Por Vitor Germano
O pastor Fabiano Ribeiro do Nascimento definitivamente não esperava que uma conversa com um amigo na frente de casa terminaria no resgate de nove idosos mantidos de maneira insalubre em um asilo clandestino de Ponta Grossa.
No domingo passado (14), o espaço foi interditado. Segundo a vigilância sanitária, o local funcionava sem documentação, e portanto, de forma irregular.
A interdição só foi possível após uma senhora fugir do local para buscar ajuda e denunciar as agressões que sofria. A idosa saiu do local com uma mala nas mãos, no caminho, ela parou em pelo menos duas casas em busca de socorro e chegou a esperar no portão com a expectativa de ser atendida.
Ela eventualmente achou a ajuda que procurava ao encontrar Fabiano conversando com um amigo em frente a sua casa.
“Ela surgiu pedindo ajuda, relatando que tinha vindo um asilo. Estava bastante assustada, ela tremia bastante e começou a relatar uma história, que estava numa casa em que era muito maltratada e queria ajuda. Eu comecei a conversar com ela, para perguntar como eu poderia ajudá-la. Inclusive, acho que ela falava sobre não ser bem alimentada e era nítido que ela estava em um estado crítico”, contou o pastor à apuração da RPC.
De acordo com Fabiano, ele e a esposa pediram para a idosa entrar na casa. A intenção, segundo ele, era encontrar um familiar da senhora. Porém, neste momento uma mulher se aproximou alegando ser parente dela.
“Surgiu uma moça alegando que era sobrinha dela, só que de uma maneira bastante agressiva. Inclusive eu tive que repreender ela pela agressividade dela. No momento eu pensei que poderia ser pelo nervosismo de uma tia que tinha fugido, idosa, que tinha esse problema.”
Porém, a reação da idosa o fez suspeitar da história alegada pela mulher. Segundo Fabiano, a senhora chegou a se jogar no chão e chorar, afirmando que não queria ir embora com a suposta sobrinha.
Fabiano decidiu acompanhar as duas mulheres para o imóvel onde supostamente moravam, mas ao chegar no local, ele foi impedido de entrar no imóvel.
“Ela [a suposta sobrinha] agradeceu muito. Só que ela se contradisse bastante, porque ela falou no momento que era sobrinha, depois chamou ela de vó. Assim ela denunciou que alguma coisa estava errada. Ela fechou o portão e nesse momento a gente retornou com a ideia de fazer alguma denúncia ou alguma investigação para saber o que realmente estava acontecendo.”
Pouco depois disso, outra vizinha, que optou por não ter a identidade revelada, conta que ouviu agressões, e acionou a Polícia Militar.
“Ela gritava: ‘Socorro, pare! Pare de me bater’. Eram gritos desesperadores. Acho que ela acreditava que naquele momento a cuidadora poderia até matá-la. Dava para ouvir o barulho das pancadas, das agressões. Parecia que ela batia a senhorinha na parede, parece que ela estapeou, parece que dava murros. Era muito alto o barulho da agressão.”
Quando a equipe policial chegou, a idosa foi encontrada em um colchão no chão, precisando de atendimento médico. Além dela, outros 8 idosos também viviam no asilo, em condições precárias, sem camas, comida, nem roupas suficientes.
Segundo a polícia, a mulher que tentou se passar por parente da idosa trabalhava como cuidadora no asilo clandestino.
Agentes da assistência social de Ponta Grossa também foram ao asilo. Lá, identificaram que não só os idosos dormiam em colchões no chão e não tinham guarda-roupas, mas que não havia controle sobre as medicações dadas aos moradores. A inspeção foi feita por volta das 14h, e os idosos relataram às autoridades que não haviam almoçado, e que não havia comida suficiente para todos.
Três idosos foram encaminhados para o hospital com sinais de desidratação. Outras duas idosas relataram que foram agredidas com socos e estavam com medo de continuar no abrigo.
Os moradores foram atendidos pela assistência social e realojados. Cinco estão com familiares. Os outros, aguardam os parentes serem localizados.
Segundo a polícia, a mulher que tentou se passar por uma parente da idosa e a irmã dela, apontada como dona do local, foram presas. Conforme a corporação, as duas mantiveram outro asilo clandestino em Colombo, na região metropolitana de Curitiba.
Foto: Reprodução / Câmera de segurança
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