguns”, afirma.

    “A graduação hoje é uma realidade que está bem próxima e ao alcance de todos”

    Quem também compartilhou sua experiência no ensino superior é o Moacir Freitas, que ano passado iniciou a graduação em Direito, em uma instituição privada de Maringá. É a primeira experiência do estudante em uma graduação.

    Ao Maringá Post, ele relata que cursar Direito era um desejo de vida ainda pendente. “Não tinha ainda experiência com graduação, somente cursos técnicos. Tendo alcançado uma certa estabilidade no ramo que atuo, resolvi dar inicio ao objetivo ainda pendente”, explica.

    Para ele, o contato com pessoas de todas as idades dentro da sala de aula é bastante benéfico, pois permite uma troca de experiências diária. “Sim, isso tem sido um desafio diário (estar com os mais jovens), eles estão em outra frequência, correndo atrás de formar carreira, se tornar um profissional de relevância, isso pesa contra eles. No meu caso os objetivos são outros, já com a carreira profissional definida e em plena atuação, a intenção é se manter conectado as inovações e mudanças do mundo corporativo”, conta Moacir.

    O acadêmico também cita que estar entre os jovens é uma chance de se manter atualizado, seja sobre os assuntos do cotidiano ou sobre a tecnologia, cada vez mais presente. Ele pondera, no entanto, que a graduação requer muita disciplina. “É importante se adequar a essa nova realidade, saber a hora certa de se posicionar, não ser pragmático o tempo todo”, diz.

    Para finalizar, Freitas encoraja outras pessoas a terem a mesma experiência. “Acrescento aos meus contemporâneos que a graduação é uma realidade que está bem próxima e ao alcance de todos. Hoje existe uma infinidade de conteúdos disponíveis nas plataformas digitais. Isso é fundamental para uma introdução ao mundo acadêmico. É possível se atualizar com rapidez e qualidade”, diz o profissional.

    Tânia também convida outras pessoas a conhecerem o mundo acadêmico. “O Conselho que eu dou é: estude, independente da idade e aproveite tudo o que o curso e a faculdade oferecem. O esforço e o estudo se fazem necessários em qualquer área, o que vai tornar a rotina mais leve ou mais pesada será a paixão pelo tema”, finaliza.

    Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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