Criança de oito anos mata o cunhado com tiro acidental

A vítima era atirador esportivo. A esposa dele não soube dizer porque a arma estava carregada e em um lugar onde as crianças podiam alcançar.

  • A vítima era atirador esportivo. A esposa dele não soube dizer porque a arma estava carregada e em um lugar onde as crianças podiam alcançar.
    Foto ilustrativa: Hippopx

    Por José Maria Tomazela

    Um menino de oito anos matou com um tiro acidental o cunhado de 27 quando manuseava a arma dele, no início da noite de segunda-feira, 8, em Jacareí, interior de São Paulo. O homem, que tinha licença de colecionador, atirador esportivo e caçador, o chamado CAC, tinha ido buscar seu filho de 5 anos e o menino, seu cunhado, em uma escola particular no bairro Jardim Leonídia. A arma de fogo estava no banco traseiro do automóvel.

    A pistola estava carregada com 12 projéteis. A bala atingiu a cabeça da vítima e, quando o socorro chegou, o homem já estava morto. Conforme a Polícia Civil, a arma estava com a documentação em dia. O caso foi encaminhado à Delegacia Seccional de Polícia Civil e a apuração será feita pelo 3º Distrito Policial. A ocorrência foi registrada como omissão de cautela e morte acidental.

    O corpo do corretor de imóveis Wanderson Santos, de 27 anos, foi sepultado na tarde de segunda-feira no Cemitério Memorial do Vale, em Jacareí. Familiares e amigos acompanharam o sepultamento em clima de comoção pela tragédia que se abateu sobre a família que participa ativamente de uma comunidade evangélica da cidade, no Vale do Paraíba.

    Ao Estadão, a mulher de Wanderson, Andréia Carollini dos Santos, disse por telefone que o marido tinha feito o curso de tiro e tomava muito cuidado com a arma. Santos deixou mulher e dois filhos – além do menino de 5 anos, uma menina de 2.

    “Ele era cuidadoso, não deixava nunca onde as crianças pudessem alcançar. Não sei mesmo o que pode ter acontecido. Talvez um descuido. É muito difícil dizer nessa hora o que realmente houve”, disse, logo após o sepultamento do marido.

    Evangélica, assim como o marido, Andréia contou que não era de seu agrado que ele tivesse armas. “Mas era um gosto dele e eu não queria contrariar. Agora, estou sem chão, não sei como aconteceu. Foi uma fatalidade, algo inexplicável. Só Deus sabe. Estamos todos muito abalados.”

    INVESTIGAÇÃO

    Durante o registro da ocorrência na Polícia Civil, a mulher da vítima já tinha dito aos policiais que ele sempre deixava a arma guardada em local fora do alcance das crianças e elas tinham sido avisadas para jamais tocarem no armamento. À polícia, a mulher não soube dizer qual o motivo de a pistola, carregada, ter sido colocada no banco traseiro, onde podia ser alcançada pelas crianças.

    Em sua rede social, o corretor de imóveis compartilhava sites relacionados a armamentos, como “Mundo das Armas”, “Militarismo Mundial” e “Eu Amo Armas”. Conforme a Polícia Civil, mesmo com a morte do responsável pela guarda da arma, será aberto um inquérito para apurar todas as circunstâncias da ocorrência.

    De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor desde 13 de Julho de 1990, menores de 12 anos são considerados crianças e são inimputáveis penalmente, ou seja, não podem sofrer nenhum tipo de penalidade. As medidas socioeducativas como a internação na Fundação Casa podem ser aplicadas apenas para adolescentes, que são os menores de 12 a 18 anos.

    POLÍTICA

    Conforme mostrou o Estadão, graças à política que facilitou a aquisição de armas do governo do presidente Jair Bolsonaro, o total de CACs registrados no País saltou de 117.467 em 2018 para 673.818 este ano. O número é superior ao de policiais militares da ativa que atuam no Brasil, que são 406 mil, e supera o efetivo das Forças Armadas, de 360 mil soldados

    Para Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz, houve muita facilitação do acesso às armas no governo federal. “Foram quase 40 atos normativos, entre decretos, portarias e resoluções, tudo para facilitar o acesso de armas para o civil, sobretudo para essa categoria dos CACs.” No caso de Jacareí, a pessoa identificada como CAC estava portando a arma de forma irregular, segundo ela. “O porte é autorizado no caso do atirador desportivo quando ele se desloca da casa dele para o clube de tiro, e não era o caso. Vimos que isso tem sido utilizado como subterfúgio para que o atirador tenha o porte irrestrito, como foi nesse caso. Nada justifica o atirador estar com a arma na frente da escola e com duas crianças no carro.”

    Estadão Conteúdo

    Comentários estão fechados.