Prefeitura atende mais de 200 pessoas em situação de rua em Maringá, mas muitos recusam apoio

Na segunda reportagem do Maringá Post sobre pessoas em situação de rua em Maringá, o lado social, a rede de apoio e a dificuldade em ajudar.

  • O ano mudou, mas as notícias são as mesmas: pessoas em situação de rua em Maringá seguem protagonizando cenas de violência e criminalidade. Na última semana de 2022, dois moradores de rua, na famigerada Rua Fernão Dias, foram esfaqueados em meio a discussões, separadas por um breve intervalo de horas. E nesta primeira semana de 2023, o dono de uma padaria na Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto teve o seu estabelecimento furtado quase uma dezena de vezes em poucos meses. Os ladrões? Moradores de rua que perambulam pela região central e na Zona 07 de Maringá.

    Na primeira reportagem da série sobre moradores de rua do Maringá Post, o foco da segurança rendeu considerações ligadas ao policiamento, e a conclusão leva à reflexão: o problema com pessoas em situação de rua vai além e deve envolver mais áreas da sociedade, como a Saúde e a Assistência Social, principalmente. Esse é o viés desta segunda reportagem: os serviços públicos assistenciais oferecidos em Maringá por meio da administração municipal.

    A secretária municipal Sandra Jacovós lidera a Secretaria de Assistência Social, Políticas sobre Drogas e Pessoa Idosa em Maringá. E dentre tantos desafios na pasta, certamente a questão relacionada ao público que experencia a vulnerabilidade social certamente é uma das mais complexas.

    Ao lado do prefeito Ulisses Maia, ela orquestrou, nos dois últimos anos, uma ação que surtiu um efeito elogiável: praticamente zerou as mortes nos dias frios em Maringá graças a uma operação integrada oferecendo abrigo, mantas, alimentação, serviços de higiene pessoal e até acolhimento especializado para os pets que sempre acompanham seus donos em meio aos desafios encontrados por quem opta ou precisa dormir na sarjeta.

    Morador de rua na esquina das Avenidas São Paulo e XV de Novembro, coração de Maringá; manhã chuvosa não incomodou o sono da pessoa em situação de rua. Foto: Wilame do Prado Elias

    Em um ato de vida ou morte, o inverno praticamente obriga os moradores de rua a aceitarem ajuda. Caso contrário, pode ser fatal o sofrimento extenuante das madrugadas frias assistidas pelos maringaenses entre maio e agosto. Mas, e no restante do ano? E nos dias mais quentes, também comuns nesta região paranaense? Sandra comenta que o atendimento fica, então, prejudicado. Muitos sabem que podem contar com serviços de acolhimento, mas preferem permanecer nas ruas.

    “Alguns aproveitam a oportunidade e usam para se inserir na sociedade. Outros, não conseguem se manter por muito tempo, recusam o atendimento ou o encaminhamento. Vale ressaltar que é um grupo heterogêneo. Cada pessoa é única, assim como sua história, seus motivos de estar na rua, seus motivos para querer mudar de vida (ou não) e suas escolhas são respeitadas”, observa a secretária de Assistência Social.

    Sandra esclarece ainda o embasamento jurídico que respalda o direito constitucional de todos do livre arbítrio: “O município de Maringá possui uma rede de atendimento à população em situação de rua robusta, e o trabalho é embasado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual todos têm direito de ir, vir e permanecer. Assim, o usuário é acolhido, sua demanda é ouvida e busca-se promover a construção de novos projetos de vida.”

    O melhor caminho
    Em Maringá, existe uma rede de apoio para quem está em situação de rua e deseja alcançar minimamente a dignidade humana por meio de serviços básicos. E isso vai desde um bom prato de comida, a possibilidade de tomar uma ducha e até um atendimento psicológico, obviamente necessários para as pessoas que estão provando na pele o sofrimento do abandono, da escassez e da desesperança.

    Em entrevista exclusiva para o Maringá Post, Sandra Jacovós comenta que, atualmente, há 204 pessoas em situação de rua em Maringá sendo atendidas pelo Centro de Referência Especializado para População de Rua, o Centro POP, que funciona 24 horas por dia.

    Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua, o Centro POP, que fica na Rua Ten. Afonso Pinheiro Camargo, Vila Progresso. Foto: PMM

    “O local também atende pessoas que estão de passagem por Maringá, e oferece refeições; espaço para higiene pessoal; atendimento com psicólogos e assistentes sociais; encaminhamento para serviços de acolhimento; ajuda para conseguir documentos pessoais; informações sobre trabalho e encaminhamento para a Agência do Trabalhador, entre outros.”

    Sandra explica ainda que esse tipo de atendimento é intersetorial e envolve ações conjuntas das demais secretarias municipais. “O município trabalha para garantir os serviços socioassistenciais e de saúde na efetivação dos direitos desta população”, comenta.

    Todos podem ajudar
    Quando alguém se depara com um morador de rua, infelizmente é comum haver certa repulsa, receio ou medo. Muitos optam por atravessar a rua e seguir na outra calçada. Obviamente que o abismo social assusta e afasta, mas a secretária municipal comenta que é possível auxiliar neste trabalho contínuo de atendimento às pessoas em situação de rua em Maringá fazendo apenas uma ligação. “Caso encontre alguém em situação de rua precisando de ajuda, a população também pode ajudar ligando no (44) 99103-5661”, reforça.

    De repente, a pessoa realmente não aceitará um acolhimento no albergue ou mesmo no Centro POP. No entanto, ela pode estar precisando de aconselhamento ou, via de regra, algum tratamento inicial de saúde. Em Maringá, é oferecido à população em situação de rua atendimentos no Consultório na Rua, no Centro de Atenção Psicossocial, no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas e no Centro de Testagem e Aconselhamento, além das UBS´s e UPA´s.

    AÇÕES EM 2023 PARA MORADORES DE RUA
    – Elaboração da Política de Atendimento à População de Rua, a ser encaminhada para a Câmara Municipal. Caso aprovada, será elaborado, em 2023, o Plano Municipal de Atendimento à População em Situação de Rua

    – Aumento do número de vagas no Portal da Inclusão

    – Ampliação das ações que colaboram para construir o processo de saída das ruas e possibilitar condições de acesso à rede de serviços e benefícios assistenciais, além de promover ações para a reinserção familiar e comunitária

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