Em quatro anos, Maringá gastou quase R$ 1 milhão em armamentos para a Guarda Municipal

O valor engloba a aquisição de armas, munições e avaliação psicológica dos agentes. Em entrevista exclusiva ao Maringá Post, o secretário de Segurança Pública de Maringá, Ivan Quartaroli, avalia como “sucesso absoluto” o trabalho da Guarda desde que ela passou a andar armada, em agosto de 2021.

  • O valor engloba a aquisição de armas, munições e avaliação psicológica dos agentes. Em entrevista exclusiva ao Maringá Post, o secretário de Segurança Pública de Maringá, Ivan Quartaroli, avalia como “sucesso absoluto” o trabalho da Guarda desde que ela passou a andar armada, em agosto de 2021.

    Por Victor Ramalho

    O tema Segurança Pública se tornou mais evidente em Maringá em 2023. Desde o assassinato da jovem Samantha Campana, na região do novo centro, no fim de janeiro, o município intensificou agendas com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, pedindo o aumento de efetivo da Polícia Militar (PM) e inaugurou, no dia 24 de fevereiro, a Central de Controle Integrada da Guarda Municipal, construída ao custo de R$ 5,7 milhões e que promete ser um aliado das forças de segurança na prevenção e resolução de crimes, através de um sistema de monitoramento inteligente com reconhecimento facial e de placas de veículos.

    Mas a preocupação do município com a área de segurança não vem de hoje. Segundo dados do Portal da Transparência, entre 2018 e 2022, a Prefeitura de Maringá gastou pouco mais de R$ 990 mil na aquisição de armamentos para a Guarda Municipal (GM). O valor engloba a aquisição de armas, munições e avaliação psicológica dos agentes habilitados para andarem armados.

    Em Maringá, o processo jurídico para o armamento da Guarda iniciou em 2018, mas os agentes só saíram armados para as ruas mesmo no dia 24 de agosto de 2021. Pouco mais de 1 ano e 7 meses depois, a GM deu apenas dois disparos em ocorrências.

    O número chama a atenção considerando a estrutura montada e que demanda reposições anuais. Por ano, o município realiza a aquisição de cerca de 15 mil munições de pistola calibre 380, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Então, qual a real função do armamento da Guarda?

    Em entrevista exclusiva ao Maringá Post, o secretário de Segurança Pública de Maringá, Ivan Quartaroli, explica o assunto. Segundo ele, o armamento foi pensado para dar maior segurança aos agentes que saem nas ruas. Ele também afirma que a grande maioria das munições adquiridas são usadas em treinamento.

    “As forças de segurança no Brasil, historicamente, andam armadas. Em alguns países, como Islândia ou Inglaterra, os policiais não andam armados, mas há uma diferença muito grande nos tipos de crimes praticados lá e aqui. Voltando para a nossa realidade, o armamento é um dos equipamentos que as forças de segurança tem para atuar dentro de suas esferas de competência. Vamos dar um exemplo prático: se eu, que sou policial aposentado, vou fazer uma abordagem no centro de uma pessoa suspeita de roubo, normalmente esses crimes são realizados com emprego de violência, pessoas armadas com facas ou armas, como um policial desarmado fará essa abordagem? Fica mais difícil, é perigoso para a população e também para os agentes. Então quando nós armamos a Guarda, ampliamos um pouco o leque de atuação dela, agora ela pode atender esses tipos de ocorrências que, anteriormente e por questões de segurança, ela deveria chamar apoio da Polícia Militar ou Polícia Civil”, explicou o secretário.

    Quartaroli também explica que a Guarda Municipal, por lei, é a única força de segurança do Brasil que tem a obrigação de realizar treinamentos anuais. Em Maringá, os agentes são submetidos a 100 horas de treinamento anual, das quais metade são dedicadas à prática de armamento e tiro.

    “Nós fazemos de 90 a 100 horas de treinamento anuais, das quais 50 são de treinamento e tiro. Então, podemos colocar que, cada agente, vai realizar cerca de 250 disparos em treinamento por ano. Se multiplicarmos isso por 91 guardas, teremos um número bem expressivo, são quase 20 mil disparos por ano. Por isso, buscamos sempre fazer uma reciclagem. O material de uso contínuo, o Guarda leva para a rua e, ao final de cada ano, ele vai receber uma munição nova. As munições mais ‘antigas’, que não foram usadas em campo, podem ser utilizadas em treinamento. Tudo isso tem um custo. Em especial aqui no Brasil, suprimentos relacionados a armamentos costumam ser mais caros. Aqui na GM de Maringá, cada Guarda tem sua arma específica, onde ele é responsável pelo seu equipamento e também temos as armas específicas para treinamento. Logo, precisamos ter uma quantidade de equipamentos à disposição para oferecer aos servidores e também para treinamento, além de uma reserva técnica. É nisso que os recursos são aplicados”, disse.

    Atualmente, a Guarda Municipal de Maringá tem 125 Guardas Civis, dos quais 91 estão habilitados para andar armados. O arsenal da GM é composto por 127 armas de fogo, sendo 100 pistolas calibre 380, 14 espingardas calibre 12 e 13 revólveres calibre 38.

    O secretário ressalta que a arma de fogo é considerada o “último recurso” do agente. Ele classifica como “sucesso absoluto” o fato da Guarda só ter realizado dois disparos em campo desde agosto de 2021.

    “Isso é uma preparação técnica. Toda abordagem policial existe um método e ele é ensinado nas escolas. Em abordagens, por exemplo, nós temos o chamado ‘uso progressivo da força’, fazer a postura verbal e corporal faz parte da técnica policial de uso adequado da força. A arma atua dentro deste contexto, de uso progressivo da força, então podemos dizer e devemos até reforçar para as pessoas, que o uso da arma de fogo é o ‘último recurso’ de um agente. […] Em quase dois anos atuando armada, só demos dois tiros em campo. Isso consideramos um sucesso absoluto, pois mostra que conseguimos cumprir o nosso papel sem o emprego da força, que é o desejado para as forças de segurança”, finalizou o secretário de Segurança.

    Foto: Ilustrativa/Arquivo/Prefeitura de Maringá

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